quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

(8)-JAINISMO MAHAVIRA

Entre os 500 e 400 anos a.C., no mesmo século em que se desenvolveu o budismo, surgiu na Índia o Jainismo Maravira. Essa religião, segundo os Puranas, teria nascido pelas mãos do rei Rishabha, filho de Nabhi e Merudevi. Este rei, segundo o Bhagavata Purana, seria uma reencarnação de Vishnu.
É relatado que o momento mais importante da vida deste soberano teria sido quando seus filhos, por entenderem que deviam se precaver contra as ilusões da matéria, passaram a afirmar que não se devia desperdiçar a vida correndo atrás das coisas deste mundo, porque ela era muito preciosa para isso. “Temos que usá-la para aprendermos a nos desvencilharmos da matéria”, afirmavam.
Rishabha, para dar o bom exemplo, no fim da sua vida se transformou em um avadhuta - uma criatura socialmente inexistente - passando a morar em uma floresta onde morreu vitima de um incêndio. Seus ensinamentos, porém, através do seu filho Bharata, prosperaram tanto que no tempo se tornou famoso e respeitado a ponto de seu país, a Índia, passar a ser chamado Bharatavarsha. Até hoje os indianos chamam a sua terra natal com este nome.
Até então, o Jainismo Maravira permanecera atrelado aos preceitos Védicos, no entanto, sublinhava mais enfaticamente a importância da austeridade e da não violência.
Anos depois, estes ensinamentos, foram modificados pelo rei Arhat - ele havia conhecido pessoalmente o rei Rishabha - para se curar após ter sido mais uma vitima da ilusão materialista.
Neste período, fortalecida, a religião se transformou em uma filosofia contraria ao vedicismo, desse modo, considerada herética, foi chamado “Jaina”. O livro Vishnu Purana relata a historia deste acontecimento.
Os conceitos originais da doutrina posteriormente sofreram alterações introduzidas por Vardhamana - mais conhecido por Mahavira – assumindo, em sua versão definitiva, o nome Jainismo Mahavira.
Mahavira nascera perto de Videha por volta do ano 450 a.C., e ao que consta, era parente de Bimbisira, rei de Magadha, que por sua vez tinha sido um dos mais importantes gurus de Buda. Mahavira havia vivido normalmente até que seus pais faleceram, então, com trinta anos, abandonou tudo e começou a viajar pela Índia onde, predicando entre os Magafha e os Videha, passou a ser conhecido como o jina - o vitorioso. Mahavira, como tantos outros, também não deixou nada escrito, mas as idéias que lhe são atribuídas constam de cânones escritos em língua prakrita.
Acredita-se que nos séculos sucessivos foram acrescidas novas teorias, porque até aquele momento os ensinamentos jaina sempre haviam sido transmitidos verbalmente. No VIII século d.C. houve uma importante cisão entre os seguidores dessa religião dividindo-se em: svetambara - os que se vestem de branco - e os digambara - os que se vestem do céu, em outras palavras, os que fazem o voto de nudez.
Apesar das duas seitas divergirem em pontos menores, se mantiveram de acordo em relação ao “Tattavarthadigama-sutra”, o guia de entendimento da verdadeira relação entre as coisas, criado por Umasvati provavelmente do quinto século da era crista.
Os sete conceitos fundamentais da doutrina são:
1) Jiva é a alma espiritual.
2) Ajiva é o ser sem alma, portanto, só matéria.
3) Asrava, os fluídos de jiva.
4) Bandja, os liames que a amarram ao ilusionismo.
5) Samvara, a defesa das influências negativas.
6) Nirjara, a extirpação do mal.
7) moksha, a libertação.
A primeira e a segunda são as condições básicas para ter vida, enquanto que as cinco restantes são as diferentes situações com as quais jiva, a alma espiritual, tem que se confrontar.
Mahavira assegurava que jiva – alma - é eterna, individual, inteligente e ativa, e todas as almas (espíritos), fazem parte da mesma natureza espiritual, ou seja, as mesmas idéias Védicas.
No que diz respeito a adjiva, o corpo sem alma - a substância material - ele é composto de três espécies de éter:
· O espaço (akasha).
· O movimento (dharma).
· A inércia (adharma),
Enquanto são três as energias que permitem à vida:
· Fluído cósmico: a energia do universo da qual tudo foi criado.
· Fluído magnético: a força da mente.
· Fluído animal: o fluido gerado pela integração do cósmico com o magnético.
A integração do fluido magnético com o fluido animal gera o princípio vital, e este é complementado por outros dois fatores: o tempo (Kala), e a matéria grossa (pudgala). Esta ultima formada por átomos que se transformam nos corpos físicos de tudo o que existe.
Segundo a doutrina jaina, a simbiose entre a matéria e o espírito (jiva e ajiva) é tão perfeita que originou o homem.
Juntada a alma ao corpo, por contaminação aparece o Karma, de acordo com este processo:
1- A matéria cuidando dos conhecimentos e do entendimento da alma em relação ao que é verdadeiro.
2- Produzindo a sensação de dor ou prazer.
3- Deturpando a verdadeira fé e a conduta reta.
4- Permitindo uma existência limitada a varias formas de vida.
5- Envolvendo a criatura viva composta de propriedades físicas e psíquicas.
6-Determinando a situação que cada ser merece no momento de nascer de acordo com o respectivo Karma.
7-Atribuindo obstáculos à energia que é própria de jiva considerando a sua natureza.
Assim, na junção dos opostos, jiva - corpo espiritual, com ajiva - corpo material, pelo fato da verdade sempre ser de natureza superior, temos: na “energia espiritual”- a verdade, e na “energia material”- a mentira.
É o conteúdo da ação, ou seja, a bondade ou a maldade praticada, que determina à alma as conseqüências que lhe correspondem. Desse modo o sábio, ao mesmo tempo em que deve evitar as ações que lhe trariam como conseqüência um novo Karma negativo, deve, através dos seus atos, libertar-se daquele que mereceu em sua encarnação anterior que está inserido no seu cerne. Por este motivo o indivíduo deve praticar virtuosidades ao longo de toda a sua vida (o que corresponde ao cumprimento de todos seus deveres morais para defender o “samsâra”) enquanto que as praticas acéticas são necessárias para extirpar o “nirjara” do Karma existente.
Os quatros mandamentos da doutrina jaina são:
1. Não agrida, danifique ou faça qualquer coisa que seja, no sentido negativo claro, contra a vida de ninguém, entendendo com isso homens, animais, plantas ou o meio ambiente, porque tudo tem uma alma.
2. Dizer sempre a verdade.
3. Não roubar.
4. Não acumular riquezas.
Para os ascetas existem mais dois mandamentos:
5. A castidade.
6. a nudez.
Além disso é imprescindível à austeridade, e esta se subdivide em duas categorias: a interna e a externa. A primeira consiste no jejum, na pratica do yoga e na meditação. E a segunda é constituída pela contemplação intensiva.
Através desses meios o Karma é anulado e a alma, atingindo o moksha, se liberta. Para todos, porém, as características mais importantes são: a não violência, o respeito à vida e a adoção de uma alimentação estritamente vegetariana.

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