quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

(7)-HINDUÍSMO

A Índia é uma região da Ásia meridional constituída por um vasto triangulo limitado ao norte pelo Himalaia, que a separa do Tibete, e ao leste à península indochinesa que compreende a União Indiana: o Paquistão, o Butã, o Nepal e Bangla Desh.
Segundo a historia, por volta de 3000 anos a.C., no vale do Indo – grande rio da Índia e do Paquistão que se lança no mar de Omã formando um delta de 3040 Km. - desenvolveu-se a mais antiga civilização da Índia, civilização esta que foi destruída entre 1000 a 1500 anos depois pelos Aryas, ditos indo-citas, vindo dos altiplanos do Irã trazendo o cavalo, a metalurgia do ferro e um sistema social fundado em casta que foi imposto imediatamente. Foi nesta epoca que foram redigidas as escrituras religiosas hindus, os Vedas.
Os persas e os gregos invadiram alternativamente a Índia. Dario I ocupou Gandara e o baixo indo no fim do século Via.C., e Alexandre Magno percorreu suas margens, sem conseguir colonizar a área devido a ação de Chandragupta, aquele que fundou a dinastia Mauria entre os anos 313 a 185 a.C.
Seu principal soberano, Açaka, convertido ao budismo, constituiu um vasto império. Contudo, os gregos instalaram-se no Pendjab e em Bactriana.
Desmembrada no III século d.C., depois reunificada pela dinastia dos Guptas no centenário seguinte, a Índia conheceu então um período de grande prosperidade que findou com a invasão dos hunos no século VI.
Harsha - 606 a 647 – o unificou uma vez e os reinos que se formaram em seguida foram alternadamente destruídos pelos turcos que apareceram na Índia no século VIII. Alem disso, dinastias muçulmanas se impuseram no Pendjab no Século XI, e em Delhi e Bengala no século XII, mas foram destruídas por Timur Lang. O império Mongol restabeleceu a unidade da Índia mas foi no século XVII que o país atingiu a sua maior expansão.
Antes disso, os portugueses, encorajados pela expedição de Vasco da Gama em 1498, foram os primeiros a desenvolver o comercio com a Índia e detiveram o monopólio desse comercio durante o século XVI. Em seguida, começaram a sofrer a concorrência dos holandeses, ingleses e franceses. No século XVIII, estes dois últimos, atraídos pela decadência dos Mongóis, disputaram a conquista da península. Dupleix, governador de 1741 a 1754, estendeu o protetorado francês ao Decã.
Com Clive, a influencia inglesa substituiu a da França no Carnático e em Bengala, e o tratado de Paris, em 1763, limitou a cinco feitorias as possessões francesas: Pondichéry, Chandernagor, Yanaon, Karikal e Mahé. W.Hastings e Wellesley completaram a obra de Clive.
Depois de ter vencido a resistência de Tippo Sahib, sultão do Misore e dos Maratas, e dominado a revolta dos sipaios em 1857, a Companhia das Índias inglesa teve que ceder seus direitos à coroa. Dessa maneira, em 1877, a rainha Vitória foi proclamada imperatriz das Índias.
O império britânico das Índias, entretanto, foi logo perturbado pelos movimentos nacionalistas, e suas manifestações autonomistas foram violentamente reprimidas. Gandhi, então, tornou-se o chefe da resistência à Inglaterra. Esta, pela constituição de 1935, outorgou à Índia certa autonomia, mas as discórdias entre muçulmanos e indianos acentuaram-se. Depois da segunda guerra mundial a Inglaterra teve que aceitar, em 1947, a divisão da Índia em dois domínios: o Paquistão muçulmano e a União Indiana, povoada sobretudo por indianos.
Foi na Índia ariana que se desenvolveu o hinduísmo, a religião mais antiga do mundo, e nele, “Brahma”, personificando o todo foi considerado o criador do mundo material, dos deuses, dos homens e das escrituras sagradas que são os Vedas. Brahma é associado a uma trindade – trimurti - representada por Siva, Vishnu e Devi.
As escrituras Hindus, também chamadas Shastras: “instruções” ou “tesouros do conhecimento” dividem-se em Shruti - o que foi ouvido de Deus, Smriti - os textos que contem as explanações sobre os Shruti e os Upanishads, que são os textos explicados pelos sacerdotes.
As escrituras afirmam que os testos védicos originais foram transmitidos verbalmente por Brahma e ouvidos diretamente por uma casta de sacerdotes muito elevada que depois os transmitiram na língua sânscrita. Os demais textos, depois dos vedas, são chamados Smriti, porque são comentários a respeito dos vedas.
Os Vedas são as mais antigas escrituras religiosas do mundo, são os escritos originais do Aruanadharma, a civilização Ariana.
O sânscrito, a língua que os Arianos falavam e escreviam, era uma linguagem muita bem organizada e estruturada. Mesmo assim, os ensinamentos ministrados pelos sacerdotes, que sempre se relacionavam aos cerimoniais relativos ao sacrifício do fogo, aos rituais de adoração aos deuses e aos hinos Yajurveda, Rigveda, Samaveda e Atharvaveda, sempre foram verbais.

Dos espíritos degredados no ambiente da Terra, os que se gruparam nas margens do Ganges foram os primeiros a formar os pródromos de uma sociedade organizada, cujos núcleos representariam a grande percentagem de ascendentes das coletividades do porvir.
As organizações hindus são de origem anterior à própria civilização egípcia e antecederam de muito os agrupamentos israelitas, de onde saíram mais tarde personalidades notáveis como Abrão e Moises.
As almas exiladas naquela parte do Oriente muito haviam recebido de misericórdia do Cristo, de cujas palavras de amor e de cuja figura luminosa guardaram as mais comovedoras recordações, traduzidas na beleza dos Vedas e dos Upanishadas.
Foram elas as primeiras vozes da filosofia e da religião no mundo terrestre, como provindo de uma raça de profetas, de mestres e iniciados, em cujas tradições iam beber a verdade os homens e os povos do porvir, salientando-se que também as suas escolas de pensamento guardavam os mistérios iniciáticos, com as mais sagradas tradições de respeito.
Era na Índia de então que se reuniam os arianos puros, entre os quais cultivavam-se igualmente as lendas de um mundo perdido, no qual o povo hindu colocava as fontes de sua nobre origem. Alguns acreditavam se tratasse do antigo continente da Lemuria, arrasado em parte pelas águas dos Oceanos Pacifico e Indico, e de cujas terras ainda existem porções remanescentes, como a Austrália.
Fonte: livro “A Caminho da Luz” pelo espírito Emmanuel
e psicografado por Francisco Candido Xavier.

Para conhecer os primeiros ensinamentos religiosos transmitidos à humanidade basta ler os textos da obra de Ramananda Prasad, o Bhagavad-gita - a canção do Senhor - onde de certa forma são antecipados alguns dos ensinamentos que Jesus traria pessoalmente à humanidade milhares de anos depois. Contudo, considerando que é inexeqüível reportarmos a integra das escrituras védicas, nos limitaremos a uma pequena parte.
Nessa obra é explicitado que foi doada à humanidade pelo Criador, para que nela os homens pudessem ler suas mensagens, uma vez que se recusavam a decodificar as originais que estão esculpidas desde a noite dos tempos no imo de todas as almas.
Ele, que só agracia aqueles que através de seu próprio esforço continuam galgando os degraus da infindável escada de luz que moldou para que o homem atinja a perfeição, permanece aguardando aqueles, infelizmente ainda a grande maioria da humanidade, que se recusando a entender e aceitar, enquanto na carne, que a vida para ser vivida harmonicamente não requer valores materiais, mas espirituais, tem que passar mais uma vez pelo túmulo para lembrar destas verdades. O alem tumulo, suave e ameno como uma flor primaveril para os que se prepararam para ele, é muito amargo e solitário para todos os demais.
A síntese, a suprema compreensão a que um dia todos chegarão, é que o mundo - as coisas que nos rodeiam e a nossa própria vida - só têm um objetivo: o de amar a Deus acima de tudo e de todas coisas. Amar, renunciando totalmente ao gozo dos sentidos e dedicando a ele todas as ações. Estes são alguns dos versos das escrituras Védicas
As pessoas não necessitam deixar de fazer seus afazeres do dia a dia para tornarem-se devotos de Deus. O próprio Senhor Krishna diz no Bhagavad-gita, 3.9,
A ação deve ser para Vishnu (espírito conservador do universo), de outro modo ficas cativo do Karma (da ação) neste mundo. A ação atenta, assim associada, é perfeita e assim sendo te liberta.
Se todas as ações forem executadas com o objetivo de satisfazer o Supremo então não haverá mais sofrimento. Sriman Ramananda traduziu este verso assim:
”Os seres humanos ficam atados ao cativeiro do Karma das suas ações, a não ser que aquelas sejam feitas como um serviço desapegado (Seva, Yajna). Portanto, o Arjuna, torna-te livre do apego egocêntrico dos frutos do trabalho e faças as tuas obrigações eficientemente como um serviço a Mim”.
Como se percebe, as ações direcionadas ao Senhor estão livres da reação do Karma, desse modo, é fácil entender que a essência do sofrimento reside no fato de estarmos sempre agindo com a finalidade de satisfazer nossos interesses individuais, e por redundância egoístas. Se assim não fosse, não haveria sofrimento.
Se entendermos que nascer e morrer são eventos cíclicos, e que o desejo de desfrutar as coisas que o mundo material oferece é a causa do sofrimento, torna-se evidente que o livre arbítrio deve estar sempre voltado a agir de forma altruísta, portanto, desinteressadamente. Deste modo, apenas a misericórdia do Senhor permanece, e na sua imensa bondade nos oportuniza o caminho para retornar a Ele.
O Gita é uma doutrina sobre a verdade universal. Sua mensagem é sublime e não sectária, embora ele seja uma parte da trindade escritural do Sanathana Dharma, normalmente conhecido como Hinduismo.
O Gita é muito fácil de ser entendido por uma mente madura. Uma leitura repetida com fé revelará todas as idéias sublimes que contém. O Gita trata da mais sagrada ciência metafísica. Ele transmite o conhecimento do Ser e responde a duas questões universais: Quem sou eu, e como posso conduzir uma vida pacifica e feliz neste mundo de dualidades.
Ele é um livro de Yoga, de crescimento moral e espiritual, destinado à humanidade que se norteia pelos princípios cardeais da religião Hindu.
A mensagem do Gita chegou a humanidade por causa da duvida de “Arjuna” em relação ao fato que, como guerreiro, lhe cabia guerrear, destruir e matar.
A não violência, “Ahimsa” em hindu, é o principal fundamento do hinduísmo, uma vez que a vida, humana ou não, é sagrada.
Este imortal discurso, descrito no Mahabharata entre o Senhor Supremo, ”Krishna”, e seu devoto Arjuna, não acontece em um templo, numa floresta reclusa, ou no alto de uma montanha, mas num campo de batalha na véspera de uma guerra.
No Gita, o Senhor Krishna avisa Arjuna para erguer-se e lutar. Isto provavelmente pode gerar um mal entendido em relação ao princípio do Ahimsa se o motivo da guerra do Mahabharata, em seguida descrito, não for levado em consideração:
“Nos tempos antigos houve um rei que tinha dois filhos, Dhritarashtra o primeiro e Pandu. Como o mais velho nasceu cego, Pandu, o mais novo, herdou o reino.
Pandu teve cinco filhos que foram chamados Pandavas, e o irmão cego teve cem filhos que foram chamados Kauravas. Destes, o primogênito chamou-se Duryodhana.
Após a morte do rei, Pandu e seus filhos Pandavas tornaram-se os reis de direito, mas Duryodhana, o primogênito ciumento dos Kauravas também o queria. Para acomodar a situação o reino foi dividido em duas partes, uma para os Pandavas e a outra para os Kauravas. Duryodhana, entretanto, não se satisfez com a decisão, porque desejava a posse do reino inteiro. Para conseguir seu intento arriscou matar os Pandavas, mas o insucesso dessa ação o levou a se apoderar ilegalmente de todo o reino, recusando-se a devolver nem que fosse um único acre de terra aos Pandavas. O Senhor Krishna tentou mediar a situação, mas como não teve êxito, para Arjuna, um dos cinco irmãos Pandavas, sobravam duas únicas opções: guerrear para reconquistar pela força os bens que eram seus por direito ou abrir mão deles em nome da paz e da não violência. Esta foi à situação embaraçosa que Arjuna teve que enfrentar no meio do campo de batalha. Entretanto, é um dilema é universal, porque todos os seres humanos, diariamente enfrentam situações semelhantes a níveis individuais, familiares ou profissionais, ou ainda como grupo ou país, independentemente destes dilemas serem grandes ou pequenos, quando agem para defender o que julgam que são seus direitos. No caso de Arjuna, no entanto, o dilema implicava em assumir uma grande responsabilidade: Escolher entre deflagrar uma guerra e conseqüentemente matar seus mais reverenciados gurus, seus mais queridos amigos e parentes próximos, alem de muitos guerreiros inocentes, ou fugir do campo de batalha para preservar a paz e a não violência.”.
O Gita é composto por setecentos versos que recompõem o dialogo mantido entre o Senhor Krishna e o confuso Arjuna no campo de batalha de Kukukshetra, local próximo à Nova Delhi, na Índia, cerca de 3000 anos a.C., dialogo este que foi repetido ao sábio rei Dhritarashtra pelo seu cocheiro Sanjaya que havia sido uma testemunha ocular da guerra.
O principal objetivo do Gita é ajudar as pessoas que lutam na escuridão da ignorância, cruzando os oceanos da morte e conseqüente reencarnação, a atingirem a costa espiritual da libertação enquanto encarnados.
O conteúdo central do Gita é destinado a ensinar como se consegue a liberdade e alegria, mesmo enquanto na carne, porque deixa claro que a gloria – qualquer que seja a sua concepção – deve ser buscada sempre na grandeza do Criador. Buscando nele, também, a força necessária para o eficiente cumprimento dos deveres, sem contudo se apegar ou ser afetado pelos resultados que são obtidos, mesmo que a obrigação demande, uma vez ou outra, em violência, desde que essa seja inevitável.
Algumas pessoas negligenciam suas responsabilidades enquanto encarnadas ou desistem delas em favor das satisfações materiais, esquecendo que devem se elevar espiritualmente, desculpando esta atitude alegando não possuem os meios ou tempo para fazê-lo. No entanto, a mensagem do Senhor é clara: A obra da vida deve ser purificada enquanto em vida, não importando o que a criatura deva fazer para conseguir isso, pois em verdade não há nenhum esforço impossível inserido nesse processo.
As responsabilidades, sem entrar no mérito de quais forem, devem ser exercidas com o estado de espírito adequado, entendendo-as como sendo um trabalho realizado para Deus e para a humanidade, independentemente de ter ou não beneficio próprio. E para que o estado de espírito seja adequado é imprescindível purificar o corpo, a mente e o intelecto através de uma disciplina pessoal que foque a boa conduta e o trabalho desapegado. A pratica da yoga, a meditação, a oração, os rituais, o estudo das escrituras, a peregrinação e a auto-inquirição são o caminho que permite estas realizações.
Através da purificação da mente, em outras palavras, do crescimento espiritual, deve ser abandonada a luxuria, a ira e a avareza, melhorando assim o controle sobre os seis sentidos: audição, tato, visão, gustação, olfato e mente.
Jamais deve ser esquecido que todas as tarefas são sempre realizadas pela energia da natureza, por isso as pessoas não são agentes, mas simples instrumentos.
É imprescindível perseguir sempre o aperfeiçoamento pessoal, porque só através dele consegue-se alcançar a eficiência máxima em todas as tarefas realizadas. Jamais esquecendo, entretanto, que é imprescindível que o individuo se mantenha disciplinado se deseja evitar o descontrole emocional, independentemente do resultado que consegue ter: sucesso ou fracasso, ganho ou perda, dor ou prazer.
A ignorância do conhecimento metafísico é para a humanidade uma grande deficiência. Uma escritura, sendo a voz da transcendência, não pode ser traduzida. A linguagem é incapaz e as traduções são defeituosas para transmitir claramente o conhecimento do absoluto. De acordo com as escrituras, somente aquele que as lê consegue ponderar e praticar os ensinamentos do Gita com a fé e a devoção necessária para conseguir atingir o objetivo que é o “Moksha” ou “Nirvana”.
O conhecimento transcendental.
(2.01)-Sanjaya disse: O Senhor Krishna disse as seguintes palavras ao abatido Arjuna que, sob o efeito do desespero estava lagrimejando.
(2.02)-O Senhor Krishna disse: Como pode a tristeza envolver você nesta conjuntura? Isto não é adequado para uma pessoa de ação e mente nobre. Estas condições em que você se encontra, Arjuna, não conduzem ninguém aos céus.
(2.03)-Não se torne um covarde, Arjuna, porque isto não é adequado para você. Livre-se desta fraqueza do seu coração e levante-se para a batalha. Arjuna, contudo, continua seu raciocínio contra a guerra.
(2.04)-Arjuna disse: como poderei golpear meu avo, meu guru, e todos os outros parentes que são merecedores do meu respeito com fechas na batalha, Ó Krishna?
(Arjuna possui um ponto valido. Na cultura védica, gurus, o idoso, pessoas ilustres e todos os superiores devem ser respeitados. Ninguém deve lutar, brincar ou dizer palavras sarcásticas aos seus superiores, mesmo se for ferido por eles. Mas as escrituras também dizem que qualquer um que esteja engajado em atividades abomináveis, ou apoiando o pecado contra seus semelhantes, não merece ser respeitado, mas punido.)
(2.05)-Acredito que é melhor viver de esmolas do que matar estas nobres personalidades, porque as matando, mesmo se eu terei riqueza e prazer, terei as mãos manchadas com seu sangue.
(2.06)-Eu não sei qual é a melhor alternativa para mim. Devo lutar ou abandonar tudo, mesmo porque, no fim da luta, tanto posso ser o vencedor como o perdedor. Nem mesmo sei se vou desejar continuar vivendo depois de matar meus primos e todos os que compõem seu exército, esse que está diante de mim.
(Arjuna é incapaz de decidir o que fazer. Diz-se que a experiente orientação de um guru - o conselheiro espiritual - deve ser procurada durante os momentos de crise. Sendo assim, Arjuna pede á Krishna que o oriente.)
(2.07)-Meus sentimentos estão sendo perturbados pela piedade e a minha mente está confusa em relação as minhas obrigações (Dahrma). Por favor, diga-me o caminho que devo seguir. Eu sou seu discípulo e sendo assim, me abrigo em você.
(Nota: “Dharma” pode ser definido como o governo da lei eterna para fortalecer as criaturas e manter a ordem do mundo. Ele é o eterno relacionamento entre o criador e suas criaturas. Ele também significa o caminho da vida, doutrina, princípio, dever prescrito, retidão, reta ação, integridade, conduta ideal, hábito, virtude, natureza, qualidade essencial, mandamentos, princípios morais, verdade espiritual, espiritualidade e uma função dentro da ordem das escrituras ou da religião.)
(2.08)-Eu não entendo como aquilo que posso ganhar vencendo a batalha, mesmo se é um rico, prospero e incomparável reino na Terra, pode remover a aflição que está turbando meus sentidos.
(2.09)-Sanjaya reportando o dialogo ao seu rei, disse: Arjuna, após ter verbalizado estas palavras para o Senhor Krishna, repetiu: Eu não irei lutar! E silenciou.
(2.10)-Meu rei, continuou Sanjaya: o Senhor Krishna, então, sorrindo disse as seguintes palavras ao angustiado Arjuna enquanto permanecia no meio dos dois exércitos: Os ensinamentos do Gita começam dizendo que o individuo deve manter sempre um perfeito controle mental e físico sobre ele mesmo.
(2.11)-O Senhor Krishna disse: ”Eles não são merecedores do seu lamento, dessa forma seu pesar é indevido” O sábio jamais se lamenta, seja pelos vivos como pelos mortos.
(KaU 2.22)- As pessoas se encontram e se despedem deste mundo como duas peças de madeira flutuando rio abaixo, reunindo-se e se separando uma das outras inúmeras vezes (MB 12.174.15). O sábio que conhece que o corpo é mortal e que o espírito é imortal, jamais tem razões para se lamentar.
Nota: O Ser (ou Atma) também chamado alma ou consciência, é a origem da vida e tem o poder cósmico por detrás do seu complexo corpo-mente. Do mesmo modo que um corpo se acomoda no espaço, o nosso intelecto, pensamentos, emoções e psique, se acomodam no espaço da nossa consciência. Ela não é percebida pelos nossos sentidos físicos – conscientes - porque está muito além do domínio que exercemos sobre ele. O consciente foi desenvolvido para a compreensão só do que é físico.
A palavra “Atma” foi usada no Gita para definir o ser interior, ou seja, a mente, os sentidos, a psique, o intelecto, a alma ou espírito e neles os sentidos sutis que devem sempre se relacionar com o Ser eterno (Brahman), que é a verdade absoluta.
(2.12)-Jamais existiram épocas nas quais os monarcas, você ou eu mesmo não tenhamos existido, e muito menos deixaremos de existir no futuro.
(2.13)-Da mesma forma que a alma adquire um corpo na infância e este passando a juventude chega à velhice durante a sua permanência na carne, depois da morte adquire outro corpo. Isso deve ser claro para um sábio.
(2.14)-As reações dos sentidos materiais em relação aos valores materiais causam sentimentos de dor ou prazer, raiva ou amor, alegria ou sofrimento, da mesma maneira que o corpo físico sente o frio e o calor. Por serem transitórios, portanto não permanentes, devem ser suportados corajosamente.
(2.15)- Porque só a criatura que se mantem tranqüila, harmonizada com ela mesma e com o Criador, em outras palavras, a que consegue não se afligir com a dor e nem se exaltar com o prazer, está em condições de subir a escada que leva a Ele.
(Nada fere o individuo que treina sua mente para se manter harmonizada em si mesma e com o Maior, considerando que ela é a verdadeira essência da vida, independentemente dos opostos que tiver que vivenciar ao longo da sua vida: alegria ou tristeza, prazer ou dor, perda ou ganho etc. O mundo fenomênico não pode existir sem os opostos. O bem e o mal ou a dor e o prazer, jamais deixarão de existir. A vida pode ser comparada a um imenso playground que tem a finalidade de oferecer constantes desafios para as almas encarnadas. Para utilizá-lo, há sempre necessidade de dois jogadores, de dois grupos ou de duas ou mais pessoas que defendam interesses distintos e assim por diante. Assim, mesmo se os dois melhores amigos ingressam neste playground, inevitavelmente se tornam inimigos durante o jogo, porque na verdade cada um vai dar o melhor de si mesmo para ser o vencedor. O verdadeiro desafio, no entanto, não é o jogo em si mesmo, porque, como sempre há um vencedor e um vencido, reside em como o perdedor aceita a derrota. Se não estiver preparado para perder pode transformar o amigo em um inimigo. No playground das reencarnações estes “jogos“ começam imediatamente depois do berço e se estendem até à véspera do tumulo e, por serem contínuos, constantemente há um perdedor. Assim, como os opostos jamais deixarão de existir, deve-se aprender a recebê-los e com eles conviver como se coexiste com as vitórias que sempre se intercalam com as derrotas.
Em todos os cenários da vida haverá sempre os que usufruirão a alegria antes, mas estes também, inevitavelmente, conhecerão a tristeza depois, porque ambas as experiências - a positiva e a negativa - são necessárias para o crescimento espiritual. A cessão da dor traz a alegria e a cessão da alegria resulta em dor. Deste modo a dor nasce do útero da alegria, a paz nasce do útero da guerra e a tristeza existe por causa do desejo de felicidade. Assim, se o “desejo de felicidade” - qualquer que ele seja - desaparece, desaparece também a tristeza. A tristeza é somente o prelúdio da felicidade, assim como a felicidade é o preâmbulo da tristeza.
Mesmo a alegria de “estar no paraíso” é seguida pela tristeza de ter que “retornar para a Terra”. Portanto, os objetos materiais não devem ser a meta da vida humana. Se alguém prioriza o prazer material em detrimento do espiritual em verdade está se desligando das irradiações divinas para se conectar ao veneno das irradiações infernais.
As mudanças são leis da natureza – mudança do verão para o inverno, assim como da primavera para o outono, como da luz da lua cheia para a escuridão da lua nova. Nenhuma dor ou prazer duram eternamente. É como se o prazer fosse a antecâmara da dor e a dor a do prazer.
Refletindo a este respeito, aprende-se a tolerar os golpes do tempo com a dose de paciência adequada para que essa mesmo se torne um balsamo curativo para qualquer dor).
(2.16)- Enquanto o ser invisível -Atma, Atman, alma, espírito, força vital etc - é eterno, o corpo visível, físico, é transitório e passa por mudanças. A realidade destes dois fatos é visível para os videntes e assim estes sabem que nos não somos corpos físicos, mas espíritos.
(O Ser sempre existiu, continua existindo e prosseguirá existindo ao longo de todos os tempos, ou seja, o passado, presente e futuro. O corpo humano, assim como o universo, possue uma existência temporária mesmo se parece permanente numa primeira impressão. O dicionário Webster define o Atman ou Atma como a “alma do universo” da qual todas as almas derivam e para a qual todas retornam. O Atma é também chamado “Jivatma”, ou “Jiva”, e é a origem de toda a personalidade individual. No hinduísmo, o “eu” ou “alma” tanto pode significar a totalidade das funções do organismo como uma entidade supracorporal que só pode ser atingida quando superada a realidade corpórea do indivíduo concreto, confundindo-se este com Brahma. Nosso corpo físico está sujeito ao nascimento, crescimento, maturidade, reprodução, decadência e morte; enquanto que o Ser é eterno, indestrutível, puro, único, todo conhecedor, substrato, imutável, alto-luminoso, a causa de todas as causas, todo penetrante, inafetável, imutável e inexplicável.)
(2.17)-O espírito, pelo qual o universo todo esta impregnado, é indestrutível. Ninguém pode destruir o espírito porque ele é imperecível.
(2.18)-O corpo físico, por não ser eterno, não só é mutável ao longo da sua jornada, mas um dia morre. Só o espírito é imortal. Portanto, Arjuna, enquanto guerreiro você deve lutar.
(2.19)- Os que pensam que o Espírito morre, ou os que acreditam que o Espírito mata, são ignorantes, porque o Espírito nunca mata nem é morto.
(2.20)- O Espírito nunca nasce e nem morre em qualquer tempo; nunca vem a ser ou cessa de existir. Ele é não nascido, é eterno, permanente e originário. Ele não se extingue quando o corpo se extingue.
(2.21)- Ó Arjuna, como pode uma pessoa que pensa que o espírito é indestrutível, eterno, não nascido e imutável, matar alguém, ou fazer com que alguém seja morto? Só o corpo físico do inimigo jaz inerte no campo de batalha depois que é destruído.
(2.22)- Assim como uma pessoa se despe da sua roupa para dormir, vestindo outra similar no dia seguinte para retornar a exercer suas tarefas, da mesma forma o espírito abandona o corpo físico que “vestiu” quando finda sua jornada no plano material, para “vestir” outro análogo para viver no mundo espiritual.
(O Corpo físico também pode ser comparado a uma prisão, um veículo, uma residência, bem como uma roupa corpórea sutil que necessita ser trocada freqüentemente. A morte é a separação do corpo sutil do corpo físico quando este desce ao tumulo. O espírito, a verdadeira entidade viva, é um eterno viajante. Depois que abandona o corpo de carne permanece no mesmo cenário em que vivem aqueles que ama, para depois iniciar uma longa jornada no plano espiritual. A vida é contínua e infinita. A morte, mesmo sendo inevitável, não é o fim da vida, é somente o final de algo perecível, o corpo físico)
(2.23.24)-As armas não podem cortar o espírito assim como o fogo não pode queimá-lo, a água molhá-lo ou o vento secá-lo. O Espírito não pode ser cortado, queimado, molhado ou seco. Ele é eterno, todo penetrante, imutável, imóvel e original. O Atma está além do espaço e do tempo.
(2.25)-O Espírito, como eu disse, é imperecível, incompreensível e imutável. Assim, sabendo que estas são as características do espírito, você não deve lamentar-se pelo corpo físico.
(No verso anterior Krishna diz que não devemos nos preocupar em relação ao espírito porque ele é indestrutível. Uma questão pode ser levantada a respeito: Deverá alguém se lamentar de alguma maneira pela morte (do corpo destrutível) dos seus familiares? A resposta sucede-se)
(2.26.27)- Se você entender que o corpo físico nasce e morre em ciclo continuo, então, o Arjuna, não deve ter medo de matar se a causa for justa, porque a morte, sendo algo liquido e certo para todos os que nascem, não é você que a provoca em um campo de batalha, na pior das hipóteses você só a antecipa. Portanto, pare de se lamentar.
(Não se deve lamentar a morte, nem mesmo daqueles que se amam porque a lamentação é devida ao apego, e o apego amarra a alma individual na roda da transmigração. Portanto, as escrituras sugerem que não se deve enlutar, mas orar por vários dias após a morte do corpo para a salvação da alma que dele saiu. A inevitabilidade da morte e a indestrutibilidade da alma, de qualquer forma, não justificam a matança por uma razão injusta ou mesmo o suicídio. As escrituras Védicas são muito claras a este respeito, seja de seres humanos como de qualquer outra forma de vida. As escrituras dizem: Ninguém deve cometer violência contra qualquer um. Matar desnecessariamente, ou por causas injustas, significa assumir um debito e com este uma punição. A exceção, Ó Arjuna, é quando se mata em combate – não para matar de forma libertina – mas para estabelecer a paz, a lei e a ordem por sobre a terra, de acordo com o dever de um guerreiro.)
(2.28)-Todos os seres espirituais são invisíveis para os olhos físicos, seja antes de nascerem como depois da morte. Eles são visíveis somente entre o nascimento e a morte. Portanto não se lamente.
(2.29)-Alguns falam a respeito do Espírito como se fosse um enigma, outros o descrevem com admiração e outros ainda o enaltecem como algo maravilhoso. Entretanto, são muito poucas as pessoas que verdadeiramente podem falar a respeito do que efetivamente é o espírito.
(2.30)-Ó Arjuna, entenda, o espírito que reside no corpo de todos os seres, é eterno, e assim sendo, indestrutível. Conseqüentemente, você não deve se enlutar por ninguém.
(2.31)- Considerando, também, a sua condição enquanto guerreiro, você não deve hesitar em agir como tal porque não há nada mais auspicioso do que exercer a responsabilidade que é assumida na vida.
(2.32)-Somente os guerreiros afortunados, o Arjuna, tem a oportunidade de guerrear uma guerra justa, ou seja, para extirpar o mal, e isso equivale a uma porta aperta para o céu.
(Uma guerra justa não é uma guerra religiosa contra seguidores de outras religiões. Uma guerra justa pode ser travada mesmo contra seus próprios agentes malvados adeptos e até contra familiares (RV 6.75.19). A vida é uma contínua batalha entre as forças do mal e da bondade. Uma pessoa valente deve lutar com o espírito de um guerreiro – com vontade e determinação para a vitória - sem se assustar com as forças do mal ou as dificuldades. Deus ajuda o valente que adere à moralidade. Dharma (justiça; retidão) e protege aqueles que protegem o Dharma (moralidade, justiça e retidão). É mais vantajoso morrer por uma reta causa e por isso adquirir a graça divina através do sacrifício, do que morrer de morte normal ou compulsória. Os portões do paraíso escancaram-se literalmente para aqueles que se erguem para manter a justiça ou a retidão (Dharma). Nenhum mal pode deter isso. Existem idéias muito similares expressas em outras escrituras do mundo. O Alcorão diz: Alá ama aqueles que lutam por sua gloria porque fazem o que Deus exige. Não há pecado em matar um agressor quem quer que ele seja. Assim sendo, O Arjuna, todos aqueles que apóiam os Kauravas devem ser considerados agressores e como tais merecem ser eliminados).
(2.33)-Se você não lutar esta batalha do bem sobre o mal você irá deixar de cumprir seu dever e por redundância perderá a sua reputação de guerreiro, incorrendo, ainda, no pecado por fugir da sua responsabilidade.
(2.34)-As pessoas irão falar sobre a sua desgraça por um longo tempo. Para o ilustre a desonra é pior do que a morte.
(2.35)-Os grandes guerreiros irão pensar que você fugiu do campo de batalha por medo.
(2.36)-Seus inimigos irão falar muitas palavras com desdém a respeito de suas habilidades. Tem alguma coisa que para você é pior do que isso?
(2.37)-Você irá alcançar o paraíso se morrer no comprimento da sua obrigação, ou você gozará o reino da terra se vitorioso. Nada acontecerá de não bom para você em qualquer uma das duas hipóteses. Portanto, O Arjuna, ergue-te com determinação e lute.
(2.38)- Engaje-se da mesma forma no manejo da luta, no prazer ou na dor, no ganho ou na perda, na vitória ou na derrota, porque este é o seu dever. Jamais incorrerá no pecado enquanto cumprir a sua obrigação.
(O Senhor Krishna aqui diz que mesmo a violência realizada no comprimento do dever, com o estado de espírito apropriado - como descrito no verso acima - e isenta de pecado e isso está claro no verso inicial do Karma-yoga, um dos temas do Gita. O sábio deve saudar a satisfação e a dor ou a alegria e a tristeza sem se desencorajar.(MB12. 174.39) Dois tipos de pessoas são felizes neste mundo: Aqueles que ainda permanecem completamente ignorantes e aqueles que se tornaram verdadeiramente sábios. Todos os outros são infelizes. (MB 12.174.33)
(2.39)-A ciência do conhecimento transcendental foi partilhada com você, o Arjuna. Em verdade, se assumir as tarefas de sua responsabilidade você irá tornar-se livre do cativeiro Kármico, em outras palavras, do pecado.
(2.40)- Não há perda de tempo no serviço desapegado e nele não há efeitos adversos. Mesmo os pequenos conhecimentos desta doutrina, se praticados, já protegem quem os exercita ao longo do continuo ciclo de nascimentos e mortes.
(A ação desapegada é também chamada de Seva, Karma-yoga, sacrifício, yoga ou trabalho, ciência da ação própria, e yoga da tranqüilidade. Um Karma-yoga que trabalha com amor para o Senhor, ou melhor, de acordo com a sua responsabilidade - portanto isento do desejo egoísta pelos frutos do seu trabalho, ou apego egoísta para com os resultados deste - torna-se livre de todos os tipos de sofrimentos ou desesperanças. A palavra Karma também significa obrigação, ação, feito, trabalho, esforço ou o resultado de ações passadas).
(2.41)-Um trabalhador desapegado, ou seja, aquele que executa suas tarefas só com a determinação de servir a Deus, vive feliz, mas aqueles que trabalham exclusivamente para o gozo do fruto do seu trabalho - e este numero é infinito - vivem toda a sua vida de forma inquieta e atormentada.
2.42)-A pessoa insábia, aquela que se deleita com os melódicos cantos dos Vedas, sem, contudo, lhe entender o propósito, julga que neles nada existe alem dos rituais, e que estes são praticados com o único propósito de merecer o paraíso celeste.
(2.43)- Eles, subjugados pelos desejos materiais, ocupam-se com rituais que julgam que lhes permitirão obter a prosperidade material e gratificação imediata. Contudo, o continuo renascimento é o resultado destas ações.
(2.44)-A auto-realização, a real meta, não é possível para aqueles que estão apegados ao prazer e ao poder, e para quem o juízo está obscurecido pelos rituais e atividades para a satisfação de seus desejos egoístas.
(A auto-realização é para aqueles que reconhecem que o relacionamento com o Senhor Supremo é a sua verdadeira natureza transcendental. As promessas de benefícios materiais nos rituais védicos são como promessas de açúcar cândi feitas pela mãe à criança para induzir, ele ou ela, a tomarem remédios. Esta é a principal instancia Os rituais precisam ser trocados com o tempo e serem direcionados para cima pela devoção e pelas boas ações. As pessoas podem rezar e meditar a qualquer hora, em qualquer lugar e longe de qualquer ritual. Os rituais têm representado uma importante função na vida espiritual, mas neles também há enormes abusos. O Senhor Krishna e o Senhor Dharma desaprovam o uso impróprio dos rituais védicos, não os rituais em si mesmo. Os rituais criam uma sagrada e abençoada atmosfera. Eles são respeitáveis, podem se transformar em um navio celestial, quando respeitados (RV 10.63.10), ou em uma frágil jangada quando criticados. (MuU 1.2.07))
(2.45)-À parte dos Vedas que trata dos três modos: bondade, paixão e ignorância, são de natureza material. Eleve-se acima destes três modos e seja auto-consciente. Torne-se livre da tirania dos opostos para permanecer tranqüilo e indiferente em relação á posse ou não posse de bens materiais.
(2.46)- Para a pessoa iluminada, aquela que se empenha exclusivamente em enriquecer a natureza do eu interior, os Vedas tornam-se proveitosos como o é um pequeno reservatório de água cristalina quando o individuo está morrendo de sede.
(As escrituras são como um lago finito que faz fluir suas águas para o oceano infinito da verdade. Portanto, as escrituras se tornam desnecessárias somente depois que o individuo alcança o esclarecimento, do mesmo modo que um reservatório de água deixa de ser útil no meio de um dilúvio. As escrituras, assim como os Vedas, são os meios, não os fins. As escrituras carregam a intenção de nos conduzir e nos guiar pelo caminho espiritual. Depois de termos alcançado a meta devemos olhar para elas como faz o alpinista quando do cume que alcançou olha para baixo e agradece os instrumentos que lhe permitiram alcançar o ponto mais alto da montanha.)
(2.47)-Você pode planejar a sua atividade pessoal na perseguição dos objetivos que são de seu interesse, mas, como não pode lhe determinar o resultado - esse sempre depende também de fatores que são administrados por outros – se por um lado deve se esforçar ao máximo para executar a sua parte da melhor forma possível, do outro jamais deve se aborrecer se o seu trabalho não lhe trás o sucesso desejado. Os eventos do mundo jamais se realizariam se a todos os homens tivesse sido cedido o poder de escolher os resultados de suas contendas, ou uma varinha mágica para sempre realizar seus desejos. Desenvolver um trabalho sem a expectativa de sucesso ou perspectiva de bons resultados pode ser considerado sem sentido, mas estar plenamente preparado para o inesperado ou o insucesso é uma importante posição em qualquer planejamento. Swami Karmanada disse: A essência do Karma-yoga é realizar o trabalho com o objetivo de satisfazer o Criador, enquanto mentalmente se adota uma posição neutra em relação a seus frutos, porque sempre cabe a Deus a responsabilidade de atribuir estes a quem ele deseja. Seu dever é viver – dando sempre de si o melhor – como um servo pessoal de Deus, e assim sendo, sem almejar recompensas a titulo de pagamento do seu trabalho. O trabalho, na sua forma de ser, é o grande impedimento para o sucesso, porque ele é prejudicado em sua eficiência pelo distúrbio constante do equilíbrio da mente. Portanto, as obrigações devem ser executadas com desapego. O sucesso, em qualquer atividade, torna-se mais fácil de ser alcançado se o trabalho for executado sem se preocupar com o resultado. Tranqüilidade e progresso espiritual é sempre o resultado do trabalho desapegado, porque o trabalho motivado pelo interesse pecuniário, não só cria o cativeiro do Karma, mas provoca grandes decepções.
(Um caçador tem controle sobre a fecha, nunca sobre o veado. Harry Bhala disse: um lavrador tem controle sobre suas mãos e em relação ao trabalho que estas realizam, mas por mais cuidados que tome não tem controle sobre a colheita, porque esta pode ser prejudicada ou destruída a qualquer momento pelos fenômenos da natureza. Mesmo assim, se não continuar fazendo a sua parte mesmo quando a perde, jamais poderá esperar por outra. Quando alguém não espera ansioso por uma satisfação ou uma vitória, não é afetado pela dor ou pela derrota. Questões de satisfação ou sucesso ou de dor ou fracasso, não são levantadas porque um karma-yoga está sempre no caminho servil sem esperar pelo gozo dos frutos da ação. Ele simplesmente aprende a se satisfazer com o prazer de servir. A miopia de curto prazo, ganho pessoal etc., causado pela ignorância da metafísica é a raiz de todos os males da sociedade do mundo. O pássaro da retidão não pode ser retido na gaiola do ganho pessoal. Dharma e egoísmo não podem permanecer juntos).
O desejo pelos frutos aprisiona no beco escuro do pecado e impede o real crescimento. A ação realizada apenas pelo interesse próprio é pecaminosa, enquanto o bem estar individual repousa no bem estar da sociedade como um todo. O sábio trabalha para o bem de toda a sociedade, enquanto o ignorante trabalha apenas para si mesmo ou a sua família. O conhecedor da verdade não permite que a sombra do ganho pessoal estrague o caminho do dever. O segredo da arte de viver uma vida dignificante é manter-se intensamente ativo sem qualquer motivo egoísta, como é declarado abaixo)
(2.48)-Execute suas ações dando tudo o que puder de si mesmo, o Arjuna. E mantenha a sua mente ligada ao Senhor e distante das preocupações ou apego egoísta aos resultados, mantendo-se calmo e equilibrado tanto no sucesso como no fracasso. O serviço sem egoísmo é sinônimo de paz e tranqüilidade da mente porque conduz a união com Deus.
(O karma-yoga é definido como “fazer as obrigações enquanto se mantêm a tranqüilidade”, sob todas as circunstancias. Dor e prazer, nascimento e morte, perda e ganho, união e separação, são inevitáveis porque estão sob o controle de ações passadas, ou Karma, do mesmo modo que se sucedem os dias com as noites. Só o tolo se regozija na prosperidade e se aborrece na adversidade, mas um karma-yoga permanece tranqüilo sob todas as circunstancias (TR2. 149.03.04) A palavra “yoga” pode também ser definida pelos seguintes versos do Gita: 2.50, 2.53, 6.04, 6.08, 6.19, 6,29,6.31, 6.32 e 6.47).
(2.49)- O trabalho feito por razões egoístas é inferior e está longe de ser um serviço desapegado. Portanto, seja um trabalhador desapegado, o Arjuna. Aquele que trabalha apenas para o gozo dos frutos dos seu trabalho é infeliz porque, não tendo o controle sobre os resultados, os sucessos se alteram com as derrotas, só que, enquanto os primeiros são esquecidos, as derrotas não o são e por este motivo continuam amargando a vida das criaturas.
(2.50)-Um Karma-yoga, ou uma pessoa desapegada, torna sua vida livre tanto da virtude como do vício. Portanto, esforce-se por serviço desapegado. Trabalhar utilizando as melhores habilidades e sem se apegar egoisticamente aos frutos do trabalho chama-se Karma-yoga ou Seva.
2.51)-Os karma-yoga estão livres do cativeiro do renascimento devido à renúncia aos frutos de todo o trabalho através do desapego a estes, alcançando, assim, um divino estado de salvação, o nirvana.
(2.52)-Quando seu intelecto perfurar completamente o véu da indecifrabilidade no que diz respeito ao Ser e no não-Ser, então você não necessitará mais ler ou ouvir o conteúdo das escrituras.
(2.53)-Quando o seu intelecto, ainda confuso pelo conflito de opiniões e pela doutrina dualística dos Vedas ficar firme e sólido, centrando-se no Senhor Supremo, então você ira ser iluminado e irá se unir completamente com Deus em transe.
2.54)-Arjuna disse: o Krishna, quais são os sinais de uma pessoa iluminada cujo intelecto está firme? Como se comporta semelhante pessoa em relação aos outros e como ela vive neste mundo?
(2.55)-o Senhor Krishna disse: quando alguém esta completamente livre de todos os desejos da mente, e esta satisfeito com a bem-aventurança do Ser Supremo, então essa pessoa é chamada de iluminado, Ó Arjuna.
(2.56)-Uma pessoa é chamada de sábio iluminado de firme intelecto quando a sua mente não mais está sujeita a perturbações pelas adversidades, quando já não se satisfaz com os prazeres mundanos e quando está completamente livre de apegos, de medo ou da ira.
(2.58)-Quando alguém consegue retirar completamente seu interesse dos objetos que despertam a cobiça dos demais, assim como faz a tartaruga quando retrai seus membros para dentro do seu casco para se proteger, é considerada uma pessoa firme.
A mente que não se deixa afetar pelos desejos materiais se afasta de todos os distúrbios mentais, da mesma forma que as águas de um rio chegam ao oceano sem criar qualquer distúrbio. Aquele que permite que o desejo por objetos materiais o atormente jamais possuirá paz.
A corrente do rio do desejo carrega longe a mente do materialista, assim como um rio carrega longe a madeira e outros objetos que encontra no seu caminho. A mente tranqüila de um yogi é como um oceano que recebe os rios do desejo sem por eles ser perturbado, porque um yogi não pensa a respeito de ganhos ou perdas. Os desejos humanos são impossíveis de serem satisfeitos porque são infinitos. É como ter sede e só ter água salgada para saciá-la. Mais dela se bebe e mais a sede aumenta até levar a pessoa à loucura.
Procurar realizar desejos materiais é como acrescentar madeira ao fogo. Contudo, ele se apagará lentamente se a madeira não mais lhe for acrescentada (MB 12.17.05). Se alguém morre sem ter conquistado o grande inimigo – os desejos - terá de reencarnar para continuar a lutar com este inimigo até vencê-lo. (MB 12.16.24). Não se pode ver a face de alguém em um balde de água agitada pelo vento; similarmente, não se pode assimilar Deus quando a mente e os sentidos estão perturbados pelo vento dos desejos materiais.(MB 12.240.030)
O Hinduísmo é uma religião monista, ou seja, afirma que existe só uma espécie de realidade e esta realidade é Brahman. Brahman é a Realidade Suprema. Brahman é a personificação masculina do Absoluto e principal divindade da Trimurti. A saga da tríade do hinduísmo é Brahman - o criador de tudo. Vishnu -o conservador da criação e Siva o Destruidor - uma espécie de lúcifer. Quase idêntica à tríade do Cristianismo que tem Deus como criador, Jesus, o Filho que esteve entre nós para nos ensinar a nos preservar espiritualmente, e o Espírito Santo que segundo a Igreja Católica é o espírito de Deus, mas que em verdade é o espírito de todos os que agem em seu nome.
O homem identifica-se com Brahman em seu núcleo mais profundo chamado “atman”- que equivale a alma ou espírito no cristianismo - e somente na identificação Brahman/atman que o homem torna-se real, ou seja, que se torna uno com Brahman, porque o mundo e a sua matéria é pura ilusão, ou Maya.
Para o hinduísmo, o homem emerge e submerge no seio de Brahman milhões de vezes num processo contínuo de reencarnações, e este ciclo de reencarnações sucessivas é chamado Samsâra, enquanto o conteúdo do novo estagio, ou seja, da próxima reencarnação é determinado pelo Karma.
A liberação do atman – espírito - do ciclo de Sâmara – reencarnações - é chamada “Moksha” ou “Mukti” e acontece após a morte. Alguns hindus, entretanto, acreditam que isso pode acontecer também enquanto o homem vive. Quem consegue este feito é chamado jivanmukta.
O hinduísmo acredita que existem três caminhos que conduzem ao Mukti, a libertação do espírito dos grilhões da matéria.
O conhecimento “Jnana Marga”.
A devoção “Bhakti Marga”
os rituais “Karma Marga”.
É nesse contexto de injunção do humano com o divino que é colocado a Yoga em suas variadas formas. Neste ritual, que é o Yoga, consegue-se isolar o espírito do desconforto da maioria das posições ao que o Yoguista se submete. Em outras palavras, a suportar a dor muscular da matéria corporal ao longo dos primeiros meses de treinamento. Entretanto, isso só é possível se o pensamento for endereçado firmemente a algo maior, através dos mantras - a longa repetição de palavras mentalizadas cujo conteúdo eleva.
Exemplificando: um mantra pode ser a repetição por 20 ou 30 minutos desta frase: “eu sou uma parte da natureza, eu sou um espírito de Deus”, ou de outras que como esta elevem mentalmente o ser.
Consegue-se isso também de outras formas, e entre elas, a meditação profunda, ou oração verdadeira, aonde quem sabe fazê-la (não depende só do desejo mas também do treinamento) entra em contato com os espíritos que transcendem à divindade a quem é devoto. Em verdade é essencialmente o espírito que fala com os espíritos como se este estivesse fora do corpo.



Brahma Vishnu Shiva

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