quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

(6)- NORDICOS

Após o termino da glaciação wurm, entre 10.000 a 6.000 a.C., enquanto o gelo continuava derretendo-se, algumas tribos nômades seguiam se deslocando em busca de regiões onde a caça e a pesca fossem mais abundantes. Eram Aryas, ou seja, tribos Celtas, e estas, mesmo se não deixaram muitos traços atrás de si, seus vestígios foram suficientes para indicar que depois de terem ultrapassado as terras da Alemanha atual, mantinham seu deslocamento rumo ao norte vindos dos planaltos da Pérsia, do Irã e territórios adjacentes - de onde tiveram origem todas as raças brancas - em direção aos territórios hoje conhecidos como Dinamarca, Suécia, Noruega, Escandinávia etc.

Conforme já afirmado, os arianos que procuravam as novas emoções de uma terra desconhecida eram, na sua maioria, os espíritos revoltados com as condições do seu degredo; pouco afetos aos misteres religiosos que, pela força das circunstancias, impunham uma disciplina de resignação e humildade, não cuidaram da conservação do seu tradicionalismo na ânsia de conquistar um novo paraíso e serenarem assim, as suas inquietações angustiosas.
Fonte: Livro “A Caminho da Luz” pelo espírito Emmanuel
e psicografado por Francisco Candido Xavier

Suas armas eram de metal: arco e flecha, faca, espada, arpão, machado e lança. E para se deslocarem sobre as águas, inclusive para pescar, haviam desenvolvido canoas com peles de animais. Sua crença, um espiritualismo ligado a natureza, desenvolvia-se através da pratica de rituais destinados a invocar espíritos para conseguir deles a proteção que julgavam necessitar em todas as suas praticas. O testemunho desses fatos não se encontra só nestes territórios, mas se estende até à faixa meridional da União Soviética e da Sibéria, desdobrando-se até o estreito de Behring.
Quando este povo começou a chegar, sem dificuldades dominaram os aborígines - o povo de pele escura que sucedeu aos primatas - e por este meio afirmaram a sua supremacia. Tempos depois, como normalmente ocorria, introduziram nesta gente não só suas tradições guerreiras, mas lhe ensinaram a agricultura que, somando-se à cultura da caça, determinou as profundas mutações que deram origem às sociedades que a sua mitologia identifica como o povo dos “Asi” e dos “Vani”.
À cosmogonia desse povo diz que no inicio só existia o “Ginnungagap”, o nada, o vazio, o abismo dos abismos. Depois, de repente, surgiu à matéria de duas formas contrapostas, dois princípios: Niflheimr - a região do frio - e Muspeslheimr - a região do fogo. Na região meridional de Muspeslheimr nenhuma criatura, a não ser a que ali nascia, conseguia resistir. E ao norte de Niflheimr - uma zona escura e gelada - existia um poço do qual nasciam rios impetuosos que com suas águas levavam até Ginnungagap vento, gelo, e resíduos venenosos.
No decurso dos tempos o vento do frio do norte se encontrou com o vento quente do sul e desta união nascem dois seres, Ymir o gigante e Audhumia a vaca. Do suor de Ymir nasceram dois seres, um masculino e outro feminino, e de seus pés nasceu outro filho com seis cabeças. Estes foram os três primeiros gigantes do gelo.
Das mamas da vaca Audhumia saíram quatro rios de leite que alimentavam Ymir, mas como Audhumia também tinha que se alimentar, começou a lamber o gelo salgado que estava ao seu redor. Este fato permitiu que na noite do primeiro dia nascesse o cabelo de um homem, no segundo dia a cabeça e no terceiro todo o seu corpo. Este foi Buri, o primeiro homem que nasceu. Buri era alto, possante e belo, e seu primeiro filho chamou-se Bor e os filhos deste com Bestia, a filha do gigante Boithorn, foram: Odin, Vili e Vê, os primeiros deuses.
O gigante Ymir nascido do gelo impregnado de resíduos venenosos era malvado e como ele todos os seus descendentes. Desta forma tornou-se inevitável um choque entre os bons: Odin, Vili, e Vê, e os maus, que eram os três gigantes do gelo.
Ymir foi morto e com o seu sangue pereceram todos os seus descendentes a exceção de Bergelmir e sua família. Graças a estes sobreviventes à raça dos gigantes continuou existindo. Odin e seus irmãos levaram o corpo de Ymir no Ginnungagap e o utilizaram para compor o mundo: da sua carne fizeram a terra, do seu sangue os rios e os mares, dos seus ossos as montanhas, dos seus cabelos as arvores, do seu crânio a abóbada celeste e do seu cérebro as nuvens.
“A criação, ou a vida que ressurge depois do desmembramento de um corpo após a sua morte, é um tema repetido em inúmeras mitologias como o do deus Asar dos Arianos ou de Osíris dos egípcios. Estes, depois de mortos e terem tido seus membros espalhados, fizeram nascer ou renascer todas as coisas do mundo. Repete-se isso também com o deus Odin que, ao se sacrificar enforcando-se na arvore da eternidade, lembra às gerações futuras que a vida é eterna através do continuo ciclo da morte e renascimento.”
Feito isso, porém, continuava existindo a escuridão, e para eliminá-la, os deuses pegaram fagulhas do Muspeslisheimr e as colocaram no céu . Estas se tornaram estrelas.
Algumas foram fixadas onde os deuses julgaram que deveriam ficar, e para as demais foi ordenado que se movimentassem de acordo com um traçado pré-estabelecido. Assim teve inicio o tempo e o seu transcorrer.
Ao redor da terra seca foi colocado um grande volume de água, os oceanos, e em um pedaço desta terra, chamada Jotunheimr - terra dos gigantes - foram colocados os gigantes. Feito isso, os deuses retiraram as sobrancelhas de Ymir e as usaram para formar uma enorme muralha para proteger a terra que havia sido destinada aos homens. Esta foi chamada Midhgardhr - o recinto do meio. Contudo, ainda não havia seres humanos para habitá-la. Para resolver o impasse Odin, Vili e Vê foram até à praia e nela encontraram dois pedaços de tronco de dois tipos diferentes de arvores. Depois de recolhê-los lhes deram a vida, o espírito, os sentidos e os nomes: Askr - o homem, e Embla - a mulher. Os dois, e seus descendentes, povoaram o Midhgardhr.
No universo de Odin, Vili e Vê, existiam nove mundos compostos por oito discos sobrepostos. No do meio localiza-se o Midhgardhr, a morada dos homens, que é circundado pelo oceano em cujas águas está Jormungand, a terrível serpente que envolve esse mundo. Nas regiões setentrionais e orientais encontra-se Jotunheimr, o mundo dos gigantes, e neste, a cidadela Utgard e a floresta de ferro onde moram as Troll - as mulheres gigantes que podem gerar lobos.
A nordeste de Midhgardhr encontra-se Nidovellir, a morada subterrânea dos guardiões das pedras que são os gnomos que odeiam a luz, e ao lado deste reino encontra-se Svatalfheimr, o território dos Elfos escuros.
No nível inferior, um lugar cheio de nevoa e gelo, residia a jovem do corpo monstruoso que possuía as insígnias da vida e da morte, e no superior o reino dos Asi, Asgard, cintado por enormes muralhas para proteger suas imensas planícies e lindos jardins. No meio deste espaço hávia o Valhalla, um gigantesco salão com o teto coberto de lanças, as paredes forradas de escudos e os assentos de couraças.
Deste local todas as manhãs partem os guerreiros, divididos em dois grupos, para guerrearem um contra o outro o dia inteiro tão somente porque esta é a atividade que mais os alegra. Quando chega a noite, depois que os que morreram durante a batalha do dia ressuscitam, todos retornam cavalgando para o Valhalla aonde, servidos pelas loiras Valquirias, comem e bebem até chegar à manhã do dia seguinte.
As Valquirias são as moças guerreiras que, além de servirem os heróis no Valhalla, quando findam as verdadeiras batalhas, vão buscar as almas daqueles que nelas morreram e, carregando-as em seus brancos cavalos, as levam para o Valhalla. Cavalgam seguindo Odin, do qual são escudeiras, atravessando montanhas e mares envolvidas pela luminosidade dos relâmpagos que lhe fazem reluzir suas brilhantes armaduras de prata.
Os povos nórdicos amavam as batalhas porque as consideravam belas em seu conteúdo, porque o aspecto que lhe devia ser intrínseco, o de vencer o inimigo e conquistar a paz, para eles era secundário: só os guerreiros que morriam em combate como heróis eram recebidos no reino dos beatos, o Valhalla, aonde continuavam eternamente suas amadas batalhas. Os demais, depois da morte, iam para um mundo acinzentado e triste no qual não existiam nem alegrias e nem tristezas.
No nível posterior a este se encontrava Alfheimr, o reino dos Elfos e da luz, e Vanaheimr, o reino dos Vani, que eram as divindades da fertilidade e da paz.
Existiam outras concepções nórdicas, e entre estas, uma dizia que o universo se encontrava à sombra de uma gigantesca arvore, Yggdrasili, que abria seus galhos para o céu enquanto suas raízes se estendiam pelos nove mundos, sendo que ao lado de cada raiz havia uma mina de água. A de Mimir era uma inexaurível fonte de sabedoria e quem dela bebesse obteria os conhecimentos que desejasse. O próprio deus Odin, para beber um sorvo desta água, teve que sacrificar um olho. Mas em troca obteve o dom de ver além das aparências.
A mina de Urd, em Asgard, era a fonte da vida, mas havia três normas que a presidiam: Urd o passado. Verdandi o presente, e Skuld o futuro. Elas protegiam a vida da grande arvore banhando-a com a água sagrada da sua fonte.
A arvore Yggdrasili se renovava constantemente em virtude da ação vivificante da água e da lama branca da mina de Urd. Era a arvore eterna que iria sobreviver ao Ragnarok - a apocalipse prevista nos textos nórdicos - para abrigar, sob seus frondosos galhos, o homem e a mulher que, ao sobreviverem, teriam a incumbência de repovoar a terra.
A religião nórdica era politeísta mas não homogênea no que se referia à origem, importância e as funções das divindades, ou ainda aos cultos praticados. Em linha de máxima conservava a estrutura herdada dos “germanos”, enriquecida e modificada pela convivência com os demais povos de origem indo-européia.
Em seus primórdios era naturalista, ligada aos ciclos da natureza, ao mundo animal e seus rituais eram mágicos. Muitos lapões, alem de esquimós, preservam estes costumes até hoje. Neste período a sociedade era do tipo matriarcal porque estava sob a égide da grande mãe Terra. Nesta fase as sacerdotisas, todas virgens, cujos santuários eram as florestas e as cascatas, eram fecundadas em rituais específicos por varões que tinham a face coberta pelo rosto de um gamo. Estes cerimoniais tinham a finalidade de estimular a fertilidade e a colheita. Aproximadamente um milênio depois, no entanto, as populações de origem indo-européias, numericamente superiores às autóctones, impuseram a estas não só seu estilo de vida, mas também sua cultura.
As primeiras divindades nórdicas foram os Vani, nome que etimologicamente deriva da raiz Vem ou Vinr que significa desejar ou amar. Estas divindades benéficas viviam no Vanaheimr, o país dos Vani, em uma sociedade fechada em si mesma porque praticava o incesto.
As divindades principais eram Freya - a senhora da magia, do amor, da fecundidade e da luxuria, além de ser a divindade das florestas a qual se associavam animais como a cabra e o porco do mato - e Freyr, que distribuía riqueza e abundancia. Havia contemporaneamente o deus da fecundidade, e este era representado por estatuas fálicas que literalmente eram enterradas nos campos depois de arados.
Á deusa Freya era associada ao gato, animal considerado sagrado no Egito - uma das regiões de onde haviam migrado os arianos - porque eram dois destes animais que puxavam o veiculo da deusa Isis, irmã e esposa do deus Osíris, quando por não encontrá-lo chorava de tristeza, e suas lagrimas, ao banhar a terra, a fertilizava.
A associação com os animais da floresta, se por um lado era a conseqüência dos bosques serem seu habitat (os celtas antigos, como vimos, levantavam os altares da crença entre as arvores sagradas da natureza), do outro, em relação à cabra, havia uma amarração inconsciente com a constelação de Auriga. Esta constelação, conhecida também como Plêiades, é dominada pela brilhante Capela, Alfa Aurigae - Capela em latim significa cabra - a sexta estrela de maior luminosidade do firmamento. A mesma cabra Amaltea que na mitologia Grega amamentou Zeus quando este, ainda criança, foi deixado aos cuidados das filhas do rei de Creta.
Com a chegada das populações indo-européias, sociedades fortemente patriarcais, a religião dos aborígines nórdicos sofreu algumas alterações. O choque, entre dois diferentes modos de ser e pensar, é representado pela mitológica guerra entre os Vani que, mesmo não sendo de estirpe divina, possuíam o conhecimento, a magia e o poder de semideuses, e os Asi, os deuses dos Aryas, que vieram do sul guiados pelo deus Odin no seu aspecto de deus-mago. Este, líder e mestre de supremas e humanas virtudes, além de modelo de perfeição, devia ser imitado pelos seus futuros descendentes.
Entre estes deuses havia Wotan, filho de Thor, que residia na lendária Asgard, literalmente “o recinto dos Asi”, a gigantesca fortaleza criada por Odin e protegida pelas muralhas que haviam tido origem com as sobrancelhas do gigante Ymir.
Asgard era o local onde os deuses haviam construído as primeiras fornalhas para forjarem utensílios de metal usando o martelo e a bigorna. Esta particularidade é importante para entender a passagem da cultura naturalista praticada pelos aborígines locais, para a dos invasores que trabalhavam os metais, prezavam a caça e amavam a guerra.
A mitologia nórdica é a única que, como a Bíblia, falava em um apocalipse chamado Ragnarok. Este previa que com a morte do filho de Odin, Balder, pela mão de Hood, seu irmão cego, haveria o ataque das forças do mal e, segundo as tradições, os guerreiros do Valhalla - os heróicos combatentes mortos nas batalhas - ressurgiriam para se juntarem aos deuses na grande batalha guiados por Thor.
“Seguirão para as planícies de Vigrior e lá enfrentarão as criaturas da escuridão” é dito no Ragnarok, prevendo o fim dos deuses. No seu filme, “crepúsculo dos deuses” o alemão Gorterdammerung tentou demonstrar isso.
A grande batalha seria precedida por três anos de calamidades e queda da moralidade. “Libertar-se-ão os monstros cósmicos: os lobos que devorarão o sol e a lua. Estrelas cairão e depois a serpente Jormungand, abandonando o oceano que circunda Midhgardhr, viria a provocar violentas inundações sucedidas por terríveis invernos”. Uma lenda similar à egípcia, a grega e a apocalíptica da bíblia, que mescla as concepções mitológicas do dilúvio universal com as descrições das tragédias provocadas pela queda de cometas na Terra: a fumaça, o pó e os vapores gerados pelo choque cobrem o Planeta e escondem os astros. Terremotos e maremotos desencadeiam inundações e por fim, com o deslocamento do eixo da terra, novas glaciações.
Loki se libertaria das correntes que o prendiam por ter colaborado na morte Balder, o filho de Odin, e assumindo o comando da nave Naglfar para atacar Asgard em apoio aos gigantes, navegaria sobre as ondas criadas pela libertação de Jormungand do fundo do oceano, enquanto Fenrir, o lobo gigante, quebrando os laços que o retinha, com Surt e seus demônios de fogo, atacaria pelo lado sul.
Heimdall, o guardião da ponte arco-íris, percebendo o que estava acontecendo deu o alarme soando a sua trompa, mas por fazer isso tardiamente não conseguiu evitar a batalha final. Nesta luta todos os deuses morrem e Surt com seus demônios destroem o mundo com o seu fogo.
É com esta ótica que os sobreviventes destas catástrofes, das posições geográficas que ocupavam ao redor do planeta, interpretaram os efeitos da explosão causada pelo impacto de um cometa com o planeta; uma guerra entre os seres que no seu entender, por comandarem estes fenômenos, eram os mais poderosos: os deuses.
O que sobrou depois da batalha mitológica foi o Valhalla, o martelo de Thor e seus dois filhos: Balder o filho favorito do deus Odin que renasce, um homem e uma mulher que, tendo-se protegidos sob os galhos frondosos da arvore da vida, assumiram a responsabilidade de repovoar o mundo.
O homem e a mulher, os seres imprescindíveis para, através do sistema de reprodução natural, gerar corpos físicos para que neles, os fluídicos vindos de Capela, pudessem habitar o planeta. Essa é a reminiscência que, por repousar no inconsciente dos degredados de Capela, deu origem ao cenário em que um homem e uma mulher, depois de pecar, foram expulsos do paraíso.
A língua arcaica dos hebreus não permite traduzir “Adão” como se fosse um nome próprio, porque a tradução correta é “ser humano”, assim como a tradução de “Eva” não é mulher, mas “terra”, da mesma forma que na mitologia grega a terra era Geia.
O desejo inconsciente de retornar ao paraíso perdido da distante Capela, espraiando-se no consciente sem lhe revelar a origem, é o impulso irrefreável que levou o homem, desde os tempos mais remotos, a estudar o universo, e que hoje o impulsiona desenvolver tecnologias espaciais com a finalidade de um dia ir para outros planetas! Entretanto, repetindo o que nos é dito, “o espírito que habita o homem”, durante o tempo em que por força maior tiver que habitar este planeta, jamais terá como deixá-lo.


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Entre os inúmeros afrescos que Michelangelo pintou na capela Sistina, a figura 1 reproduz o que ele retratou como sendo o “pecado original e o conseqüente desterro do paraíso terrestre” e na figura 2 a “criação do homem”. O seu trabalho, todavia, pelo menos figurativamente, lembra muito mais “deus” se afastando da Terra depois de ter nela deixado o homem, representando os deportados de Capela.

Os séculos continuaram sucedendo-se, e ao longo deles, aquela canoa de pele de animas que havia sido construída para pescar, pouco a pouco foi se transformando em uma resistente embarcação. Com esta experiência, alguns clãs nórdicos se tornaram hábeis construtores de navios, e com estas embarcações começaram a enfrentar os mares.
A palavra Vikings é uma derivação de “Vik”, baia, enseada, pequeno golfo, porque era destes locais que aqueles marinheiros aguerridos, hasteando bandeiras com a imagem de Odin e Thor, saiam com suas embarcações com o único escopo de agredir, matar, roubar ou escravizar. Além daquele de explorar e colonizar novas terras e desenvolver o comercio com outros povos.
Moravam em vilarejos, em casas sem janelas de um único cômodo construídas com pedras, em cujo interior havia uma rústica lareira ao redor da qual conviviam homens e animais para se aquecerem mutuamente.
Era um povo que vivia do comercio de peças forjadas em metal, da criação de animais, de pirataria e colonização de novas terras. Continuava sendo o mesmo povo aguerrido que sempre fora, em cujo seio cada individuo tinha o valor que a sua capacidade de lutar lhe permitia ter. Entre as muitas tribos que se estendiam da Germânia à Escandinávia, havia os reinos fundados na Dinamarca, na Suécia e depois os da Noruega. Eram espécies de cidades-Estado vastas e potentes, porque suas armas, como sempre havia sido: lanças, espadas, machados e escudos, continuavam sendo forjadas.
Haviam se tornado experientes construtores de navios, quase sem concorrentes naquela época, e argutos homens do mar, qualidades estas que se por um lado lhe permitia estabelecer rotas comerciais com a Europa, os Bálcãs, a Rússia, a Inglaterra e a Irlanda, do outro, lhes deu a oportunidade de colonizar a Islândia, a Groenlândia, Labrador, a ilha de Baffim, o Canadá setentrional e aparentemente até a América do Norte.
Entre as suas embarcações havia os velozes “Snigger” com duas fileiras de dez remos de cada lado e uma tripulação de 100 homens, os “Skeidhs”, navios de linha que compunham as frotas guerreiras. Os Draken se distinguiam porque ostentavam um dragão na proa.
Estas embarcações eram dotadas de fortes e robustas velas, uma tecnologia que lhes permitia navegar nos tempestuosos mares nórdicos utilizando instrumentos que, medindo a posição dos astros, permitiam o controle das rotas.
Os Vikings despertaram a Europa no dia 8 de junho de 793 d.C., e continuaram assustando-a por aproximadamente 200 anos ate que, em 1035 morreu Canuto o Grande - o monarca Vikings que havia reunido sob o seu brasão os reinos da Noruega, Dinamarca e parte da Inglaterra - e em 1066 expirou o ultimo rei Anglo Saxão, Haroldo, depois de ter sido vencido em Hasting pelo exercito de Guilherme, o rei da Inglaterra.
Neste dia, de acordo com a história, os monges da ilha de Lindisfarne, a nordeste da Inglaterra, estavam guardando em seus celeiros a ração para alimentar seus animais no inverno, quando por volta do meio dia viram no horizonte alguns navios de aspecto singular que se dirigiam para a costa. Nada de anormal, porque muitas embarcações atracavam na ilha pelo fato de ser um dos principais centros de peregrinação religiosa da Inglaterra. Dessa vez, porem, não eram peregrinos. Os que desceram dos navios passaram a usar suas espadas, machados e outras armas para matar barbaramente os habitantes da ilha sem lhe dar a mínima possibilidade de defesa. A maior parte dos moradores morreu a golpes de espada, enquanto outros foram torturados, incluindo os servos do mosteiro e respectivas famílias. As poucas mulheres que habitavam a ilha foram seviciadas e mortas. Finda a matança e o saque, embarcaram e partiram seguindo a direção de onde tinham vindo.
Desta data em diante os assaltos se sucederam com um ritmo impressionante, e a sua dinâmica era sempre a mesma: As embarcações apareciam improvisamente, e antes que a população se organizasse para ser defender, seus ocupantes desembarcavam e pouco tempo depois, levado o botim, no local só restava destruição e morte e saque. Os Vikings levavam tudo o que lhe interessava - incluindo as mulheres – e depois de destruir tudo, partiam e desapareciam com a mesma rapidez que haviam chegado. Eram os piratas contra os quais ninguém conseguia defender-se, e foram necessários muitos anos para que a Europa descobrisse de onde eles vinham.
Os Normandos (homens do Norte), ou melhor, os Vikings que invadiam repetidamente a Inglaterra submetendo-a a suas atrocidades, no tempo, mais do que companheiros de batalhas, tornaram-se intrépidos integrantes do exército do Duque Haroldo. Por esse motivo, depois da sua morte ocorreram profundas transformações políticas e sociais que levaram a Inglaterra, Suécia, Dinamarca e Escandinávia a se transformarem em reinos monárquicos nos moldes daqueles que existiam na Europa meridional.
No mesmo tempo em que aconteciam estes eventos, o cristianismo prosseguia se alastrando em todas aquelas regiões. Mesmo assim, a maioria dos Vikings permaneceu fiel a seus deuses até o final do X século.
Nessa epoca, após se darem conta que o cristianismo lhe oferecia maiores poderes, os reis passaram a apoiar os missionários que vinham da Inglaterra e da Alemanha. No entanto, na Suécia, as antigas crenças sobreviveram até o XI século quando os Vikings, percebendo que os reis e os missionários que destruíam as estatuas de seus deuses: Odin, Thor ou Frey, não eram por estes punidos, finalmente os abandonaram.
Os Rus, Vikings da Suécia, se estabeleceram nas costas do mar Báltico e se deslocaram para o sudoeste transportando por terra suas naus nos trechos em que era impossível a navegação. Desse modo, desceram os rios Dner e o Volga, atravessaram o mar Negro e o Cáspio, alcançando Constantinopla e Bagdá.
Os Vikings Noruegueses se estabeleceram na Islândia para depois se deslocarem até a Groenlândia que era a terra de Erik o Vermelho. Afirma-se, que no verão de 986 um Vikings islandês, Bjarni Heriolfsson, devido a um erro de navegação, chegou por acaso à América do Norte. De retorno a sua pátria, ao relatar seu descobrimento despertou o interesse de muitos companheiros. Estes, sob o comando de Erik o Vermelho, organizaram uma expedição que os levou a Terranova onde se estabeleceram. Entretanto, depois de algum tempo, tiveram que abandoná-la e retornar as suas terras devido à agressividade dos indígenas que habitavam a região. Os Vikings dinamarqueses, por sua vez, não somente chegaram às costas setentrionais da França, mas desembarcaram na Frísia e na Saxônia.
Os Vikings, ou seja, os grupos nórdicos que deixaram suas atividades para se dedicarem ao mar, e através dele a pirataria e a descoberta de novas terras, deixaram atrás de si um rastro de amargas lembranças.
Como já dito, eram os mais revoltados e enrijecidos entre seus companheiros exilados no orbe terrestre, e como tais, seus atos traduziam-se numa revolta intima, amargurada e dolorosa contra as determinações de ordem divina.


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1: navio Vikings exposto no Vikings Ship Museus de Oslo, na Dinamarca.
2: mapa do território habitado pelos Vikings e rotas de seus deslocamentos por mar.

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