quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

(10)-BUDISMO

O Budismo, assim como é hoje praticado, é um sistema de doutrinas desenvolvido pelos seguidores de Siddharta Gautama - 563 a 483 a.C. - posteriormente conhecido como Buda, ou Buddha, que em sânscrito, a língua dos Arias, significa ”conhecer, realizar ou despertar”.

Para fundamentar devidamente a nossa opinião relativa à estagnação do espírito chinês, examinemos ainda as suas interessantes e elevadas concepções religiosas.
De um modo geral, é o culto dos antepassados o princípio da sua fé. Esse culto, cotidiano e perseverante, é a base da crença na imortalidade, porquanto de suas manifestações ressaltam as provas diárias da sobrevivência.
As relações com o plano invisível constituem um fenômeno comum, associado à existência do individuo mais obscuro. A idéia da necessidade de aperfeiçoamento espiritual é latente em todos os corações, mas o desvio inerente à compreensão do Nirvana é ai, como em numerosas correntes do budismo, um obstáculo ao progresso geral.
O Nirvana, examinado em suas expressões mais profundas, deve ser considerado como a união permanente da alma com Deus, finalidade de todos os caminhos evolutivos; nunca, porém, como sinônimo de imperturbável quietude ou beatífica realização do “não ser”. A vida é a harmonia dos movimentos, resultantes das trocas incessantes no seio da natureza visível e invisível. Sua manutenção depende da atividade de todos os mundos e de todos os seres. Cada individualidade, na prova como na redenção, assim como na gloria divina, tem uma função definida de trabalho e elevação dos seus próprios valores. Os que aprenderam os bens da vida e quantos os ensinam com amor, multiplicam na Terra e nos Céus os dons infinitos de Deus.
Fonte: livro “A Caminho da Luz” pelo Espírito Emmanuel
e psicografado por Francisco Candido Xavier.

Uma corrente do hinduísmo considera Buda a nona encarnação de Vishnu - uma das personagens da tríade hindu, enquanto outras o consideram a nona de Balarama - a primeira expansão pessoal de Krishna, segundo eles, a suprema personalidade de Deus.
O Budismo, além de ser uma das mais importantes religiões do mundo, define um comportamento ético e filosófico de caráter altamente humanista.
Diz-se que os ensinamentos de Buda podem ser entendidos como uma revolta contra a classe sacerdotal que, de algum modo, explorava o povo com pesadas taxas para realizar os sacrifícios, e nestes, sacrificavam muitos animais - um desrespeito a não violência que era um princípio que sempre fora defendido pelo hinduismo.
Suas idéias objetivavam a libertação do Samsâra, o ciclo reencarnacional: nascimento, morte e renascimento, e o encontro da salvação no interior de cada ser, como é ensinado no hinduísmo.
Na sua época muitas pessoas das castas mais humildes, chamadas intocáveis, foram atraídas pelos ensinamentos do budismo, e assim, de certa forma, teve inicio a rejeição ao hinduísmo porque este era muito rígido na demarcação das castas, que era um conceito ariano.
O budismo chegou a florescer por algum tempo na Índia, fundado pelos seguidores de Buda (isso aconteceu no período do imperador Ashoka, filho de Chandragupta, chefe do exército de Alexandre Magno). Depois, gradualmente foi desaparecendo, mas muitos dos seus ensinamentos foram inseridos no hinduísmo e muito mais tarde influenciaram o islamismo. Hoje, os praticantes do Budismo comportam-se diferentemente daqueles que originalmente praticavam a doutrina, porque Buda, como tantos outros mestres do passado, nada deixou por escrito. Quem transformou suas palavras em escrituras foram seus discípulos, e como sois acontecer, como esta tarefa foi realizada muitos anos depois da sua morte, esteve sujeita aos acréscimos ou decréscimos ditados ou por eventuais novos interesses religiosos, ou por interpretações diferentes da palavra de Buda. Todas elas, contudo (similarmente ao cristianismo, no qual todos os credos reivindicam para si a mais exata interpretação da bíblia) reivindicam para si a melhor interpretação da verdade Budista. Todavia, existem dois pontos básicos que são unanimemente aceitos por todos: que Buda alcançou a iluminação suprema e que pregava o respeito a todas as formas vivas da natureza.
O fundador do Budismo foi o jovem príncipe hindu Siddharta Gautama - também conhecido como Shakya Muni - que nascera em Kapitavasta no sul do Nepal. Filho de um grande Rei, este o manteve isolado dentro do seu castelo para protegê-lo dos sofrimentos do mundo. Assim resguardado, cresceu sem ter contato com as misérias do mundo material. Com 29 anos, ao sair pela primeira vez do seu palácio, conheceu um homem velho, viu um doente e se defrontou com um morto. Resultado ficou desnorteado. A procura de respostas interpelou um monge sannyasi - um religioso que, por ter abdicado de todas as formas de bem-estar material, vive como um mendigo - que lhe explicou que o que vira não só era natural, mas inevitável, porque eram aspectos que faziam parte da vida dos homens.
Siddharta ficou triste e preocupado porque até então não conhecera o sofrimento. Logo, por não desejá-lo para si, decidiu procurar um meio de evitá-lo. Com este fim submeteu-se a uma vida severa e ao jejum, mas o único resultado que obteve foi enfraquecer até quase morrer. Esta experiência, no entanto, o ajudou a compreender que a automortificação em hipótese alguma era a soleira para a perfeição que procurava. Para continuar a sua busca se transformou em um mercador errante.
Segundo a tradição budista, uma noite, provavelmente por volta de 531 a.C., enquanto meditava deitado sob uma arvore na floresta Budhi Gaya, Siddharta é alcançado pela revelação - o estágio preliminar da iluminação - e, por conseguinte, finalmente compreende que a existência material é ilusória porque neste mundo tudo é transitório.
Naquele momento, ali mesmo sob a árvore, Siddharta faz o voto para alcançar a iluminação total, e com este fim, adota a vida acética dos monges hindus e passa a estudar o brâmane. Dotado de uma percepção perspicaz e de um pragmatismo excepcional, depois de se dar conta que o hinduísmo e suas propostas estavam longe do alcance do entendimento do homem comum, compõe as quatro verdades nobres:
1) A dor existe e não somente permeia a existência humana, mas a interpenetra.
2) A origem da dor está no desejo, nas paixões, e em especial no anseio de se ver livre dela.
3) A dor cessa exclusivamente quando o homem consegue vencer os desejos.
4) O desejo só pode ser superado se o homem viver moderadamente de conformidade com o nobre caminho octogonal que é: Percepção correta, pensamento correto, fala correta, comportamento correto, meio de vida correto, esforço correto, atenção correta e concentração correta.
Aquele que viver seguindo o que este caminho ensina, evoluirá gradativamente até alcançar o “nirvana” que é uma espécie de extinção da dor “do eu consciente” numa absorção final no Brahman, o Todo.
Estes aspectos determinam a lei do karma, ou seja, são as ações cometidas nas existências passadas que determinam as ocorrências da vida em curso, assim como a obra que realizamos nesta, determinará o que enfrentaremos na encarnação futura. Sim, é o samsâra, o ciclo do nascimento, morte e renascimento que, tendo tido origem no hinduismo, persiste no budismo.
No budismo, a meditação contemplativa e determinados exercícios de cunho ascético - o yoga, por exemplo - são consideradas práticas imprescindíveis para encontrar a luz, alem da moralidade e das obras exemplares.
Um ensinamento considerado fundamental na doutrina autentica, acatado até hoje como o primeiro preceito budista, é: não mate, zele e tutele todas as formas de vida.
A esse respeito, Buda, no seu 55 discurso, diz a um médico que o acusa de comer carne: sou acusado indevidamente, visto que sou eu que afirmo que não se deve comer carne em nenhuma das três hipóteses possíveis: quando se vê que é carne, quando se percebe que é carne e quando se suspeita que é carne. Quem tira á vida dos animais comete cinco graves crimes.
1) Porque pede carne, o que significa que pede a morte de um animal ou concorda com ela.
2) Porque o animal, ao perceber que vai ser morto, treme, tenta impedir que isso aconteça, e com isso sente dor e revolta.
3) Porque direta ou indiretamente ordena que um animal seja morto.
4) Porque quem come carne concorda e aceita que o animal sofra e sinta dor.
5) Porque quem come carne faz com que os outros a comem também.
É por esta razão que nos mosteiros budista zen a carne, mesmo sendo de peixe, jamais entra no regime alimentar. E é pela mesma razão que os movimentos budistas contemporâneos estão empenhados em restabelecer o princípio vegetariano da dieta budista.
O “Lamaismo”, ou “Budismo Tibetano” - em grande ascensão no ocidente - é uma amalgama dos ensinos budistas/hindus com as praticas tibetanas que surgiram no fim do século VII d.C. Seu líder espiritual é o Dalai-Lama, considerado a reencarnação de Bodhisattva Chenresi.
Outra seita budista em ascensão no ocidente é o “Budismo Nichiren Shoshu” - conhecido no Japão como Soka Gakkai - fundado em 1930 por Makiguchi Tsunesaburo. Eles acreditam que são uma reviviscência dos ensinos Nichiren do século XIII d.C. e seu culto gira em torno do Gohonzon, uma caixa de madeira preta que contem nomes de pessoas importantes mencionadas no livro “Lótus Sutra”, tido como a única obra que contem os verdadeiros ensinamentos de Buda.
A mais antiga e tradicional escola de budismo é a Theravada - em sânscrito pequeno veículo - que se expõe sobre o “tripitaka” - em sânscrito três cestos - que simbolizam três grupos de livros:
1)Vinaya Pitaka, que versa sobre a disciplina.
2) Sutta Pitaka, que versa sobre o ensino - ali constam os sermões e os ensinamentos de Buda.
3)Abdhamma Pitaka, que versa sobre a metafísica ou os fundamentos doutrinários do budismo.
Para nos aprofundarmos um pouco mais em relação ao Budismo Tibetano vamos recorrer a um trecho da entrevista concedida em 2003 pelo Dalai-Lama:
A religião, talvez tenha um papel diferente, hoje. Antigamente as comunidades eram muito religiosas e as tradições guiavam as pessoas. Hoje elas estão mudando com o contato com outros modelos de vida. O isolamento não mais existe e todos interagem com o mundo externo.
No Brasil, país tradicionalmente cristão, as pessoas têm muitas informações sobre hinduísmo, budismo e zen-budismo. Portanto, têm novas oportunidades para escolher a sua fé.
As religiões lidam com os problemas e o sofrimento humano, desta forma, como a natureza humana e o sofrimento continuam os mesmos de sempre, acredito que as religiões ainda são muito relevantes.
Eu não tenho interesse em converter pessoas ao budismo, uma vez que reconheço que todas as diferentes tradições têm o mesmo potencial de ajudar a humanidade. Sempre achei errado tentar converter as pessoas. O essencial é a paz e a harmonia, não a religião que a pessoa adota.
Segundo a tradição budista nenhuma força é capaz de mudar o efeito das causas das vidas passadas, assim sendo, não há razão para sentir arrependimento. Em verdade, é preciso aceitar a situação atual e usá-la da melhor maneira possível.
Para o ocidente o Dalai Lama é à própria face da tolerância e da compaixão que o budismo prega, contrariando a intolerância e a impiedade que foram impostas pelas religiões em boa parte dos paises em que elas predominam.
A partir do fim do século VI a.C. a pregação de Gautama Buda começou a se espalhar pelo mundo, contudo, algum tempo depois o budismo começou a ser varrido pela vigorosa expansão do Islamismo.
O ocidente, agora, está mais aberto para a espiritualidade e é por isso que abre espaço para o budismo. Não vejo, porém, por parte dos monges budistas, a preocupação de preservar ou aumentar o rebanho de fieis tal como ocorre nas demais religiões. Mesmo porque na maioria das versões ocidentalizadas do budismo não é exigido, necessariamente, o abandono da crença anterior.
Algumas pessoas vêem no budismo uma ciência da mente, outras, uma forma de humanismo que contribui para melhorá-las. E há ainda as que - como na tradição do budismo tibetano - se interessam pelo aspecto mais místico da religião: suas varias divindade, saúde e vida longa. Ha ainda indivíduos voltados para a ciência que se interessam pela abordagem do desenvolvimento da mente.
Eu, pessoalmente, não acho isso um caminho saudável, uma vez que a principal ênfase do budismo é treinar a mente para mudar a si mesmo, por dentro, aprendendo desta forma a não se apegar às coisas externas.
O budismo tem mais de 2.500 anos e é uma filosofia muito profunda que vem se perpetuando ao longo dos séculos. Em verdade por eles foi testada. Não quero dizer que seja a melhor religião que existe, pois cada indivíduo tem sua própria disposição mental e deve escolher a religião que lhe é mais adequada.
O budismo é uma religião se você quiser que seja. É também uma filosofia e ciência. Para os estudiosos, porém, o budismo tem aspectos de filosofia, mas, como oferece perspectivas para além desta vida, entra na categoria da religião.


Estatua de Buda Templo budista de Wat Pho

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