quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

(16)- CIVILIZAÇÕES ANDINAS

As civilizações que se desenvolveram na América central, mesmo se em alguns níveis culturais se diferenciaram, mantiveram em comum seus deuses, mesmo se cultuados com nomes diferentes, alem da ferocidade manifesta em suas guerras e a crueldade dos sacrifícios humanos expressada em seus rituais religiosos. Características de povos bárbaros mesmo se possuíam conhecimentos científicos dignos de civilizações muito desenvolvidas.
Dos povos que habitaram a região; Olmecas, Toltecas, Chibchas, Aymarás, Quíchuas e outros, os que deixaram os maiores legados: edificações, imagens, esculturas e crenças, alem de profundos conhecimentos do universo, da matemática e da agricultura - como a do milho - foram os Olmecas, os Maias, os Astecas e os Incas.
Estas quatro civilizações, plagiando o que acontecera do outro lado do Oceano, circunscreviam seu saber ao recinto dos templos, e esta sabedoria deixou de herança pirâmides, edificações, observatórios astronômicos, esculturas e, entre estas, as cabeças gigantescas dos Olmecas e Astecas que, mesmo se esculpidas diferentemente, recordam não só as da ilha de páscoa, mas as dos povos da Mesopotâmia.
O legado, entretanto, não se restringiu a isso, porque para construir o que construíram, como os povos do Mediterrâneo possuíam profundos conhecimentos de matemática e astronomia. Sem estes, não lhe teria sido possível calcular o ciclo solar, o lunar, a órbita de Vênus, os solstícios e um calendário quase tão perfeito com o Gregoriano. Nos planaltos andinos, alem disso, praticou-se a mumificação dos mortos em celebrações ritualísticas semelhantes às de Isis e Osíris no Egito. Para sermos mais específicos, “é como se estas civilizações tivessem se desenvolvido sob a batuta dos mesmos mestres que tiveram os Hindus, os Chineses, os Egípcios, os Assírios, os Sumerianos os Celtas e de muitos outros povos do alem mar.”

A verdade é que todos os livros e tradições religiosas da antiguidade guardam, entre si, a mais estreita unidade substancial. As revelações evolucionam numa esfera gradativa de conhecimento. Todas se referem ao Deus impersonilificável, que é a essência da vida de todo o Universo, e no tradicionalismo de todas palpita a visão sublimada do Cristo, esperando em todos os pontos do globo.
Os vários povos do mundo traziam de longe as suas concepções e as suas esperanças, sem falarmos das grandes coletividades que floresciam na América do Sul, então quase ligada à China pelas extensões da Lemuria, e da América do Norte que se ligava à Atlântida.
Não é, porem, nosso propósito estudar aqui outras questões que se não refiram à superioridade do Cristo e à ascendência do seu Evangelho, nestes apontamentos despretensiosos. Citando, porem, todos os povos antigos do planeta, somos compelidos a recordar, igualmente, as grandes civilizações pré-históricas, que desabrocharam e desapareceram no continente americanos, de cujos cataclismos e arrasamentos ficaram ainda as expressões interessantes dos incas e dos astecas, que, como todos os outros agrupamentos do mundo, receberam a palavra indireta do Senhor, na sua marcha coletiva através de augustos caminhos.
Fonte: livro “A Caminho da Luz” pelo espírito Emmanuel
e psicografado por Francisco Candido Xavier.

Olmecas -A cultura Olmeca, considerada a mãe das demais civilizações da América Central, nasceu na região que se situa entre a cidade de Veracruz ao sul, Tabasco do lado oriental e seus limites opostos estão entre o rio Grijalva e o Papaloapa. Suas capitais foram: La Venta, San Lorenzo, Lagunas de Los Cerros e Tres Zapotes.
Designa-se olmeca o grupo que habitava o sul da região, perto de Veracruz e ao norte perto de Tabasco. Seu nome deriva de náhuatl.
A região que este grupo indígena ocupou, entre as serras e o golfo do México, tinha um alto grau de umidade. O motivo era a abundancia de água em forma de lagos, rios e pântanos. Esta característica era propicia à caça, a pesca e a captura de marisco, enquanto que a agricultura, mesmo se não suficientemente explorada, produzia milho, feijão e abóbora que era o alimento principal de todos os povos da América Central. Alem disso, domesticavam animais como o cachorro, e aves, e praticavam a apicultura.
O numero de construções, conservação e restauração das edificações para fins religiosos, e a quantidade de esculturas monumentais e de pequeno porte, induz a crer que o sistema de governo adotado era teocrático, ou seja, o que se acredita que emana de deus.
Os centros cerimoniais eram conglomerados de construções de palha retangulares, ou com paredes de madeira e cobertura de terra, ou ainda folhas, como as que continuam sendo construídas até hoje na região, sempre edificados em locais apropriados, respeitados e muito cuidados.
Em La Venta, uma de suas capitais, se encontram configurações mais elaboradas como um centro cerimonial planificado que, mesmo se nele foi erigido um monumento de terra de escasso valor arquitetônico, seu piso é de mosaico de pedra e o recinto é rodeado por colunas de basalto (rocha vulcânica muito dura), que contem no interior uma grande tumba sustentada por colunas feitas com o mesmo material.
Acredita-se que esta cultura floreceu entre os anos 1.300 a 600 a.C., repentinamente, no meio de selvas e pântanos, e seu povo abriu o espaço que desejava entre as selvas, dentre rios e montanhas, até se estender muito além das suas fronteiras iniciais. Com técnicas esmeradas e refinado sentido artístico, transformou pedras colossais, muito duras como as de basalto ou semipreciosas, utilizando pequenos instrumentos feitos de pedra ainda mais dura como a de jade de cor verde esmeralda, azul esverdeado ou ainda ametista, em estranhas figuras. Na maioria das regiões da América central se encontram obras produzidas com estilo semelhante, do que se deduz que a influencia espiritual que norteou os olmeca ultrapassou os limites dos territórios Andinos.
Por ter sido nesta área que se desenvolveram as maiores expressões desta cultura, os arqueólogos acreditam que no sitio de Las Ventas existiu um centro cerimonial que reunia os povos que desenvolveram a arte olmeca, uma herança que, infelizmente, não indica quem foram seus criadores, de onde vieram, ou que trajetória percorreram antes de se estabelecerem naquela localidade.
Os olmecas esculpiram em pedra basáltica ou andesita, com maestria, trazidas de uma distancia aproximada de 80 Km., monumentais cabeças entre 1.5 a 3 metros de altura (são conhecidas 17 cabeças completas), alem de gigantescas estatuas representando homens disformes mesclados com traços de tigres e outros animais.

É em São Lourenço, entretanto, que se tem o melhor contato com o que é definido como o estilo olmeca clássico, o mais puro, o modelo julgado primordial, considerando que as realizações artísticas que se encontram em Las Ventas, Tres Zapotes e Laguna de Los Cerros, possuem expressões algo diferenciadas, com algumas variações que podem ser atribuídas a particularidades regionais. Em muitos aspectos, todavia, são idênticas as de São Lourenço, mas em outros são muito distantes.
Não se conhece, até hoje, o procedimento técnico utilizado para produzir as peças pequenas, sem equivalência em relação à qualidade do polimento. No entanto, a produção deve ter sido vasta porque não são encontradas somente na região olmeca, mas em grande parte da América Central.
As esculturas olmecas se destacam pela sua preferência pelo volume, a massa tri-dimensional, mantendo, no entanto, a justa harmonia das formas em cada uma das suas representações. E é exatamente esta a peculiaridade da escultura olmeca clássica, onipresente nas obras monumentais bem como nas de pequenas dimensões.
Suas esculturas focalizam sempre três conjuntos: figuras corpulentas representando humanos com animais, animais diferentes entre si e uma mescla destas formas acrescidas de outras com feitios fantasiosos e imaginários. Nestas obras a predominância entre os animais é representada pela figura do Jaguar, depois deste o macaco e seqüencialmente a serpente e uma ave predadora que lembra o falcão. Em relação às figuras humanas, predomina o homem sentado com as pernas cruzadas como fazem os orientais.
Existem outras esculturas de corpos humanos, naturais, contendo entretanto alterações só nas extremidades dos membros superiores e inferiores: garras de animais no lugar das mãos, e pés com tres dedos. De outras emergem nichos que lembram túmulos, posicionados sobre blocos em forma de prisma retangular, ou altares com o eixo maior no sentido horizontal, e uma cobertura superior que se estende fechando tres lados, enquanto o frontal, livre, expõe um nicho no interior do qual se destaca uma criatura que segura nos braços uma criança.
Os olmecas, como os astecas, imitando outras culturas ao redor do planeta, durante as celebrações ritualísticas de cunho religioso, ingeriam uma substancia alucinógena que extraiam de um sapo marinho, para depois dançando até o êxtase, entrarem em contato com os espíritos dos deuses. Alem disso praticavam o canibalismo.



Os Maias - A cultura Maia, considerada uma das mais antiga do solo andino, nasceu nas montanhas ao oeste da Guatemala por volta de 2.500 a.C., e deixou como herança inúmeras manifestações da sua cultura: palácios, pirâmides, baixos relevos, esculturas, pinturas e importantíssimos conhecimentos de astronomia e matemática.
A história relata que este povo se consolidou, a partir da união de grupos étnicos desiguais, por se terem desenvolvido em regiões geográficas diferentes: montanhas, planícies, selvas tropicais, pântanos e bosques, em um território de aproximadamente 400.000 quilômetros quadrados que compreendia a península de Yucatan, o estado de Quintana Roo - a maior área de Tabasco, Chiapas - no istmo de Tehuantepec no México, a Guatemala, Belice - a parte ocidental de El Salvador, e Honduras, além de uma pequena parte da Nicarágua.
O período pré-clássico teve inicio nas montanhas ao oeste da Guatemala por volta do ano 2.500 a.C., e as primeiras migrações aconteceram aproximadamente 900 anos depois. Destas, algumas se deslocaram para a península de Yucatan e outras para Tabasco.
No pré-clássico inferior estes autóctones passaram a viver em casas feitas de troncos, selados entre si com uma mistura de lama e palha, construídas nas adjacências de “cenotes” (poços, geralmente de certa profundidade), que comumente eram encontrados em cavernas. A atividade econômica mais importante dos Maias era a colheita de frutos, a caça, a pesca e a agricultura, esta ainda em seu estagio primário.
No pré-clássico médio, em conseqüência do desenvolvimento da agricultura, o povo Maia tornou-se auto-suficiente em termos alimentares. Por redundância, livrou-se da necessidade de caçar ou pescar o dia inteiro. Sobrando-lhes tempo, começam a produzir cerâmica e desenvolver o comercio.
O pré-clássico superior encontra os Maias convivendo com os Olmecas e este relacionamento consente que as duas culturas permutem conhecimentos.
De 300 a 900 d.C., período chamado época de ouro, a cultura Maia atingiu seu maior desenvolvimento seja na área tecnológica como na social, econômica, política, religiosa e artística.
Sua população havia crescido acentuadamente, mas a produção agrícola crescera ainda mais, resultado da ampliação da área de plantio conseguida com a construção de terraços de terra cultivável ao redor das montanhas. A terra destes terraços era fértil, porque era irrigada por um sistema por eles mesmos desenvolvido que, a partir de lagos, rios, e outros reservatórios naturais, levava a água para estas áreas. O grande incremento da produtividade agrícola não só satisfez a demanda alimentar dos Maias, mas lhes permitiu destinar boa parte dela para a comercialização.
Este sucesso consentiu que os povoados crescessem, e crescendo, foi aberto um espaço para os artesões que no tempo, especializando-se em varias expressões artísticas, contribuíram para ampliar ainda mais o intercambio de mercadorias não só entre as varias tribo Maias, mas também com os demais povos da América Central, consolidando, deste modo, um crescimento econômico cada vez mais promissor.
Este desenvolvimento trouxe para a região dos Maias outros povos da América Central que, unindo-se a ele, causou algumas desestabilizações, não graves porque os governantes souberam eliminá-las antes que houvesse problemas de continuidade.
Essa etapa favoreceu a intensificação da atividade arquitetônica que redundou na construção de centenas de edifícios, pirâmides monumentais com até 70 metros de altura, e numerosos monólitos e monumentos contendo descrições hieroglíficas que detalhavam seus feitos históricos.
Tudo isso foi possível sob a tutela de um governo teocrático, aonde Deus, através dos sacerdotes, delegava poderes a civis e religiosos que, completando-se entre si, satisfaziam os anseios e interesses de toda a sociedade.
A classe dirigente, uma minoria, era sustentada pelos impostos cobrados dos camponeses e artesãos, e seus poderes, que se estendiam sobre todas as regiões, eram exercidos por funcionários que controlavam desde a atividade produtiva, à vida material e espiritual da população, passando até pelas obras publicas e as religiosas.
Ao longo destes anos as cidades que mais floresceram foram: Coba, Uxmal, Izamal, Kabah, Loltun e Acanceh, mesmo quando ouve uma recessão cuja causa, ainda não totalmente esclarecida - eventualmente uma guerra - paralisou por algum tempo o desenvolvimento desta civilização.
De 900 a 1542 o desenvolvimento continuou, mesmo se restrito à região norte, porque os Maias que habitavam a região sobreviveram a um terremoto que afastou os que viviam nas cidades da zona Central. A continuidade do desenvolvimento deveu-se ainda a influencia das culturas dos novos povos chegados, o mais importante eram os Maias Chontales que procediam do sul de Campeche e do delta dos rios Usumacinta e Grijalva, porque estes também haviam sido influenciados pelos Nahua, seus vizinhos, com os quais tinham constituindo uma cultura híbrida Maia-Nahua.
Alguns destes grupos, os Maias-Itzaes, navegaram até a ilha Cozumel, na costa oriental da península, onde se estabeleceram por algum tempo, cruzando anos depois a terra firme para ocupar Pole, deslocando-se posteriormente para Chichen Itza que conquistaram por volta do ano 918. Depois de Chichen Itza continuaram em diversas direções da costa oriental e, deslocando-se para o interior na direção de Yucatan, conquistaram e sujeitaram a tributos inúmeros povos, enquanto outras facções se estabeleceram em Bacalar, Chetumal e Coba, esta ultima abandonada desde o período clássico. Assumiram, assim, o controle da costa norte. Simultaneamente outro grupo de linhagem mexicana, os xiu, tomou Uxmal e deste local exerceram seu poder sobre uma extensa região que se estendia até o noroeste de Yucatan.
As migrações Maias, devido a sua avançada cultura, mesmo considerando que por refletirem conquistas militares sempre encerravam em seu bojo as desventuras dos povos subjugados, em um segundo momento, estes, por serem enriquecidos com novos elementos ideológicos e culturais, em pouco tempo, através das suas novas expressões artísticas, evidenciavam o teor da herança recebida.
Em 978 o tolteca Quetzalcóati-Kukulkán, acompanhado por sacerdotes, guerreiros e vários discípulos, ocupou Chichen Itza vindo de Yucatan, la chegado, segundo a história, após fugir de Tula - no planalto do México – depois de ter sido derrotado por Tezcatlipoca. Esse tolteca, enquanto para os Nahuas era Quetzalcóati, um ser quase divino, para os Maias era o deus Kukulcan que significa “serpente emplumada”.
Os Itzaes haviam se fixado em Chichen Itza porque o local, que continha dois cenotes, atendia plenamente suas necessidades: enquanto um deles, chamado Xtoloc, atendia a demanda de água da população, o outro era utilizado para os cerimoniais que ofereciam sacrifícios a Chaac, o deus da chuva.
Os Maias de Chichen Itza, e os que habitavam as áreas de sua influência, no tempo, foram submissos por chefes não autóctones - invasores estrangeiros - que lhe impuseram elementos culturais Nahua. Subjugados, seja os camponeses como os artesões, continuaram seus trabalhos, mas os tributos passaram a serem recolhidos pelos novos governantes que, além disso, impuseram novas deidades. Estas, além de exigir um maior numero de sacrifícios, ampliaram o trabalho escravo.
Esta cidade, que passou a concentrar o poder religioso, político, militar e comercial, em pouco tempo cresceu e se transformou, porque as idéias que foram introduzidas passaram a se refletir na arquitetura e nas artes. Alguns exemplos: à construção do imponente edifício el Castilho, o grupo das mil colunas, os tigres caminhando, os parapeitos em forma de caracol, as colunas com serpentes, os baixo-relevos representando guerreiros toltecas, os murais representando guerreiros navegando, as peças de madeira com figuras humanas mascaradas e os animais em atitude de devorar corações humanos.
Aparentemente, este apogeu de Chichen Itza foi facilitado por um longo período de relativa paz, aproximadamente 200 anos, que se deveu à “liga de Mayapán”, uma aliança política celebrada por volta do ano 1.000 entre Uxmal, Chichen Itza e Mayapán. Todavia, dois séculos depois, as discórdias políticas, a rivalidade motivada por interesses comerciais e a rebelião do povo que não mais tolerava ser explorado como era, provocou a dissolução da aliança e a destruição de Uxmal e Chichen Itza.
O repentino fim de Chichen Itza - segundo os historiadores - deveu-se à guerra que lhe foi declarada por Mayapán, guerra essa em que Hunac Ceel Cahuic, seu general, venceu os itzaes e os expulsou. Esse feito é conhecido nos textos Maias como “la traicion de Hunac Ceel”. No entanto, esta expulsão não provocou o total abandono do local, porque grupos Maias, por mais três séculos, continuaram peregrinando até o “cenote sagrado” para oferecer sacrifícios oferendas ao deus Chaac.
Mayapán, a partir deste episodio, se transformou no centro político e comercial mais importante de todo o norte da península, e a cidade, ampliada com a construção de mais de 2000 habitações e edifícios monumentais como os de Chichen Itza, foi cercada por grandes muralhas. A administração, que passou a ser exercida pelos Cocon – os governantes - foi absoluta e a inovação implementada para evitar rebeliões consistia em levar para Mayapán, como prisioneiros e reféns, os senhores naturais das terras vencidas e os próprios chefes Maias. Estes, que recebiam construções de certo luxo para habitar com um pequeno grupo de súditos, continuavam a receber os tributos de seus domínios, mas tinham que repassá-los aos senhores de Mayapán.
Os maiores interesses comerciais dos Cocon relacionavam-se à costa oriental e incluíam a exploração do sal e o comercio, inclusive de escravos, com os navegadores putunes com os quais realizavam intercâmbios sempre crescentes. Em conseqüência destes interesses floresceram no seu território importantes centros como Tulúm, Xelhá e Muyil.
Com o passar dos anos, porem, os Cocon tornaram-se mais exigentes: ampliaram os impostos e incrementaram o comercio de escravos que em conseqüência cresceu e se expandiu até os mercados da costa noroeste e oriental da península.
As novas exigências, depois de algum tempo, geraram anseios de revolta, revoltas que inicialmente foram debeladas por guerreiros mexicanos contratados para este fim, mas que, sucedendo-se, para serem controladas, exigiram um aparato militar cada vez maior. Contudo, isso foi possível devido à aliança militar e comercial que os Cocon haviam estabelecido com os grupos mexicanos de Tabasco e Xicalango. Foi nesse período que surgiu o arco e a flecha. Os Xiu, que haviam sido os senhores de Uxmal, julgando-se prejudicados pelos Cocon pelo fato de serem uma civilização tão antiga quanto a deles, apoiados pelos Maias que habitavam a região, se transformaram nos principais inimigos dos Cocon. A rebelião explodiu em 1441 depois que os Xiu negociaram o apoio da quase totalidade dos povos da região. Nessa oportunidade, o povo Maia, fortalecido pela união, atacou e venceu a cidade de Mayapán destruindo-a e incendiando-a até não permanecer pedra sobre pedra. O arrasamento foi tão definitivo que impediu que o local voltasse a ser habitado.
A Arquitetura - A construção foi uma das manifestações Maias mais notáveis, muitas das quais, até hoje, refletem seu esplendor porque permanecem de certa forma completas. A contribuição mais importante, no entanto, foi o conceito de manter as construções minuciosamente fechadas. O palácio de Uxmal é um exemplo. É uma enorme construção de três níveis, o primeiro, que é a base, tem 12 metros de altura, 154 metros de largura e 180 metros de fundo, sobre o qual desenvolve-se um terraço de 4 metros de altura por 25 de largura e 120 metros de fundo, que suporta, sobre ele, um edifício com 9 metros de altura por 12 de largura e 100 de profundidade.


Palácio de Uxmal Palácio de Uxmal

Outro exemplo de construção elevada é a Pirâmide Jaguar, chamada templo de Tikal pelos Antropólogos e Torre Mágica do tempo oculto, pelos esotéricos: tem mais de 70 metros de altura sobre uma base de 40.


Pirâmide dos Nichos Pirâmide Jaguar Pirâmide el Castilho

Os Maias também foram formidáveis construtores de aquedutos, cisternas, sistemas de drenagem, obras hidráulicas, fortalezas, muralhas e calçadas.
A escultura e cerâmica: - A Civilização Maia, através do legado que deixou à posteridade, demonstrou que praticamente dominou todas as técnicas da escultura: gravações em alto e baixo relevo realizadas em volumes planos e redondos que foram executadas ou agregadas a grandes monumentos. Exemplos que sobreviveram são as extraordinárias peças de madeira excelentemente entalhadas, como as molduras de Tikal e Yaxchilán, mesmo se algumas são incompletas.
Na olaria e cerâmica este povo também se distinguiu pela grande variedade de obras e de estilos nos quais utilizou pastilhas, gravações em alto e baixo relevo, cores e adornos especiais.
A escrita: - Não permanecem muitos textos escritos, os existentes, geralmente transcrições de livros antigos que tratam das tradições Maias, foram gravados sobre papel feito de cortiça de arvores. Acredita-se que existiram 13 escritos principais da história Maia, hoje, no entanto, só sobrevivem tres. O código Dresde, O código de Madrid e o Código de Paris.
A religião: - A religião era o eixo central das atividades desenvolvidas pelos Maias, porque todas elas eram executadas entre um ritual e outro. Nas cerimônias, sempre dirigidas por sacerdotes, todo o povo participava e se comportava em obediência a um mesmo entendimento em relação às coisas que consideravam sagradas.
Entre os rituais havia o jejum, abstinência, danças, coros, música, representações, canto, queima de incenso, ingestão de bebidas alucinógenas e meditação. A saúde do povo também era uma responsabilidade dos sacerdotes e estes curavam através de praticas xamãs.
Como o povo Maia sempre acreditou na imortalidade da ”consciência” (alma ou espírito), aceitavam a morte com tranqüilidade e naturalidade. Deste modo, continuavam a fazer donativos a seus antepassados mortos porque acreditavam que eles viviam do outro lado da morte. Até hoje, em algumas regiões do México, esta pratica continua e se desenvolve em sete etapas ao longo de um ritual que inicia a meia noite do dia 30 de outubro e termina às doze horas do dia três de novembro.
A matemática - O sistema matemático Maia era vigesimal e utilizava três símbolos - utilizando traços e pontos como a taquigrafia - para contar. Um ponto representava o algarismo um e o traço 05. Como o numeral 20 era a base, enquanto no sistema decimal para compor o numeral 32 é feito: (3x10)+2=, no vigesimal os Maias faziam: (1x20)+12=, escrevendo os números de baixo para cima.
A astronomia - Diz-se, por serem os Maias um povo basicamente agrícola, que foram obrigados a estudar os corpos celestes porque o comportamento destes interferia positivamente ou negativamente no sucesso das colheitas. Foi através dessa metodologia que conseguiram perceber o melhor momento para o plantio. Constata-se, ainda, que algumas cidades dispunham de construções que serviam de observatórios, e a partir das observações, os Maias conseguiram calcular que o ciclo solar tinha 365.2420 dias e o lunar 29.53086 dias. Uma avaliação impressionante, considerando que foi feita entre os anos 800 a 1.200, porque o calendário Gregoriano, criado em 1.532, indica 365.25 dias para o ciclo solar e mediamente 30 dias para o lunar.
Observatório de Chichen-Itza

Hoje as medições científicas, elaboradas a partir das mais modernas tecnologias, indicam que o ano solar tem 365.2422 dias e o lunar 29.54059 dias.
Segundo o código Dresde os Maias calcularam que o ciclo de Vênus em relação à Terra era de 583.935 dias, enquanto hoje é estimado entre 583.920 e 583.940 dias.
Vênus, o segundo planeta na ordem de distância do sol, possue uma luminosidade tão grande que quando alcança seu índice máximo projeta uma sombra perceptível na paisagem terrestre. Seu brilho não é causado tão somente pelas dimensões que possue, aproximadamente iguais as da Terra, ou porque sua órbita o aproxima deste planeta, mas pelas características das nuvens que o envolvem, uma vez que estas possuem a particularidade de refletir a luz solar. É por isso que é o corpo celeste que mais brilha no céu depois da Lua e do Sol.
Quando o planeta, percorrendo sua órbita, se encontra na posição que equivale a sua máxima distancia angular do sol (elongação Este), era chamado “Vésper, a estrela da tarde ou vespertina”, porque seguindo a trajetória que o sol faz ao se pôr, aparecia na luminosidade crepuscular. E quando o precede quando se ergue pela manha (elongação Oeste), era chamado “Lúcifer, a estrela da manhã ou matutina, pelos povos antigos que não possuíam conhecimentos de astronomia”.
Além disso, Vênus, antes de desaparecer atrás do Sol, possue as mesmas fases da Lua: nova, quarto crescente, cheia, e quarto minguante.
Talvez fossem estes aspectos que despertaram nos Maias, como nos Egípcios, a mesma importância que atribuíam ao Sol. Vênus era tão observada e estudada em seus observatórios que chegaram a calcular que entre as duas conjunções, a “inferior”, quando se posiciona entre a Terra e o sol (acontece quando seguindo sua órbita passa ao lado da terra), transcorriam 584 dias, e que na “superior” (quando se encontra do lado oposto do sol) eram necessários 224 dias para completar a sua órbita. Durante esta conjunção, quando se encontra do outro lado do sol, o planeta deixa de ser visto da terra por alguns dias, mas antes disso, por estar se afastando, seu brilho enfraquece, retornando a crescer na medida em que volta a se reaproximar da terra. Para os Maias e outras culturas da América Central, Vênus tinha um significado muito especial, porque até as guerras eram iniciadas em base aos ciclos deste planeta. Evidentemente os Maias admiravam também o sol porque que lhe rastreavam o caminho durante todo o ano.


Pirâmide do Sol Calçada dos mortos

Na cidade de Chichen Itza, durante o crepúsculo, “a serpente de luz” - o feixe de luminosidade avermelhada que emana do Sol ao se por - erguia-se a partir dos degraus externos da pirâmide El Castilho no primeiro dia da primavera, bem como no equinócio de outono.
Nas expressões artísticas dos Maias a elíptica solar é representada por uma serpente de duas cabeças, lembrando que a elíptica é o “caminho” que o sol percorre entre as constelações de estrelas fixas, que pode ser observada porque todos os planetas do sistema solar orbitam ao seu redor.
A via Láctea era chamada a “arvore do mundo” e artisticamente era representada por uma majestosa arvore florida. Era também chamada “el Wakah Chan. Wak” que significa “ascender’’, enquanto Chan o K’ an, quer dizer” serpente”: a serpente ascendente. “A arvore do mundo’’ parece que está em pé quando sagitário (constelação do hemisfério austral), está acima do horizonte”. Neste momento a via Láctea, “aparentemente”, se eleva para o norte e as estrelas e nebulosas dão ao olho humano a sensação de uma arvore. A arvore da vida dos Maias.
Em suas lendas afirmavam que nos tempos antigos existira um pássaro de fogo, de luz imortal chamado Itzam - a deusa das aves – que todas as vezes que era acendido um fogo cerimonial ele se renovava, renascia mesmo, assim como acontecia com a da arvore do mundo. Afirmavam, ainda, que no solstício de inverno o deus sol aparecia no topo da arvore do mundo.
A política e cosmologia: - Os Sacerdotes Maias organizavam todos os seus rituais em harmonia com as estrelas e a via Láctea. Celebravam “el K’ atun” a cada vinte anos, e ao fim de cada um destes períodos os governantes mandavam erigir um novo monumento comemorativo. Neste monumento - feito de pedra - gravavam os símbolos que se associavam a arvore do mundo: o pássaro de fogo e a serpente de duas cabeças. Acreditavam que quando esse cerimonial era realizado o governante era levado até o céu para se encontrar com os deuses e deste encontro resultava o fortalecimento de todo o povo.
A mitologia: - A mitologia Maia é rica de lendas inspiradas nos seres da natureza. Entre estas se destaca o cervo - o símbolo do Criador. A serpente - que representa o poder. A tartaruga - que representa o tempo e a Rã que representa a sabedoria.
A criatura que merecia o maior respeito era Hunab Ku, aquele que dava a medida do todo e dos tres deuses principais: Kukulcan - rei do poder. Pakal Votan - o senhor do tempo e Zamna - o mestre da sabedoria. A estas três divindades os Maias atribuíam respectivamente a concepção do governo, o calendário e a filosofia.
Os calendários: - Os Maias, como exímios observadores do tempo, desenvolveram diversos calendários: o calendário ritual, o calendário lunar, o calendário dos nove Senhores e o Tun. Este ultimo, considerado civil, é formado por dezoito unidades de ciclos de 20 dias, totalizando 360, aos quais eram acrescidos cinco dias chamados “Uayeb” para completar o ciclo solar de 365.
A organização social: - A civilização Maia era organizada em cidades-estado, cada uma delas localizada em uma zona geográfica diferente, cujos governantes eram obrigados a compartilhar a religião, a cultura, a literatura, os recursos e as terras disponíveis com todos os grupos étnicos da família Maia, estirpe esta que, por longos 4.500 anos, continuou a ser integrada por novos grupos até que toda a região, depois do evento Hernán Cortez, foi transformada em colônia Espanhola.

Os Astecas - Os Astecas afirmavam que seus ascendentes haviam vindo de uma ilha chamada Aztlan e nesta ilha, de terreno plano a exceção de uma montanha em seu centro, existiam sete cidades e seus habitantes eram deuses. Estes deuses, segundo eles, haviam abandonado a ilha atendendo a uma ordem divina, mas seus descendentes, de tempos em tempos, continuavam visitando o povo Asteca.
Os descendentes destes deuses eram descritos como homens brancos, barbudos, de nariz aquilino, que prosseguiam visitando-os com o objetivo de seguir lhe ensinando as artes da civilização. E depois de permanecer durante algum tempo, partiam novamente prometendo retornar.
O nome da ilha, Aztlan, deriva de duas palavras Astecas: “Atl” - água, e “Na” - perto, mas, além disso, a vogal “A”, e as consoantes “Z-T-L-N”, participam da composição de inúmeros nomes de locais e pessoas no contesto dos povos pré Colombianos. Aztlan era uma ilha e Atlântida era uma civilização que se desenvolveu sobre ilhas.
“Os vários povos do mundo traziam de longe as suas concepções e as suas esperanças, sem falarmos das grandes coletividades que floresciam na América do Sul, então quase ligada à China pelas extensões da Lemuria, e da América do Norte que se ligava à Atlântida.”
Essa lenda foi a responsável pela queda do Império Asteca, porque quando chegaram as tropas espanholas lideradas por Hernán Cortez e Fernão Pizarro, em treze de agosto de 1520, Montezuma, o imperador Asteca, ao vê-las chegarem a seus domínios “homens brancos com armaduras reluzentes” ao invés de os enfrentar militarmente – atitude reflexa da tradição guerreira - as recebeu com festas porque acreditou que eram os deuses que estavam retornando depois de mais uma longa auxencia. Quando percebeu seu erro tentou corrigi-lo, mas era tarde demais. Foi aprisionado, humilhado e decapitado e nos meses que se seguiram seu povo foi dizimado.
A região de Cholula, em sua origem, era habitada por teotihuacanos, mas veio a ser invadida pelos Olmecas quando estes, em seu processo expansionista, ampliaram seu domínio até Veracruz.
Os habitantes destas duas regiões, os teotihuacanos e os nahuas, quando os Olmecas chegaram, se uniram e migraram para varias localidades diferentes entre as quais a Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá, enquanto uma minoria foi para Tula, onde, com o nome de nonoalca, colaboraram com os toltecas-chichimeca na organização de um grupo social que no tempo viria a se transformar no império Tolteca. Esta migração chamou-se “los pipiles”. O grupo de tribos tolteca-chichimecas, devido às constantes mutações climáticas da região em que habitavam, se deslocaram para o vale do México onde, depois de tomarem as cidades de Acolman e Teotihuacan, estabeleceram sua nova capital em Cerro de la Estrella. Outras invasões sucederam-se, e uma delas dominou os otomíes com os quais anos depois criariam o império tolteca.
Este império, sob o comando de Topiltzim, em um primeiro momento mudou sua capital para Tulacingo e depois para Tula, porque esta cidade tinha o privilégio de se localizar em uma área que permitia controlar as incursões de tribos aborígines, ainda bárbaras, que habitavam regiões não muito distantes.
O reinado de Topiltzim foi próspero: desenvolveu a cultura, as artes, extinguiu os sacrifícios humanos e levou seu povo a cultuar o deus Quetzalcóati. Os toltecas, no entanto, que veneravam o deus Tezcatlipoca - este exigia sacrifícios humanos- se revoltaram e deflagraram uma revolução. Quando o império tolteca entrou em colapso, grupos de bárbaros que chegavam até do sul do Texas, invadiram o vale do México, conquistaram Tula, e forçaram os toltecas a fugirem para outras regiões.
Pouco depois os acoulhas se apossaram do território de Huejotzingo, se fortaleceram, e em seguida derrotaram Cholula e fundaram a república de Tlaxcala composta por quatro territórios: Tepeticpan, Ocotelolco, Tizatlán e Quiahuiztlan. Ao mesmo tempo os chichimecas, que haviam se fortalecido, se instalaram em outro território da região de tetzocana. Cresceram, se expandiram, e assumiram o idioma nahua. Estes apontamentos precedem a chegada dos Astecas ao vale do México que vinham de outras regiões da costa Mexicana.
Os Astecas eram “atlacachichimeca”, que significa caçadores e pescadores, e tinham o costume de acender a cada 52 anos - um ciclo do seu calendário - um fogo “fuego nuevo”. Uma festa ao longo da qual era mantida acesa uma grande fogueira para comemorar o começo de um novo período.
O primeiro período havia sido o de Coatépec, na região norte-oriental do vale no ano 1163 d.C., quando nascera, segundo suas crenças, Huitzilopochtli - colibri do sul - o deus da guerra e do sol, filho de Coatlicue, um feiticeiro que cultuava Tezcatlipoca, que era o deus da noite e da magia associado ao destino dos homens e da realeza. Cinqüenta e dois anos depois, no ano 1215 d.C., apos muitas migrações, passando por Tula chegaram a Apazco onde realizaram o segundo “fuego nuevo”. Continuando seu caminho entraram novamente no vale do México, passando por Ecatépec, sierra de Guadalupe para depois se estabelecerem em Zumpango e Cuauhtitlan. Destes locais partiram novamente - sempre deixando grupos deles atrás de si – e chegaram a Tecpayocam, atual cerro de Santa Isabel, onde acenderam seu terceiro novo “fuego” no ano de 1267.
Algum tempo depois partiram novamente e adentraram no território de Azcapotzalco, governado por Acolnahuacatzim, que lhe permitiu permanecer em suas terras desde que pagassem tributos. Mas quando o primeiro rei Huitzilihuiti assumiu o poder - entre 1273 e 1276 – partiram e foram para Chapultépec.


Resumindo: desde que Tula havia sido deixada, e até se estabelecerem em Chapultépec, não permaneceram mais do que um ano em cada local, porque, como as terras tinham dono, ninguém os queria como vizinhos: tinham o péssimo costume de roubar mulheres casadas, brigavam por qualquer motivo e alem disso praticavam cruéis sacrifícios humanos
Estas suas atitudes, por fim, revoltaram vários dos seus vizinhos a ponto de se organizarem militarmente para enfrentá-los. Em 1319, sob o comando de Xaltocan, foram vencidos e confinados em Tizapan – um local cheio de cobras - e transformados em escravos. Anos depois, porém, as forças que os haviam vencido, que continuavam guerreando os xochimilcas, arrolaram os Astecas como soldados mercenários e lhe ofereceram a liberdade em troca de 8.000 prisioneiros inimigos. Realizadas as prisões, sendo os soldados Astecas numericamente insuficientes para conduzir um número tão elevado de prisioneiros, os mataram e levaram suas orelhas para Coxcoxtli, o senhor de Colhuacan. Este, horrorizado, não somente lhe deu a liberdade como havia prometido, mas permitiu, ainda, que se estabelecessem em Maxicatzingo.
Depois de instalados, começaram a edificar um templo para o deus Huitzilopochtli, entretanto, como haviam enganado Coxcoxtli - este lhe havia oferecido uma filha para ser rainha e deusa i isso não acontecera - este ordenou ao seu exercito que os perseguisse e não lhe dessem trégua até os derrotar.
O acaso, entretanto, lhe foi favorável. Conseguiram fugir e se salvaram escondendo-se em uma ilha deserta. Neste local, segundo suas lendas, o deus Huitzilopochtli lhe mandou um sinal: viram uma águia devorando uma serpente. Nesta ilha, então, em 1345, fundaram Tenochtitlan. Doze anos depois outro grupo Asteca chegou á região e se estabeleceu em uma ilha vizinha e em 1357 fundaram Tlatelolco. Algum tempo depois - descobertos e vencidos por Azcapotzalco – por terem sido os vencidos lhe foi exigido o pagamento de pesados tributos. Por não terem como pagar, mais uma vez foram arrolados como soldados mercenários, e como tais, tiveram que lutar em muitas batalhas.
Em 1450, superadas finalmente as dificuldades que até então os havia perseguido, conseguiram se estabelecer em um território que lhe pertencia porque o haviam conquistado militarmente. Finalmente, parecia que o pior havia passado. Entretanto, neste mesmo ano, por causa de uma longa estiagem e talvez pela falta de maiores conhecimentos de agricultura, foram surpreendidos pela fome. Esta nova dificuldade, interpretada sob a ótica de suas crenças devido ao contumaz esforço da classe sacerdotal, os levou mais uma vez a pratica de sacrifícios humanos, pratica essa há tempo abandonada. Só que, a partir desse momento, em números jamais antes ousados.
Os sacerdotes, que há tempo esperavam uma oportunidade como essa, passaram a afirmar que a terra havia se tornada improdutiva porque o Sol, sem energia, não conseguia mais vivificá-la. Para resolver o problema, diziam, existia uma única solução: espargir muito sangue humano para que o equilíbrio entre o Sol e a terra fosse restabelecido. Deste modo à classe dirigente não só decidiu restabelecer os sacrifícios humanos, mas determinou o numero de vitimas apropriado para ter o volume de sangue necessário para molhar suas terras.
Considerando que o seu calendário possuía 18 meses, cada mês com vinte dias, programaram para o inicio de todos os meses uma grande festa para a consumação dos sacrifícios. A tarefa de agendar as festas, em si mesma, era muito simples, a dificuldade residia em disponibilizar para cada uma delas o numero de vitimas que havia sido acertado, porque estas, tradicionalmente, sempre eram prisioneiros de guerras. As contendas armadas, porem, continham seus próprios riscos, e a única forma de minimizá-los era mantê-las contra forças militares menos poderosas do que as deles. Essa, entretanto, não era uma solução, porque quando um povo era atacado outros a ele se juntavam para enfrentar o invasor. Resolveram então acordar com os demais senhores das áreas vizinhas, vitimas da mesma estiagem, um estado de guerra permanente, não com o objetivo de conquistas, mas unicamente para aprisionar mês a mês o numero de soldados adequados para que as partes contassem, permanentemente, com o numero de vitimas que desejavam para oferecer a seus Deuses. Estas guerras foram chamadas “guerras floridas”.
A estiagem, que se prolongou por cinco anos, foi sucedida por um período de intensas chuvas, o que fez pensar aos Astecas que estavam sendo protegidos pelos deuses. Militarmente mais fortes do que nunca, deixaram de brincar e começaram a tomar as terras dos outros, exigindo-lhes, ainda, o pagamento de pesados tributos para se assegurarem que jamais voltariam a sofrer outras crises. As guerras sucederam-se e houve muitas delas, e nelas, mesmo se em algumas houve perdas, na maioria os Astecas foram vencedores. Fizeram desse modo muitas conquistas, especialmente sob o comando de Montezuma. Esse, que sempre forçava os vencidos a lhe pagarem pesados tributos: ouro, pedras preciosas, cacau etc., logo se transformou em um imperador muito poderoso. Montezuma morreu em 1469 e foi substituído por Axayácati, o primeiro de três irmãos que reinaram um após o outro.
O império, através da sua ousadia militar, continuou se expandindo, se fortalecendo e enriquecendo. Para agradecer estes tempos de graças, só no ano de 1487 ofereceram aos deuses do templo de Tenochtitlan mais de 20.000 sacrifícios.
Os Astecas, no entanto, por jamais estarem satisfeitos, explorando o fato que a experiência militar os havia tornado quase invencíveis, não paravam de guerrear. Destarte, naqueles anos, foram incontáveis suas conquistas e com elas o império Asteca continuou crescendo até se transformar em monarquia em 1515.
Entretanto, como sempre acontece em qualquer latitude desse planeta, para eles também depois da bonança sobreveio à tempestade, e essa, chegou no dia treze de agosto de 1520. Nesta data, o imperador Montezuma, ao ver as tropas espanholas adentrar em seus territórios, ao invés de mobilizar seu exército vencedor de incontáveis batalhas, acreditando que eram os deuses que estavam de volta, as recebeu com festas. Montezuma foi preso e decapitado, enquanto seu povo, inicialmente extorquido (a exigência de ouro pelos espanhóis), depois foi dizimado. Os estudiosos enfatizam que muitos Astecas conseguiram fugiram, entretanto, como até hoje ninguém encontrou seus vestígios, o local para onde eles foram - mesmo se existem muitas lendas a respeito - permanece um segredo.
O calendário: - O calendário é uma incontestável evidencia dos conhecimentos de matemática e astrologia que os Astecas possuíam. Contém imagens dos dias, meses, sois e ciclos cósmicos. Tem 3.6 metros de diâmetro, seu peso é de vinte e quatro toneladas e foram necessários 52 anos para completá-lo, de 1427 até 1479, isso porque, segundo é afirmado, foram utilizadas ferramentas feitas de pedra.
O calendário Asteca (103 anos mais velho do que o Gregoriano) originalmente havia sido posicionado no topo do Templo Principal ao sul da cidade de Tenochtitlan, Capital do Império Asteca, pintado de vermelho, azul, amarelo e branco.
Quando os espanhóis conquistaram a cidade, o retiraram e enterraram. A partir deste momento permaneceu desaparecido por cerca de 250 anos, até que, em dezembro de 1790, foi encontrado casualmente durante as reformas da Catedral. Hoje este calendário se encontra no Museu Nacional de Antropologia da cidade do México.

Calendário Asteca
O rosto de Tonatiuh, o deus Sol - considerada a primeira fonte de vida - está no centro do calendário, e ao seu redor estão esculpidas quatro imagens, cada uma delas representando os cenários do fim de cada um dos quatro movimentos - conhecidos também como os quatro sois ou quatro períodos.
O primeiro por animais selvagens.
O segundo pelo vento.
O terceiro pelo fogo.
O quarto por inundações.
O quinto e último era aquele que estavam vivendo, sendo assim, ainda era uma incógnita.
O primeiro circulo do calendário contem vinte espaços, cada um deles contendo o nome dos vinte dias do mês Asteca: Coati, Cuetzpallin, Calli, Ehecati, Cipactli, Xochiti, Quiahuati, Tecpati, Ollin, Cozcacuauhtli, Cuauhtle, Oceloti, Acati, Malinalli, Ozomantli, Itzquintli, Ati, Tochtli, mazati e Miquiztli.
O ano Asteca tem 18 meses, cada um contendo vinte dias ou seja, 360 dias (18x20), mais cinco conhecidos como Nemontemi, que eram os dias dos sacrifícios.
Existe ainda um outro circulo, dividido em quadros e seções com cinco pontos, que provavelmente representam a semana com cinco dias. Além disso, o circulo possue oito ângulos que dividem o calendário em oito partes, representando cada uma delas os raios de sol orientados pelos pontos cardinais.
A parte inferior do calendário contem a imagem de duas enormes serpentes, face a face, com seus corpos divididos em seções que assinalam os ciclos de 52 anos. Entre suas caudas, ainda, há um quadro contendo uma data: “13 acati”, data essa que segundo os estudiosos corresponderia ao ano em que o calendário foi concluído: 1479 d.C.
Ao redor do calendário existem oito olhos, e no centro de cada um deles há uma pequena haste que nos dias de sol projeta sua sombra sobre as figuras do calendário. Isso demonstra que era utilizado também para medir o tempo solar.
Os Deuses:– Huitzilopochtli, etimologicamente significa pássaro mosca, o mesmo que é retratado em uma lenda que diz que antes de chegar a ser o deus Sol e da guerra, Huitzilopochtli havia sido um deus totêmico, um colibri. Huitzilopochtli, segundo a mesma lenda, fora concebido por uma “mãe virgem” chamada Coatlicue, que alem de só vestir roupas confeccionadas com peles de serpentes, já possuía uma filha e numerosos filhos: os “Centzon-Huitznnahuas”, ou os “quatrocentos meridionales”.
Segundo a lenda, um dia Coatlicue estava orando no templo do Sol e, quando colocou sobre seus seios uma coroa de plumas de colibri que recebera do céu, ficou instantaneamente grávida de Huitzilopochtli. Sua filha, irritada, por crer que a mãe havia perdido a honra, solicitou aos quatrocentos meridionales (as estrelas que surgem no pólo meridional consideradas inimigas do sol) que a matassem. Coatlicue, porem, conseguindo esconder-se deles, pariu Huitzilopochtli já inteiramente armado. Estava protegido por uma armadura azul, tinha a cabeça e a perna esquerda adornadas com penas de colibri e segurava uma azagaia azul na mão direita. Após nascer matou sua irmã e servindo-se de Xiuhcoalti, a serpente de fogo - seu atributo pessoal - aniquilou os Centzon-Huitznnahuas e todos os que haviam participado do complô para matar sua mãe.
Huitzilopochtli, além de ser o deus da guerra, era o deus sol. Por isso, quando lhe eram oferecidos sacrifícios, os corações dos sacrificados eram arrancados de seus corpos e expostos ao sol em recipientes de pedra chamados quanhxicalli (recipientes da águia), porque era uma das formas que ele podia assumir. A sua imagem, gravada em um templo no México, é a de um guerreiro com a parte superior do rosto pintado de preto, uma armadura de penas, um escudo na mão esquerda e uma espada na direita.
Tezcatlipoca era o deus do sol do verão, aquele que faz amadurecer as colheitas e ao mesmo tempo trás a seca e a esterilidade da terra. Era também conhecido como o deus da tarde, e como tal, era considerado semelhante à lua. Por esta razão recebia nomes diferentes de acordo com a festa em que era invocado, e em algumas delas, era consagrado também como deus da musica e da dança. Tezcatlipoca era invisível, não palpável, e às vezes aparecia aos homens como uma sombra fugitiva, um monstro espantoso ou um Jaguar.
Diz à lenda que Tezcatlipoca durante a noite assumia a forma de um gigante que, enredado por um véu cinzento, caminhava segurando sua cabeça na mão. Com esta aparência, se cruzava com um cobarde, este morria, mas se era com um valente, era por este agarrado e, se não o soltasse, o gigante imprecando suplicava para ser solto imediatamente, mas se o homem o segurasse até os momentos que precedem o alvorecer, este para ser libertado antes da luz raiar oferecia riqueza e poderes invencíveis. Os Astecas temiam Tezcatlipoca mais do que qualquer outro deus, e para agradá-lo lhe ofereciam sacrifícios humanos.
Tezcatlipoca era inimigo de Quetzalcóati desde que este tentara ajudar os toltecas contra a ação que intentara com o fim de destruí-los, porque Quetzalcóati era o deus mais importante desse povo, antes de se tornar, depois da destruição deste, uma das principais divindades Astecas.
Segundo esta lenda, os toltecas um dia viram entrar na sua cidade três bruxos - um dos quais era Tezcatlipoca - e este, sob a aparência de um belo jovem, alem de seduziu a filha do rei Uemac, que era sobrinha de Quetzalcóati, em uma festa, entoou um cântico mágico tão irresistível que, ao ser cantarolado por muitos toltecas, estes, sem o saber, se submeteram a seus poderes. Sob este efeito, foram levados até uma ponte que com o seu peso quebrou. Caindo no rio, os toltecas se transformaram em pedras.
Feito isso, o jovem voltou à festa e, fazendo dançar magicamente um boneco na palma da sua mão, chamou a atenção de todos. Maravilhados, os Toltecas se amontoaram ao seu redor, mas a multidão era tamanha que muitos morreram asfixiados. Demonstrando-se penalizado com o acontecido, pediu aos cidadãos de Tula que o matassem para pagar pelos males que havia causado, entretanto, depois de ser atendido, seu corpo logo começou a exalar um odor que envenenou os toltecas presentes. Quando os sobreviventes conseguiram finalmente sobrepujá-lo, o expulsaram da cidade, mas a maioria dos toltecas já havia morrido.
Tezcatlipoca era representado por uma caveira, olhos muito brilhantes e face sulcada por estrias amarelas e pretas. Seu corpo também era preto, e em seus tornozelos havia laços repletos de mini sinos. Era causador de discórdias e guerras, mas também distribuía riquezas. Quetzalcóati, que já era conhecido em tempos anteriores, era considerado o deus do vento e, segundo a lenda tolteca, era meio humano e meio sobrenatural. Seu nome ainda era utilizado por reis e sacerdotes, porque era considerado um reformador religioso que pregava ensinamentos desconhecidos. Por este motivo enfrentou Tezcatlipoca, no entanto, por ter sido vencido, foi expulso de Tula.
Diz-se que as raízes do enfrentamento entre Tezcatlipoca e Quetzalcóati foram as diferencias de cunho social e econômico existentes entre o povo, porque desde suas origens, os Olmeca haviam se desenvolvido culturalmente e economicamente, enquanto os de origem Nahuas, além de serem pobres, possuíam uma tradição religiosa muito primitiva.
A lenda ainda relata que Quetzalcóati e seus discípulos, ao deixarem os poucos cidadãos que sobraram em Tula, prometeram que um dia retornariam, mas que ao fazê-lo teriam os traços de homens brancos e barbudos.
O matrimonio: - Na sociedade Asteca o homem só podia ter uma esposa (Cihuatlantli), e o casamento acontecia em uma cerimônia (ritual) especifica. Entretanto, era permitido que o homem tivesse o número de concubinas que desejava, desde que comprovadamente possuísse os meios para mantê-las.
Na cerimônia nupcial os jovens, entre 20 e 22 anos, sentavam-se um em frente ao outro, ao lado do fogo, trocavam as vestes e se alimentavam mutuamente. Esta postura simbolizava a promessa que daquela data em diante, e ao longo de toda a vida, os dois sempre ajudariam um ao outro. Havia o divorcio, mas para ser valido, devia ser obtido através de sentença judicial. Conseguida, as partes podiam se casar novamente.
A religião: – Os Astecas exprimiam sua religiosidade através de rituais cuja culminância eram os sacrifícios, costume este que foi se ampliando na mesma proporção em que a população crescia. Isso porque por um lado havia um grande número de deuses, e do outro, um corpo sacerdotal muito numeroso cujo comando era exercido pelo sacerdote chefe que assumia o nome de Quetzalcóati.
Sob o comando deste, havia uma complicada hierarquia clerical e uma escola que tinha a responsabilidade de formar noviços em todas as áreas do sacerdócio: xamanismo - a pratica na qual o religioso em transe, após a ingestão de bebidas alucinógenas, relacionando-se com os espíritos e com as forças da natureza, curava enfermos ou executava outras tarefas, e o magismo – a arte de fazer previsões, estudar as escrituras sagradas e exercer o ascetismo.
Os Astecas acreditavam que a criação do todo, além da vida dos homens, era obra dos deuses Ometecutli e Omecihuati, e que seus quatro filhos zelavam para que o trabalho iniciado por seus pais se perpetuasse. Esses eram: Tezcatlipoca, Xipe totec, Quetzalcoatl e Huitzilopochtli.
Acreditavam também que o destino do mundo era ser construído e destruído cinco vezes. Estes ciclos eram chamados sois, idades ou períodos. Destes cinco, quatro já haviam acontecido, e o quinto era o que estava em curso.
1-Naui Ocelot. Na primeira idade da terra (primeiro sol), que teve a duração de 676 anos, o mundo era habitado por gigantes que foram devorados por feras selvagens. O sol só possuía metade do seu brilho.
2-Naui Ehecati. Na segunda idade da terra (segundo Sol), que teve a duração de 364 anos, o mundo era habitado por humanos que se alimentavam com os frutos de uma arvorem leguminosa chamada “mezquite”. Como havia fortes ventos provocados por gigantescos furacões (estes provocariam o fim do segundo ciclo), os homens foram transformados em macacos para que pudessem viver nas arvores. O sol também foi destruído.
3-Naui Quihuitl. Na terceira idade (terceiro Sol), que teve a duração de 312 anos, o mundo era habitado por humanos que se alimentavam de sementes aquáticas. Depois foram transformados em cachorros, perus, pássaros e borboletas até que todos foram destruídos por chuvas vulcânicas que caiam do céu.
4- Naui Atl. Na quarta idade (quarto Sol), que se prolongou por 676 anos, os humanos se alimentavam de sementes selvagens e foram transformados em peixes porque o mundo foi destruído por enormes inundações. Até o céu se quebrou.
5-Naui Ollin. A quinta idade era a que estava em curso, e segundo eles, os deuses a estavam oferecendo aos povos do Centro América como uma ultima oportunidade. Os cataclismos que haviam destruído os quatros sois anteriores, tinham deixado um espaço vazio na organização cósmica, por isso o quinto Sol foi criado em Teotihuacan pelo deus Nanahutzin quando, ao se jogar em uma fogueira, se transformou no Sol nascente.
No inicio este sol não tinha força e por isso, permanecia imóvel no céu. Os demais deuses então se sacrificaram e lhe ofereceram seu sangue, a energia que necessitava para se movimentar no espaço celeste.
Esta lenda era o precedente que levava os Astecas a crerem que sem o sangue humano a vida do universo não tinha continuidade, e sem ela, o quinto sol também. Acreditavam que o sangue humano continha uma substância líquida preciosa, chamada “chalchihuatl”, único alimento apropriado para os deuses. Mesmo assim, a quinta idade, como as quatro anteriores, um dia teria fim e este seria causado por um grande terremoto.
De acordo com esta lenda, quando iniciou o quinto sol - lembrando que a raça humana havia sido destruída no fim do anterior - os deuses se reuniram para decidir como o homem poderia voltaria para habitar o mundo. Quetzalcoatl, então, foi à terra dos mortos chamada Mictlan e chamou o Senhor e a Senhora deste reino e lhes disse: vim até aqui para retirar os ossos dos mortos que vocês guardam. Eles então perguntaram: o que você deseja fazer com eles Quetzalcoatl? Ele respondeu: os deuses providenciarão para que voltem a viver na terra. O deus dos mortos inicialmente não quis atender Quetzalcoatl, porque, afinal, aquele era o seu reino, mas após varias argumentações se convenceu e entregou os ossos. Estes, que incluíam os dos homens e os das mulheres, depois que os deuses os umedeceram com o seu próprio sangue, renasceram e se transformaram nos seres que viviam naquela epoca.
Estas lendas, em sua essência, são similares as que nas demais localidades do mundo simbolizam o deus bom, talvez um sobrevivente das civilizações esquecidas, que enfrenta o deus mau: “Tezcatlipoca era representado por uma caveira, olhos muito brilhantes e face sulcada por estrias amarelas e pretas. Seu corpo também era preto, e em seus tornozelos havia laços repletos de mini sinos”, pela descrição provavelmente um feiticeiro. Em relação aos cinco períodos, ou sois, sem muito esforço podem ser divisadas épocas entre os cataclismos que abalaram o planeta, por muitos povos entendidos como o inicio do mundo ou como o dilúvio universal.
Os sacrifícios: - O culto religioso tinha como essência os sacrifícios humanos, e estes eram entendidos e aceitos pelos Astecas como um tributo que os homens deviam pagar aos deuses. Durante o culto, oravam: “como deus que você é, recusa o alimento grosseiro que o homem utiliza, mas fortaleça sua vida alimentando-se da substancia mágica que existe no sangue dos nossos corações”.
Para estes seres, a guerra, a conquista e a subjugação de outros povos, não eram realizações com objetivos tão somente políticos e econômicos, mas também religiosos, porque era desta forma que conseguiam os prisioneiros para imolá-los a seus deuses. O sacrifício mais praticado consistia em arrancar o coração da vitima para em seguida oferecê-lo ao deus que estava sendo homenageado. Com este fim, quatro sacerdotes seguravam o escolhido, cada um segurando a vitima por um dos membros sobre a pedra-altar chamada Techcath, enquanto o quinto sacerdote, de um só golpe, utilizando uma lamina feita de pedra, lhe abria o peito, retirava o coração ainda pulsando e o oferecia ao deus colocando-o em um recipiente de pedra chamado “Cuauxicalli”, enquanto o sangue do imolado era oferecido para degustação aos ídolos, ou espalhado sobre a terra para torná-la fértil. A carne da vitima, considerada divinizada pelo sacrifício, era consumida durante o ritual.
Quando a festa era oferecida a Xiutecuchtlil - deus do fogo - o escolhido era jogado em um imenso braseiro, enquanto outra forma de sacrificar, consistia em amarrar o prisioneiro para que fosse alvejado com flechas até morrer. Entretanto, quando a festa era oferecida ao deus Xipe, ou à própria terra, a vitima depois de morta era esfolada e sua pele era vestida pelo sacerdote.
Havia também o sacrifício chamado “gladiatorio”, oferecido ao Deus Tlacaxipehualiztli. Neste, a vitima entrava na arena para combater guerreiros muito melhor armados do que ela, até que viesse a morrer.
Havia meses que eram consagrados ao sacrifício de crianças. Estas, vestidas como princesas e adornadas com plumas, enquanto eram levadas pelos sacerdotes até o cimo das montanhas, eram acompanhadas por tocadores de instrumentos musicais que cantavam e dançavam. Esta cerimônia destinava-se a pedir chuva, e se a criança chorava, era um bom sinal. Neste caso, igualmente, arrancavam o coração da vitima.
Para a festa do deus Toxcati, realizada anualmente, doze meses antes era escolhido entre os prisioneiros o jovem mais bonito, para submetê-lo a um treinamento ao longo do qual aprendia a cantar, tocar flauta, cultivar flores e fumar. Em seus aposentos, havia oito criados para alimentá-lo, vesti-lo luxuosamente, lhe satisfazer todos os desejos e organizar em sua honra muitas festas com muitas danças.
Vinte dias antes da data do sacrifício, o escolhido recebia a ultima homenagem: quatro moças para satisfazê-lo sexualmente. Chegado o dia, o jovem era conduzido com pompa alem dos limites da cidade e era sacrificado pelos cinco sacerdotes.
As caveiras dos sacrificados eram conservadas sobre os “Tzompantli”, os grandes degraus feitos de cal e pedra ao redor dos templos (pirâmides). Só ao redor da pirâmide de Tenochtitlan, nos tempo das grandes conquistas Astecas, havia mais de 136.000 caveiras.
O governo: - O império Asteca era composto por cidades-estados, cada uma sob a responsabilidade de um governador chamado Tlatoani - aquele que fala e comanda - que era designado por um colegiado eleitoral composto por treze dignitários supremos escolhidos entre sacerdotes, guerreiros e pessoas comuns. A figura do vice-imperador, chamado Ciuacoate, foi introduzida por Montezuma com a responsabilidade de organizar expedições militares, julgar apelações, substituir o imperador quando ausente e presidir o grande conselho.
Os Incas - Por volta do ano 1.100 d.C., liderados por Manco Cápac e suas irmãs, os incas, a procura da terra que suas lendas prometiam, migraram do centro da Bolívia para Cusco, um vale fértil ao norte da atual República do Peru, e chegados ao local, finalmente, seu lendário bastão de ouro, sem esforço, penetrou terra adentro. A lenda dizia que quando isso viesse a acontecer, seria a indicação para ali se estabelecerem. Entretanto, como a região era habitada, tiveram que enfrentar militarmente seu povo para tomar posse dê-la.
Quando finalmente alcançaram a vitória final, erigiram no local a sua primeira grande obra: a construção chamada “Coricancha”, ou seja, o templo do sol.


Esse templo, como aconteceu na Europa com os templos pagãos, foi transformado pelo catolicismo na igreja e convento Santo Domingo

Por algumas dezenas de anos os Incas continuaram guerreando com as tribos dos territórios limítrofes para se precaver contra suas agressões, mas até aquele momento sem o objetivo vencê-los para lhes confiscar o território. No entanto, quando Mayta Cápac assumiu - o quarto monarca - ela adotou uma política expansionista através da apropriação militar das regiões que desejava. Pouco tempo depois, o território Inca que até então se restringia à adjacência do lago Titicaca, foi ampliado até as bacias fluviais da costa. Mas coube a Viracocha Inca, o oitavo monarca, aquele que assumira o nome do deus Inca que criara o mundo, levar seu povo a uma grande expansão. Assessorado por seus generais, não se satisfez mais com as poucas vitórias militares que vez ou outra eram obtidas pelos seus antecessores, passando a exigir vitória atrás de vitória militar, anexando os territórios conquistados a seus domínios.
Os habitantes do Titicaca, ao sudoeste de Cuzco - lupacas e Collas - eram as tribos de língua aimará que, como os Incas, eram os grupos mais poderosos da região, enquanto ao oeste de Cuzco habitavam os quéchuas, da mesma linhagem, idioma e cultura dos Incas, e ao oeste destes os chancas, que durante o reinado de Viracocha haviam ocupado o território dos quéchuas.
Os primeiros a serem invadidos foram os Lupacas, vencidos pelos Collas, porque estes últimos temiam que se aliassem aos Incas para fortalecê-los, mas algum tempo depois foi a vez destes sucumbirem diante dos Incas. Os Chancas foram conquistados em seguida.
A morte do oitavo monarca, Viracocha Inca, marcou o fim da fase das grandes conquistas, conquistas estas que se haviam projetado no tempo por meio de muitas lendas, mas seu sucessor, Inca Pachacutec, foi o principal mentor, além de artífice, do período que veio a ser chamado “império histórico Inca”. Ele e Topa Inca Yupanqui, seu filho, conseguiram a proeza de, em menos de 50 anos, estender seu império do norte do Equador até o centro do Chile, o que correspondia a uma superfície de 900.000 Km.quadrados.
A cada vitória, os chefes vencidos eram depostos e substituídos pelos “Curacas”, funcionários que lhe eram leais, e a terra conquistada era dividida entre camponeses, igreja e Estado, mas a maior parte ficava em seu poder. Inca Pachacutec criou e nomeou ainda a classe dos serviçais e a da criadagem que foi chamada “yanaconazgo”. Finalizada a expansão planejada, Topa Inca Yupanqui dedicou-se à reorganização do país, e com este fim realizou o primeiro censo de que se tem noticia na América Central.
O Estado: - Na sociedade Inca o Estado detinha a propriedade da terra – esta era dividia para ser explorada comumente, e eram dele ainda os minérios e os rebanhos de lhamas. Em troca, o Estado protegia a população da fome, dos riscos da mineração, de qualquer outro perigo ou necessidade, mas o preço que cobrava era muito alto: os cidadãos eram mantidos sob um controle tão rígido que não podiam deixar sua comunidade sem uma permissão específica, mesmo se eram eles, através do seu trabalho, que sustentavam os nobres e os sacerdotes.
As terras, mesmo se eram divididas entre o estado, a igreja e o povo, a este ultimo só era cedida a quantidade mínima para que cada família, trabalhando, tivesse como se alimentar. Para manter estes controles, as terras eram muito bem demarcadas, mas, se fossem abandonadas ou descuidadas, o responsável era punido como se tivesse cometido um grave delito.
As terras que o povo recebia, como já dito, eram por ele mesmo cultivadas, contudo, quando chegava à época da preparação da terra, da sementeira ou colheita, das terras dos sacerdotes ou do estado, vinham os funcionários responsáveis para avisar que era chegado o momento de ir trabalhar nos “campos sagrados”. As colheitas feitas nestas terras eram armazenadas em depósitos específicos e serviam para alimentar os nobres e sacerdotes.
A quase totalidade dos lhamas que se alimentavam nos pastos das zonas montanhosas também pertencia ao estado, e destes, na época da tosa, era retirada à lã que, recolhida em armazéns fechados, era depois parcialmente distribuída para o povo para atender suas necessidades.
A propriedade dos camponeses se limitava a uma casa - em anexo estábulo e celeiro - e pequenos animais domésticos, como cachorro, cavalo, patos e galinhas, além dos instrumentos para o trabalho.
A distribuição das terras para uso familiar era tão bem organizada que os camponeses que viviam nas montanhas recebiam também terras nas zonas costeiras, e vice versa, para diversificar a produção agrícola. Do povo, ainda, eram exigidas outras tarefas como o serviço militar, a construção de estradas, pontes, fortalezas etc. E este serviço era chamado “mita”.
O período mita, cobrado de todos os cidadãos saudáveis do sexo masculino entre os dezoito e os cinqüenta anos de idade, a exceção dos artistas e artesões, não era idêntico, porque em algum caso era muito longo. Os únicos isentos eram os “yanaconas”, jovens que eram separados muito cedo de suas famílias para exercer trabalho nas cortes ou na agricultura. Só que estes, diferentemente daqueles que serviam mita, não regressavam mais a seus lares porque no tempo eram destinados a assumir funções de maior responsabilidades, podendo até se tornar curacas.
Para as moças eram reservadas outras atividades: as mais belas e inteligentes, eram levadas para os templos onde eram educadas. Entre estas, as mais dotadas, eram treinadas para se tornarem sacerdotisas do deus sol, e como tais, por serem obrigadas a permanecerem virgens, eram coagidas a fazer votos de castidade perpetua. As demais, eram preparadas para os sacrifícios. Aquelas que não se sobressaiam pela beleza, chamadas “huasipascunas”, ou seja, moças descartadas, eram designadas ao trabalho comunitário.
Religião: - Durante o império Inca era o estado que sustentava a Igreja e a ela cabia curar enfermos, fazer adivinhações, interpretar presságios e garantir, através dos rituais, safras sempre mais abundantes.
Viracocha era o deus supremo, imortal, e criador da Terra e do Universo, mas os Incas adoravam também o deus inti, o Sol, considerando-o o deus principal e protetor da dinastia real.
Inti era representado por uma forma humana da qual saiam raios, e seu templo havia sido erguido em Coricancha. Depois dele vinha o deus illapa, do trovão, da água e da chuva, pois acreditavam que estas dádivas provinham de fontes celestiais. Para eles a lua, que chamavam Manaquilla, era a esposa do Sol. Outras deusas muito importantes eram: Pachamama da terra - responsável pela agricultura, e Mamacocha do mar - responsável pela pesca.
O planeta Vênus, assim como o grupo das Plêiades, também merecia muita consideração, uma vez que acreditavam que enquanto o primeiro cuidava da humanidade, o segundo protegia as sementes.
Os sacrifícios aos deuses, assim como as oferendas, eram feitos em altares que se localizavam nos longos caminhos que os Incas trilhavam para se deslocar de um lugar ao outro, chamados “huacas”. Existiam também altares só para orar que eram chamados “apachetas”.
Os Incas - como os Celtas - reverenciavam os cumes das montanhas cobertos pelas neves eternas, porque para eles os deuses não se encontravam nos templos, mas em qualquer lugar ao ar livre. Por esta razão era nestes locais que realizavam suas cerimônias religiosas.
O culto aos mortos era uma das atividades religiosas mais importantes e o cerimonial, como faziam os Egípcios, incluía a mumificação do corpo e seu retorno ao lar depois de algum tempo.
O sumo sacerdote, chamado Villac Umu, era sempre um parente do imperador, e sob o seu comando havia um corpo sacerdotal hierarquicamente muito bem organizado. Os fieis, para terem seus pecados perdoados, como faziam os egípcios às margens do Nilo, deviam se confessar diante de um destes sacerdotes.
A responsabilidade principal dos sacerdotes era prever o futuro, curar enfermos, e conservar a ordem no presente. Para executar as duas primeiras tarefas ingeriam alucinógenos e estimulantes para, através do transe, entrar em contato com os espíritos e deles receber a ajuda e os esclarecimentos que precisavam.
Havia alguns oráculos como Rimac e Pachacamac, e quando a ordem presente era mantida através de sacrifícios aos deuses, de maneira especial ao deus Sol de quem dependia o amadurecimento das colheitas, a chuva e a multiplicação dos rebanhos, os sacrifícios consistiam em oferecer plumas, pedras preciosas, milho ou animais como os coelhos. O sacrifício maior realizava-se através da morte de um Lhama, ou outros animais, porque os humanos eram poucos freqüentes uma vez que se limitavam aos casos considerados críticos, ou seja, terremotos, guerras ou pestes. Nestes momentos as vitimas eram sempre crianças pois eram considerados os sacrifícios mais valiosos.
A cerimônia mais importante era a de Inti-Raimi, realizada no mês de junho por ocasião do solstício de inverno, e para esta festa as personalidades de todas as províncias do império iam a Cuzco. Reuniam-se ao amanhecer na grande praça diante do templo do Sol, e quando os primeiros raios da aurora começavam a iluminavam o céu, se prostravam para saudar o sol nascente, aguardando que o imperador terminasse de oferecer, em um copo de ouro, um licor ao deus Sol (o licor era derramando em um conduto que o levava até sua imagem), para se levantarem.
Terminada a liturgia, o imperador bebia em outro copo o mesmo licor, e depois se deslocava para o templo onde todos depositavam, aos pés do deus Sol, suas oferendas em ouro e prata. Simultaneamente, um sacerdote procedia ao sacrifício de uma Lhama preta, lhe arrancava os pulmões e neles lia os presságios. Se estes eram desfavoráveis, todos se retiravam e a festa era encerrada, mas se eram favoráveis, muitos outros animais eram sacrificados para comemorar os bons agouros com um grande banquete.
A nobreza: - O imperador, o chefe supremo dos Incas, para o seu povo era um deus vivente, e como tal, tinha poderes absolutos. Seus filhos, assim como os filhos dos nobres, escolhiam como esposas às filhas dos monarcas vizinhos, até que esta prática foi considerada responsável pela perda de pureza na linhagem que consideravam divina. Para evitar isso, como os Egípcios, os varões passaram a se casar com as respectivas irmãs, mas sem abrir mãos de manterem um arem de esposas secundárias, chamadas “às escolhidas”, que lhes davam muitíssimos filhos. Estes filhos, no tempo, foram organizados em um grupo chamado “panaca” que passou a constituir a grande nobreza.
Os sucessores ao trono eram os filhos legítimos, ou seja, os gerados pela verdadeira esposa, e o escolhido, sempre pela sua inteligência, era educado pelo pai porque só um deus podia educar outro deus.
O imperador não podia ser visto, desta forma, em todas as entrevistas que cedia, permanecia protegido por uma cortina. Quando era agendada uma visita “cara a cara”, o visitante devia estar descalço e se curvar para indicar sua submissão.

O adorno mais característico do Imperador era uma faixa de dez centímetros de largura confeccionada com cordéis de ouro, e quando se deslocava de um lugar para o outro, era transportado em um beliche, carregado por dois servos, com toldos e cortinas bordadas para que fosse impossível velo.
Suas leis eram aceitas por todos os Incas sem criticas ou discussões, independentemente de quais fossem, pois eram leis de um deus.
Os nobres mais importantes eram seus descendentes diretos, e se caracterizavam por se adornar com grandes orelhas de ouro, enquanto que os de menor importância eram os curacas. Todos, entretanto, possuíam os mesmos privilégios: não pagavam impostos, eram custeados pelo governo, recebiam terras como prêmio, podiam possuir as esposas que quisessem, serem transportados como o imperador e usar guarda-sóis e roupas parecidas com as do Inca maior.
Os guerreiros: - As guerras Incaicas tiveram tantos sucessos que não foram igualadas por nenhum outro povo índio-Americano. As primeiras tiveram motivações econômicas, mas as que vieram depois aconteceram para satisfazer o ego do imperador que desejava continuamente resultados maiores dos que haviam sido alcançados pelos seus antecessores. Não exigiam tributos dos povos conquistados como faziam os Astecas, apenas os obrigavam a adotar a sua religião, seus deuses e se organizarem como eles estavam organizados.
Às vezes, as regiões conquistadas eram tão pobres que ao invés de contribuírem economicamente representavam um dispêndio maior, mas, por se terem organizado de uma forma que nivelava a todos, as guerras eram o único meio de se sobressair.
Nas guerras a preferência era pela luta corpo a corpo, mesmo porque ainda não conheciam o arco e flechas. Neste período ainda se usava a funda - um instrumento para o arremesso de pedras - as boleadeiras, as lanças feitas de madeira, escudos, espadas feitas com madeira muito dura e machados de guerra com a parte cortante feita de cobre ou lascas de pedra vulcânica afiada.
A guisa de armadura, para se protegerem, usavam roupas de algodão acolchoado. A proteção era tão eficaz que mais tarde, quando os espanhóis as conheceram, passaram a utilizá-las também descartando as que tinham até então utilizado que por serem feitas de aço eram quentes e pesadas. Para proteger a cabeça utilizavam um casco de madeira ou cana trançada.
Os alimentos eram assegurados através de uma rede de depósitos de provisões que era mantida, ampliada ou alterada, de acordo com as necessidades militares, utilizando lhamas. Os soldados Incas acreditavam que seus ídolos os protegiam durante as batalhas, por isso carregavam pequenos altares e estatuetas de familiares falecidos com este fim.
Depois de cada vitória era feito um censo da população sobrevivente, e depois dele era erguida uma nova capital em uma área com a extensão necessária para que a terra disponível, dividida entre as famílias, lhe fornecesse o sustento. Mas se o povo vencido era belicosos, a população era transferida para uma região suficientemente distante para inibir possíveis motins.
Durante estes anos os engenheiros militares construíram uma rede de “caminhos” que se estendia da Colômbia até a Argentina, e ao longo deles ergueram pousadas e pequenos abrigos para uso dos soldados que permaneciam de sentinela, e para o descanso dos mensageiros depois que eram substituídos.
Economia: - A economia incaica era agrícola e repousava sobre a produção de batatas e milho, além de “poroto” - feijão, “zapallo”- abóbora, tubérculos, goiabas e algodão. Os excrementos dos lhamas eram utilizados para fertilizar a terra. A cocaína, cultivada em áreas selvagens, utilizada nas cerimônias religiosas e até para fortalecer os soldados durantes as batalhas, era cuidada por moças.
Para adequar ao plantio áreas de natureza montanhosa, utilizavam o mesmo sistema das antigas tribos que habitavam a região. Esse consistia em preparar terraços de terra ao redor das montanhas que de um lado se apoiavam nela e do outro em um parapeito feito de pedras. Para mantê-los férteis, eram providos de um sistema de irrigação e deságüe.


Educação: - A educação no império incaico era reservada aos nobres, e estes estudavam em escolas na cidade de Cusco onde aprendiam matemática, aritmética e astronomia, ciências que eram consideradas imprescindíveis para incrementar a agricultura, medir a terra, calcular as estações e os melhores tempos para a semeadura e respectiva colheita.
Os sábios - amautas - responsabilizavam-se pelo ensino dos preceitos religiosos, dos conhecimentos políticos, históricos e o manejo dos “quipos” (conjuntos mnemônicos para calcular), feitos com cordões de cores variadas, com nós, que eram utilizados também para transmitir mensagens.
O povo não tinha acesso à educação. O governo procurava, porém, que todos os habitantes do império aprendessem o “quéchua”, a sua língua, não tanto por razões educativas, mas por interesse político.
Os Incas construíram um poderoso império que alcançou seu apogeu no mesmo período em que Cristóvão Colombo iniciava sua viagem da Espanha rumo ao desconhecido. Este Império se estendeu desde as serras do sul da atual Colômbia, até o norte do Chile e da Argentina, e desde a costa do Oceano Pacifico, até o oeste do vale do rio Amazonas.
Eram um povo que tinha raízes nas serras, e deste lugar dominaram, através das guerras, os povos de outras zonas, estabelecendo sua capital na cidade de Cuzco que consideravam o centro do universo.
Seu império, que eles chamavam “Tahuantisuyo” - as quatro partes do mundo - estava dividido em quatro regiões que por sua vez se subdividiam em províncias. O império era comandado pelo Inca maior e as regiões eram dirigidas por governadores ou chefes locais chamados curacas.
A sociedade Inca baseava-se no regime de reciprocidade e redistribuição. A reciprocidade consistia na pratica da solidariedade e ajuda mutua entre todos os membros de um “ayllu” - ayllu era uma comunidade de camponeses unida por vínculos familiares que tinham antepassados em comum e habitava o mesmo território. Os que integravam estas comunidades ajudavam-se mutuamente nas semeaduras e nas colheitas, e quando havia um casamento toda a comunidade colaborava na construção da casa destinada aos recém casados.
Os “ayllu” pagavam tributos em produtos e trabalho: os camponeses entregavam ao Estado parte da sua colheita, trabalhavam gratuitamente nas terras do imperador e da sua família, nas dos grupos privilegiados, e ainda nas terras do deus Sol, cujos produtos serviam para sustentar o culto aos deuses mais importantes. Esta doação de produtos e horas de trabalho por parte dos camponeses, demonstrava seu “reconhecimento e aceitação” aos dois diferentes níveis de autoridade que existiam na sociedade da qual participavam.
Eles recolhiam a parte dos produtos que lhe cabia entregar nos armazéns reais, nos quais funcionários especializados os contabilizavam e posteriormente comunicavam, produto a produto, os quantitativos existentes a seus colegas da Capital. Era este o método utilizado para que o imperador tivesse ciência dos estoques armazenados, bem como quais eram as regiões do império em que havia falta ou excesso de alguns produtos. Deste modo, quando devido às secas ou outras catástrofes, as colheitas de algumas regiões eram prejudicadas ou destruídas, o Estado redistribuía os produtos estocados para alimentar as comunidades das áreas prejudicadas. Também utilizava os recursos acumulados para custear as campanhas militares e para premiar os funcionários que se destacavam na execução do trabalho que lhe era atribuído.
Os Incas, como os demais povos primitivos ao redor do planeta, consideravam que os fenômenos naturais eram presságios ou profecias de sucessos ou catástrofes, mas ao mesmo tempo tinham a certeza que seus deuses, os seres brancos e barbudos conhecidos como Quetzalcoatl e Viracocha, voltariam para salvá-los em caso de perigo. Por esta razão, como vimos, quando os espanhóis invadiram o continente, eles acreditaram que eram os deuses que estavam voltando.
Daquela época permanece um texto escrito por um “cronista indígena” que interpreta assim o acontecido: ”Pensábamos que eran gente grata y enviados por Viracocha, pero paréceme que há salido al revés, hermanos, que estos que entraron a nuestras tierras no son hijos de dios sino del demonio”.
Machu Picchu - Peru

(15)- ISLAMISMO

Os antigos egípcios chamavam Ara-Bar, que significa “vagabundo da areia” os nômades semitas que percorriam as areias escaldantes do deserto. Ara-Bar, são todos os que posteriormente passaram a serem conhecidos como hebreus e árabes. É difícil estabelecer a origem destas duas etnias, sabe-se tão somente que os dois povos eram semitas.

Antes da fundação do Papado, em 607, as forças espirituais se viram compelidas a um grande esforço no combate contra as sombras que ameaçavam todas as consciências. Muitos emissários do Alto tomam corpo entre falanges católicas no intuito de regenerar os costumes da Igreja. Embalde, porém, tentam operar o retorno de Roma aos braços de Cristo, conseguindo apenas desenvolver o máximo de seus esforços no penoso trabalho de arquivar experiências para as gerações vindouras.
Numerosos espíritos reencarnam com as mais altas delegações do plano invisível. Entre esses missionários, veio àquele que se chamou Maomé, ao nascer na Meca no ano 570. Filho da tribo dos Coraixitas, sua missão era reunir todas as tribos árabes sob a luz dos ensinos cristãos, de modo a organizar-se na Ásia um movimento forte de restauração do Evangelho do Cristo, em oposição aos abusos romanos, nos ambientes da Europa. Maomé, contudo, pobre e humilde no começo da sua vida, que deveria ser de sacrifícios e exemplificação, torna-se rico após o casamento com Khadidja e não resiste ao assédio dos Espíritos das Sombras, traindo nobres obrigações espirituais com as suas fraquezas.
Dotado de grandes faculdades mediúnicas inerentes ao desempenho dos seus compromissos, muitas vezes foi aconselhado por seus mentores do Alto, nos grandes lances da sua existência, mas não conseguiu triunfar das inferioridades humanas. É por esta razão que o missionário do Islã deixa entrever, nos seus ensinos, flagrantes contradições. A par do perfume cristão que se evola de muitas das suas lições, há um espírito belicoso, de violência e de imposição; junto da doutrina fatalista encerrada no Alcorão, existe a doutrina da responsabilidade individual, divisando-se através de tudo isso uma imaginação superexcitada pelas forças do bem e do mal, num cérebro transviado do seu verdadeiro caminho. Por esta razão o Islamismo, que poderia representar um grande movimento de restauração do ensino de Jesus, corrigindo os desvios do Papado nascente, assinalou mais uma vitória das Trevas contra a Luz cujas raízes era necessário extirpar.
Fonte: livro “A Caminho da Luz” pelo espírito de Emmanuel
e psicografado por Francisco Candido Xavier.

Se a bíblia for confiável, ou melhor, se ao nível destes aspectos traduz a verdade, o nome hebreu teria origem em Heber, descendente de Sem, filho de Noé e ascendente de Abrão, o patriarca comum das duas religiões: Da Judaica, que descenderia de Isaac, filho de Abrão e de Sara, e da muçulmana que, segundo Maomé, descenderia de Ismael, o outro filho de Abrão com a outra mulher à qual se teria unido atendendo solicitação de sua própria esposa, Sara, naqueles anos em que não conseguia lhe dar um filho.
O texto bíblico estabeleceria desta forma uma estreita ligação entre judeus e árabes, ligação essa aparentemente confirmada por aqueles estudiosos que colocam as duas estirpes como descendentes dos misteriosos “habiru” ou “arameus”, nômades que percorriam todo o oriente entre os anos 2.200 e 2000 a.C., de onde teria nascido a língua aramaica.
Uma separação, mais do que uma divisão destes povos, aconteceu (uma das versões) quando parte da descendência de Abrão, por ser muito numerosa, vai para o Egito onde, depois de viver em plena paz, devido a mudanças políticas que ocorreram sob os Faraós Ramsés II, e Menepta - seu filho e sucessor - passa a ser perseguida e por isso, sob a liderança de Moises, foge para a Palestina onde consolida um reino com um vinculo religioso entre as duas estirpes. Até hoje os árabes não só reconhecem Moises como profeta, mas até usam seu nome “Moslen”. Isso diz respeito aos Ara-Bar, nômades que viviam no Norte, porque os sedentários, os que formavam o verdadeiro coração da Arábia, ocupavam o Golfo Pérsico, Omã e o Yemen.
Algumas destas tribos, nestes anos, se deslocaram para a Palestina e se estabeleceram no oásis de Yathrib - Medina, e na Meca, na tribo dos Quraichitas - tribo árabe a qual pertencia Maomé - estes também sedentários.
Segundo a arqueologia, as primeiras formas políticas árabes retroagem ao V século a.C. sob o reinado dos Sabei, nômades habitantes do reino de Saba, com centro em Ma´ rib e praticante da agricultura, enquanto o reino dos Minei, Ma´in, situava-se nas regiões setentrionais e a capital era Karna, a atual Sa´dah.
Os Sabei foram os primeiros árabes que se civilizaram. Estes aparecem nas inscrições cuneiformes, enquanto o mais antigo referimento na leitura grega se encontra na ”Historia Planetarum” de Teofrasto, o filosofo grego que sucedeu a Aristóteles na direção do Liceu no ano 228 a.C.
A primeira pátria dos Sabei localizava-se no ângulo sul-oriental da península. A fertilidade de seu território devido à chuva, sua localização privilegiada perto do mar e seu posicionamento geográfico/estratégico no caminho da Índia, foram fatores determinantes no seu desenvolvimento. Produziam especiarias, mirra e outros produtos aromáticos como o incenso, que eram utilizados seja como tempero, assim como nos cerimoniais religiosos. O comercio destes produtos, inicialmente feito com dificuldades pelas rotas do mar Vermelho, forçou os Sabei a abrir uma estrada entre o Yemen e a Síria - longo a costa Ocidental - atravessando a Meca e a Petra - cidade da antiga Arábia e capital dos Nabateus.
Ao longo deste percurso este povo fundou inúmeras colônias, e com muita probabilidade são os Sabei citados nos velhos documentos Assírios e Hebraicos.
Os Sabei formavam o ramo mais ilustre da inteira família da Arábia meridional - da qual participavam os Minei - e os reinos que estes fundaram jamais tiveram características militares. Iniciaram sob a forma de teocracias e terminaram como dinastias laicas. Seu período, segundo a escola arabista, manteve-se desde 750, até 115 a.C.
Para facilitar o entendimento a respeito do Islã, torna-se oportuno enfocar, mesmo superficialmente, o que foi a Arábia - península da Ásia sul-ocidental - antes do advento de Muhammad (Maomé na língua árabe). Isto é oportuno porque a época pré-Islamica foi totalmente diversa da civilização árabe-Islamica que a sucedeu.
Antes de 662 a.C. - data que corresponde á fuga de Maomé e de seus seguidores da Meca para Medina - não existia uma nação na acepção da palavra, mas um sistema tribal, porque desde os tempos remotos os árabes habitavam estes territórios áridos, infinitos, e em grande parte desertos. Este povo aprendera a encontrar água escavando poços, e eram estes poços que determinavam os trajetos que as caravanas deviam percorrer para atravessar o deserto. Nos oásis elas descansavam, ou eram o habitat destes povos nômades que vez ou outras eram também pastores.
O camelo - seu meio de transporte e carga, além de alimentação - havia sido domesticado 2000 anos a.C., e seu leite, com as tâmaras que cresciam nos sopés mais irrigados, constituíam a alimentação básica dos beduínos.
Algumas populações semi-nomades, sediadas nos locais em que as condições climáticas o permitiam, cultivavam cereais, legumes e frutas. Estas tribos viviam estreitamente ligadas umas a outras, e seu relacionamento era tradicionalmente pacifico e de natureza econômica.
As caravanas que se deslocavam até as regiões mais férteis da Arábia do sul, para carregar mercadorias de produção local ou trazidas da Índia, África ou extremo Oriente, para depois revender na Arábia do norte e no médio oriente, eram obrigadas a pagar um pedágio para poder atravessar o território que eles controlavam.
Salvaguardadas as distancias, entre nômades e sedentários processavam-se muitas trocas que eram realizadas em numerosos mercados e feiras em oásis ou perto de santuários, que, quando ativos, assumiam um caráter permanente.
Nasciam assim cidades no meio do deserto, alem das que surgiam nos oásis, nas quais a estrutura social assemelhava-se a dos nômades. As células base eram pequenos grupos humanos cujo limite, em termos numéricos, era determinado pelas condições de habitabilidade do local, sendo que a água e os alimentos eram basicamente os fatores determinantes.
O relacionamento entre eles, normalmente pacífico, só era alterado quando a pobreza, freqüente entre estes grupos, impunha esta condição e estas contrafações se manifestavam através de assaltos (ghazwa) para roubar bens dos mais afortunados. Entretanto havia normas, mesmo se não formalmente escritas, e entre elas havia a que afirmava que a vida devia sempre ser preservada. Não respeitá-la significava incorrer nas conseqüências ditadas pelo código de honra utilizado: olho por olho e dente por dente. A vingança (ta-ar), era a coluna mestra da sociedade dos beduínos e se baseava no igualitarismo tribal.
Existiam tribos mais ricas e outras mais pobres, mas este diferencial normalmente era condicionado pelos recursos existentes nas regiões habitadas, ou situações anormais como secas prolongadas, pragas - como a de gafanhotos - mesmo se atemporais naquelas regiões, ou outros fenômenos naturais.
Os árabes admiravam a eloqüência, seja para dar um conselho ou para finalizar uma situação que causava embaraço. Mais admirada, no entanto, era a poesia que declamava o amor, a alegria ou dor, mas era principalmente utilizada para exaltar pessoas, feitos, coisas, ou ainda satirizar o inimigo. Naturalmente havia o direito de replica .
A religião, para aquele povo que diariamente lutava até com risco de vida para enfrentar as condições ambientais, não constituía uma preocupação. Acreditavam que a terra era povoada por espíritos e que estes podiam se manifestar sob a forma de animais, arvores, rochas, ou em outros formatos quaisquer. E para obter proteção recorriam a um grande numero de divindades como, alias, acontecia em todas as civilizações antigas.
Entre elas as mais conhecidas eram: Yaghuti, Yang, Nasr, Suwa, Wadd e outras como o deus do Sol, do amor, da morte etc., para as quais construíam templos e faziam oferendas e sacrifícios.
Os árabes, assim como outros povos aryas, praticavam a adivinhação analisando o vôo dos pássaros, serviam-se da magia e para se protegerem utilizavam amuletos.
O seu ideal de moralidade (o homem modelo), possuía no seu grau máximo a virilidade (moruwwa), que incluía à fidelidade a seu grupo, a coragem, o respeito à palavra dada, a bravura para suportar a dor e a hospitalidade, cujos hospedes, se fosse o caso, deviam ser defendidos até com a vida. Entre todas as suas crenças, aparentemente, nenhum delas referia-se à vida após a morte.
No sul do país, havia uma região que mesmo fazendo parte integrante da península era muito diversa, cujo nome - lembrado pelos anciãos - era “Arábia feliz”, porque banhada pelo mar vermelho e Pérsico, conseqüentemente com numerosos portos. Possuía, ainda, clima saudável e era rica em vegetação e animais. Nas suas montanhas, alcançadas pelas monções do oceano indico, havia terras férteis porque com a água abundante a agricultura era muito produtiva. Estes árabes do sul, que não se reconheciam como tais, falavam uma língua parecida com o árabe, e sua civilização, cidadã e sedentária, era sustentada pela agricultura e o comercio. Seus estados chamavam-se: Saba, Qutabán, Awsan, Ma´ in, Hadramout e outros, e cada um deles era dirigido por uma tribo dominante e privilegiada.
Os árabes do Sul, hábeis arquitetos, demonstravam seus dotes artísticos de varias formas, construído, inclusive, sofisticados sistemas de irrigação.
Sua religião possuía muitos deuses, entre eles alguns daqueles de seus irmãos do norte, e para cultuá-los ergueram inúmeros templos cuja administração era confiada aos sacerdotes.
Entre estas populações sedentárias - que viviam luxuosamente em Estados muito bem organizados - e as nômades - ainda semi-selvagens do norte - havia grandes diferencias. Depois do triunfo do Islã no VI século d.C., os árabes do sul rapidamente se converteram e se uniram aos demais movidos pelo sonho da conquista do mundo.
As lutas dos grandes impérios bizantinos e sassânidas, tiveram repercussões muito importantes no mundo dos nômades. A conquista da Arábia do sul pela Etiópia, e depois pelos Persas, trouxe como conseqüência o declínio desta civilização.
As guerras internas entre os príncipes, assim como as invasões externas que o Islã sofria, mudaram o rumo dos beduínos. Agora eles podiam cobrar muito mais para servirem de guias no deserto, ou como mediadores entre a compra e venda de mercadorias. Com a experiência que com o tempo acumularam, muitos deles revelaram-se espertos homens de negócios e desenvolveram potencialidades ainda maiores. Foi sob este novo enfoque comercial que as cidades começaram a prosperar, sobretudo a Meca, dando os primeiros passos para a extinção da sociedade tribal.
Esta transformação econômica incluiu outra, a intelectual e moral, porque não era mais a tradicional qualidade do homem do deserto que abria a estrada do sucesso, mas a capacidade de iniciar, desenvolver e concluir negócios sempre maiores.
O desejo desenfreado de possuir, sem jamais estar satisfeito, começou a se alastrar, e por redundância, ampliou-se à ênfase aos interesses pecuniários em detrimento dos que até então haviam sido ditados pelos laços de sangue. Estes paulatinamente tornaram-se cada vez menos importantes.
Os pobres e os honestos passaram a sofrer diante da crescente arrogância dos novos ricos, e o velho ideal tribal, “olho por olho e dente por dente”, passou a cair em desuso entre as duas castas n a medida em que os novos valores se difundiam.
As grandes religiões monoteístas, judaísmo e cristianismo, não somente estavam presentes na península arábica, mas exerciam seu fascínio, e com elas as varias formas de sincretismo religioso que emanava do seu contesto central, além do paganismo de concepção monoteísta. Maomé (Muhammad), apareceu nesse momento.
Quando Maomé nasceu, em 570 d.C., na Meca, já era órfão de pai, porque este morrera algumas semanas antes, e seis anos depois foi acolhido pelo avo porque sua mãe também falecera. Alguns anos mais tarde, devido a ancianidade do avo, esse também o deixou.
O pequeno Maomé, então, foi acolhido por seu tio Abu Talib, um homem respeitado pela sua integridade e generosidade, mas pobre.
A cidade da Meca, na epoca um centro comercial em expansão, era habitada por comunidades hebraicas particularmente importantes, enquanto os Árabes cristãos habitavam o Yemen e Nejran, onde se haviam estabelecido no IV século, e em Hira, na fronteira Persa, nas margens do rio Eufrates. A presença destes Judeus e cristãos, direta e indiretamente, contribuía para que as idéias monoteístas se desenvolvessem na população, e conseqüentemente na família de Maomé.
Em verdade, de acordo com a tradição muçulmana, Maomé teria conhecido o cristianismo na feira de “Oqaz”, lugarejo perto da Meca, onde teria ouvido um pregador nestoriano. Nestório fora o Patriarca de Constantinopla em 428, mas havia sido deposto porque o concilio de Efeso, em 431, o considerara herege. Sua doutrina, chamada nestorianismo, via em Jesus duas pessoas: a divina e a humana, e considerava Maria, sua mãe, um ser humano comum. Alem disso o nestorianismo, como o judaísmo, não reconhecia o pecado original.
Tem-se como certo que a origem das concepções de Maomé a respeito do juízo final, do destino da alma, da vida futura e a ressurreição, assim como suas alusões aos profetas - os principais são Adão, Noé, Abrão e Jesus, alem de Maria e o livro Hebraico Pentateuco - não podem ter outra fonte a não ser as duas religiões que antes dele já eram monoteístas, mesmo porque os muçulmanos praticavam a circuncisão mesmo antes de existir o Alcorão. Alguns estudiosos chegam a afirmar que estes conhecimentos teriam sido colhidos por Maomé em fontes Judeu-gnósticas.
Resumindo, alguns testos árabes e o próprio Alcorão, indicam que mesmo antes de Maomé já havia uma tendência monoteísta em alguns personagens da região, e estes não eram judeus, cristãos, e muito menos pagãos. Deduz-se portanto que eram os sábios (Hanif), aqueles que percorriam aquelas terras praticando a caridade, cuja tradição se consolidara na Arábia muito antes das predicações de Maomé, e a doutrina que eles pregavam se estendia pelas mesmas regiões que posteriormente adotaram o Alcorão.
Maomé, depois que passou a residir com seu tio Abu Talib – que era um caravaneiro – passou a acompanhá-lo em suas viagens entre a Síria e a Palestina. Deste modo, ele também acabou se transformando em um mercador.
Conta-se que em uma determinada ocasião, um mercante do Yemen foi vitima de uma falcatrua praticada por um grupo de indivíduos. Sem ter outro meio para defender seus interesses, este escreveu uma poesia satírica e começou a recitá-la em publico para que todos tomassem conhecimento do acontecido. Os anciões, após tê-la ouvido, se reuniram e decidiram instituir uma ordem com a finalidade de proteger aqueles que na cidade viessem a ser oprimidos, fossem eles quem fossem. O jovem Maomé foi um dos primeiros a se filiar a essa organização, e com a responsabilidade que lhe foi delegada, passou a ajudar os habitantes da cidade a resolver suas contendas. Esta organização foi chamada “Hilf al-Fudul” e foi instituída no ano de 591.
Diz-se que um dia à “Kaaba” se incendiou e foi completamente destruída. Reerguida - com a participação de todos os clãs da Meca - chegou o momento de posicionar a sagrada pedra negra no lugar que havia sido preparado para este fim, momento difícil de ser superado porque todos os presentes exigiam esta honra para si. Sem alternativa os representantes dos clãs concordaram em nomear um arbitro para resolver o problema e o escolhido acabou sendo Maomé. Este pegou um lençol branco, o abriu no chão, e, colocando em seu centro a pedra, solicitou que todos os chefes dos clãs agarrassem o lençol para transportá-la. Isso feito, coube a Maomé colocá-la no lugar escolhido. Por este feito Maomé passou a ser chamado “al-amin” - o confiável.
A Kaaba é uma construção que é reverenciada pelos muçulmanos na mesquita sagrada de Al Masjid Al-Haram na Meca, e é considerado pelos devotos do Islã o lugar mais sagrado do mundo, localizada nas coordenadas 21°25'24"N e 39°49'24"E.
A Kaaba é uma construção cúbica de 15,24 m de altura cercada por muros de 10,67 m e 12,19 m de altura. Ela está permanentemente coberta por uma manta escura com bordados dourados que é regularmente substituída.
Em seu interior encontra-se a Hajar el Aswad, também chamada "Pedra Negra", uma pedra escura de cerca de 50 cm de diâmetro que é uma das relíquias mais sagradas do Islã. Ela é provavelmente o resto de um meteorito.
A Kaaba é o centro das peregrinações (hajj), e é para onde o devoto muçulmano volta-se para as suas preces diárias (salat).
Quando o profeta Maomé repudiou todos os deuses pagãos e proclamou o Deus único, Aláh, ele não somente poupou a Kaaba, mas a transformou de um centro de peregrinarão pagã em um centro da nova fé.
No período pagão a Kaaba provavelmente simbolizava o sistema solar, abrigando 360 ídolos, sendo assim uma representação zodiacal. O edifício foi várias vezes restaurado, sendo que a atual construção é datada do século VII, substituindo a mais antiga que foi destruída no cerco de Meca em 683.
Segundo algumas lendas islâmicas, a Kaaba foi construída por Adão, o primeiro homem, para adorar ao Senhor Deus. Segundo o Alcorão, os fundamentos da Kaaba foram estabelecidos por Abraão, que recebeu a pedra negra do anjo Gabriel. Hoje para o muçulmano a Kaaba representa a casa de Deus, e é para ela que se volta em suas preces diárias, porque para ele representa não só o centro do mundo, mas o próprio centro do universo.
Segundo algumas fontes esta pedra originalmente era branca, tornando-se preta com o passar dos anos. Pedras negras, que foram consideradas sagradas, são citadas nas lendas de inúmeros povos antigos, inclusive pelos romanos. Entre os árabes já se falava dos “poderes” dessa pedra muito antes do islamismo, ou seja, desde à epoca em que as religiões pagãs praticavam seus cultos.
Quando Maomé tinha 23 anos, portanto em 594 d.C., o tio o incumbiu de levar para a Síria uma caravana de propriedade de uma viúva rica chamada Khadijah. Esta senhora, que apreciara imensamente Maomé, no ano seguinte o procurou para lhe perguntou se queria casar com ela. Ele aceitou mesmo sendo ela quinze anos mais velha, e desta união nasceram seis filhos dos quais só sobreviveu um, Fátima, a filha predileta que muito depois viria a desposar Ali, filho do seu tio Abu Talib.
No dia 27 do mês do ramadan do ano 611, enquanto meditava - Maomé se habituara a ir até uma gruta no monte Hira para fazê-lo - ouviu uma voz. Assustado, perguntou que era. “Declama” respondeu-lhe a voz. Não sou daqueles que declamam, redargüiu Maomé. Então, se viu agarrado e apertado com muita força, para em seguida ser largado enquanto a voz novamente dizia: quero que você declame!
Depois de ser agarrado e largado por tres vezes, Maomé mudou de idéia e perguntou: o que devo declamar? A voz respondeu: declama em nome do teu Senhor, daquele que criou o homem de uma gota de sangue. Ninguém é tão generoso como o teu Senhor. É ele que te ensinou a usar o cálamo (tubo ou canudo de palha ou de cana; flauta campestre; instrumento utilizado para escrever na antiguidade), que ensinou ao homem o que ele não sabia (XCVI, 1-5). Maomé então começou a declamar, e quando terminou a voz o nomeou emissário de Deus.
Retornando ao lar, apressou-se a relatar o que acontecera a sua esposa, mas estava tão tremulo que Khadijah teve que envolvê-lo em um manto. Acalmado, ela então lhe disse: Maomé, na gruta no monte Hira você foi escolhido para uma revelação divina. A seguir, quando Maomé começou a sua pregação, ela foi a primeira a se converter ao Islamismo.
Maomé, inicialmente começou a difundir sua mensagem em segredo: primeiro aos amigos mais íntimos, depois os membros do seu grupo e, na medida em que seus seguidores aumentavam, começou a pregar publicamente na Meca e nas comunidades vizinhas. Os habitantes da Meca, contudo, não querendo que suas crenças religiosas e respectivos deuses fossem desprestigiados, deflagraram uma campanha contra Maomé e o seu pequeno grupo de seguidores, campanha essa que tentaram concluir amarrando-os nus deitados na areia do deserto, colocando grandes pedras sobre seus peitos e despejando sobre seus corpos ferro fundido. Alguns deles morreram, mas os que sobreviveram não negaram a sua nova fé. Quando as perseguições tornaram-se insuportáveis, Maomé sugeriu que o grupo deixasse a Meca e fosse para a Abissínia.
Os cidadãos da Meca então mudaram de tática: Porque Maomé continuava pregando se ninguém queria ouvi-lo? O que ele de fato ele queria, riqueza talvez? Tornar-se um chefe? Bem, se esse era o caso era só parar de pregar. Mas Maomé respondeu: Em nome de Deus, mesmo se vocês colocassem o sol na minha mão direita e a lua na esquerda, mesmo assim eu não deixaria de divulgar a mensagem de Deus. Na tendo tido sucesso, tentaram pressionar seu tio Abu, mas este também não cedeu. Resolveram então isolar completamente Maomé. Ninguém, a partir daquele momento, poderia conversar ou manter qualquer tipo de relacionamento com Maomé, seus discípulos ou com o seu tio, induzindo alem disso as tribos vizinhas a procederem de forma idêntica.
Durante o ano 619, Maomé sofreu duas perdas: Morreram seu tio Abu Talib e sua esposa Khadijah. Viúvo, Maomé casou-se com Aicha - filha do amigo Abu-Bakr - mesmo tendo esta apenas nove anos. Depois desta celebração se dedicou a inúmeras mulheres, mas Aicha continuou a sua esposa preferida até sua morte.
O ano seguinte reservou para Maomé uma experiência excepcional: um encontro com Deus. Uma “mítica viagem” noturna da Meca até Jerusalém, seguida da ascensão ao céu escoltado pelo guia celeste Gabriel. Maomé superou um por um os sete céus para lá encontrar os profetas que o haviam precedido: Adão, Abrão, Moises e Jesus.
Além do sétimo céu - ao ultrapassar os véus que cobrem o que é mantido escondido - viu aquilo que não é imaginável e muito menos exprimível. Desta viagem Maomé trouxe a instituição das cinco orações cotidianas.Tudo isso aconteceu em poucos segundos e o Alcorão - a leitura sagrada do islamismo - relata assim o acontecido:
XVII,1/LIII, 8-l8 : Gloria a aquele que de noite transportou seu servo do Templo Sagrado ao Templo mais remoto, de quem abençoamos o recinto, para lhe mostrar alguns dos nossos sinais, [...] chegou perto e permaneceu suspenso, chegou a dois tiros de arco ou mais perto ainda e revelou ao seu servo aquilo que lhe revelou.[...] Seu olhar não se desviou e muito menos olhou para outros lugares e com certeza ele viu o sinal maior do seu Senhor
Em 622 alguns habitantes de Yathrib, Medina - um importante centro distante aproximadamente 300 Km. da Meca, convertidos ao islamismo, convidaram Maomé e seus seguidores a se transferirem para a sua cidade. Devido à inclemência que na sua cidade persistia contra ele, Maomé aceitou, sem saber que já havia sido jurado de morte pelos seus concidadãos. Estes, alguns dias depois invadiram a casa de Maomé com a intenção de apunhalá-lo enquanto dormia, mas, como havia partido, não o encontraram. Compreendendo que havia fugido, tentaram persegui-lo, mas Maomé já estava a salvo na cidade de Medina.
Esta fuga, “egira”, assinala o inicio do calendário muçulmano, um calendário lunar baseado exclusivamente nas fases a lua. O ano muçulmano não considera a mudança das estações e tem onze dias a menos do que o Gregoriano. Por conseguinte, atravessa todas as estações solares a cada trinta e dois anos e meio. Desta forma, se o mês do jejum, o ramadan, em um determinado ano cai em pleno verão, trinta e dois anos e meio depois cairá na estação fria.
Cidadão de Medina, Maomé a transformou em cidade-Estado e desenvolveu a primeira Constituição conhecida. Alem disso, para se fortalecer, estabeleceu acordos e alianças com todas as comunidades que estavam sediadas nas adjacências.
O povo da Meca, entretanto, não se deu por satisfeito com o exílio voluntário de Maomé, porque este havia transformado a sua nova comunidade em um pólo de atração para todos os árabes que desejavam se converter ao islamismo. Por este motivo, em 624, depois de um meticuloso planejamento, instituíram um exército de mil guerreiros, sobejamente armados e muitos deles a cavalo, que marchou da Meca para Medina.
Maomé, ciente do que estava acontecendo, preferiu enfrentar o exército inimigo fora da cidade na planície de Badr. Seus 313 soldados muçulmanos, mal armados, com dois cavalos e setenta camelos, enfrentaram os mil vindos da Meca, e depois de uma breve mas cruenta batalha os venceram. O exercito invasor então fugiu deixando no campo de batalha setenta mortos, um número equivalente de feridos e muitos equipamentos de guerra. Os prisioneiros capturados foram pessoalmente libertados por Maomé alguns dias depois.
A derrota sofrida em Badr aumentou o ódio que o povo da Meca nutria por Maomé e por toda a comunidade muçulmana. Assim sendo, no ano seguinte marcharam novamente contra a cidade de Medina, não com mil, mas com tres mil soldados. Diante deles, nas encostas do monte Uhud, tomaram posição setecentos soldados muçulmanos, e mais uma vez, após uma sangrenta e curta batalha, as linhas inimigas foram destruídas e seus combatentes foram rechaçados. No entanto, um grupo de arqueiros muçulmanos que estrategicamente havia sido posicionado sobre o monte Uhud com a ordem de lá permanecer, vendo que o que acontecera abandonou sua posição. Esta atitude permitiu que o exército invasor se reorganizasse e voltasse a atacar. Esta reviravolta transformou uma vitória quase certa em uma derrota parcial. Setenta muçulmanos morreram e o próprio Maomé ficou ferido, mas o exercito agressor foi retido.
Dois anos depois, em 626, os mecanos, novamente armados, estavam se preparando para destruir de vez os muçulmanos. Formalizando alianças com varias tribos vizinhas, inclusive hebraicas que habitavam as adjacências de Medina, conseguiram formar um poderoso exército que contava com dez mil soldados.
Maomé chamou seus companheiros para discutir a estratégia que devia ser posta em pratica para se protegerem, e o resultado, por consenso, resumiu-se em aceitar um conselho de Salman al-Farsi, um Persa convertido ao islamismo, que sugeriu escavar uma grande fossa ao redor da cidade para protegê-la. Concluída a obra, aguardaram que o inimigo tomasse a iniciativa. Este, desorientado porque jamais enfrentara uma situação similar, depois de trinta dias tentando sem sucessos atravessar a fossa, resolveu se retirar.
Finalmente, em 628, Maomé conseguiu convencer seu inimigo a assinar um tratado de não agressão, o “Hudaybiyyah”. Estabelecida a paz, Maomé passou a se dedicar cada vez mais a difundir o islamismo, chegando a enviar até emissários aos governantes dos países vizinhos. Muitos destes, todavia, foram mortos.
Durante este período, mesmo com a vigência do tratado de não agressão, não foram poucas as vezes que os mecanos atacavam os muçulmanos e pilhavam as mercadorias de suas caravanas. Cansado desses acontecimentos, em 630 Maomé enviou um ultimato a Meca: ou o tratado é respeitado, ou será considerado nulo. Os mecanos, que em verdade estavam utilizando o pacto de não agressão para se fortalecerem, não perderam a oportunidade e comunicaram que preferiam a segunda alternativa. Coube a Maomé, então, a iniciativa de posicionar diante das portas da Meca o seu exército de dez mil muçulmanos. Surpreendidos, os mecanos se renderam, mas, contrariando o que todos esperavam, Maomé perguntou-lhes: o que vocês agora esperam que eu faça? Como ninguém ousou responder, ele completou: “que Deus vos perdoe, ides em paz. A vos eu digo o que José disse a seus irmãos: hoje não cairá sobre vocês nenhuma responsabilidade, sois livres”.
Um ano depois, em 631, depois da sua peregrinação a Meca, Maomé se apresentou aos mais de 100.000 muçulmanos reunidos no vale de Arafat e proclamou o seu discurso do adeus.
“Não sei se depois deste ano eu ainda permanecerei entre vocês. Contudo, como todos vocês consideram sagrado este momento, neste mês, neste dia e nesta cidade, igualmente devereis considerar sagrada à vida e a propriedade de cada muçulmano. Restituam os bens que vos foram entregues aos seus legítimos proprietários. Não façais mal a ninguém, para que ninguém faça mal a vocês. [...] Ajudem os pobres e vesti-os como vesti a vos mesmos. Não esqueçam, um dia todos comparecerão diante de Deus para dar conta das próprias ações. Portanto, atenção! Não vos distancieis da retitude depois que eu desaparecer. Povo, nenhum profeta ou apostolo virá depois de mim e não nascerão novas crenças. [...] É verdade que tendes determinados direitos, no que diz respeito a vossas mulheres, mas elas também têm direitos sobre vos.Tratai-as bem, porque são o vosso sustento. [...] Deixo duas coisas atrás de mim: o Alcorão e os meus exemplos, assim, se seguirdes estes dois guias não caíreis em erros. [...] Adoreis a Deus, recitais vossas preces, jejuais no ramadan e administrais vossas riquezas com caridade. Todos os crentes são irmãos, todos tem os mesmos direitos e as mesmas responsabilidades. A ninguém é permitido retirar de outro o que não lhe é oferecido espontaneamente. Ninguém é superior ao seu próximo a não ser na virtude”. Neste momento Maomé olhou para o céu e disse: seja minha testemunha, o Deus, que eu trouxe a tua mensagem ao meu povo. Todos os presentes então responderam: Em verdade você o fez meu Senhor.”
Poucos meses depois do seu ultimo discurso Maomé adoeceu e em 632, com 61 anos, morreu. A comunidade muçulmana e os companheiros mais chegados a Maomé se recusaram a reconhecer a morte do profeta. Então Abu Bakr, um dos primeiros e mais fieis companheiro de Maomé, além de ser seu sogro, saiu da casa de Maomé, subiu os degraus da mesquita e disse para a multidão: Povo, em verdade, quem quer que seja que adore Maomé, que saiba que ele morreu. Mas quem quer que seja que adore Deus, saiba que Deus estará sempre vivo.

Maomé, nas recordações do dever que o trazia a Terra, lembrando os trabalhos que lhe competiam na Ásia, a fim de regenerar a igreja para Jesus, vulgarizou a palavra “infiel”, entre as varias famílias do seu povo, designando assim os árabes que lhe eram insubmissos, quando a expressão se aplicava, perfeitamente, aos sacerdotes transviados do cristianismo. Com o seu regresso ao plano espiritual, toda a Arábia estava submetida à sua doutrina, pela força da espada; e todavia os seus continuadores não se deram por satisfeitos com semelhantes conquistas. Iniciaram no exterior as “guerras santas”, subjugando toda a África setentrional, no fim do século XII. Nos primeiros anos do século imediato, atravessaram o estreito de Gibraltar, estabelecendo-se na Espanha, em vista da escassa resistência dos visigodos atormentados pela separação, e somente não seguiram caminho além dos Pirineus porque o plano espiritual assinalara um limite às suas operações, encaminhando Carlo Magno para as vitórias de 732.
Fonte: livro “ A Caminho da Luz” pelo espírito Emmanuel
E psicografado por Francisco Candido Xavier

Antes de Maomé os árabes dividiam-se em nômades e sedentários, os primeiros simples e humildes, colocando o valor da palavra e a da hospitalidade acima de tudo, e os segundos, sedentários e ricos, porque a vida lhe ensinara a apreciar o fausto e o luxo. Os dois lados, entretanto, amalgamados pelos incipientes sucessos de Maomé, uniram-se e, sob a bandeira da nova fé, esquecendo-se das palavras de seu mestre: “não usem a força para se apossar daquilo que não vós é oferecido naturalmente” atravessaram os oceanos buscando “glorias e botins” em distantes campos de batalha. O tempo, porem, como sempre sois acontecer, encarregou-se de um dia lhe colocar pela frente forças maiores do que as que eles possuíam. Assim, tiveram que retornar à sua pátria.
A Espanha, cujos primeiros habitantes haviam sido os celtiberos – nascidos da fusão dos Celtas com os Iberos - estes últimos fruto da miscigenação genética entre gregos e fenícios que ocorrera no fim do II milênio a.C., quando, após fundarem Cartago, estabeleceram seu domínio em toda a parte oriental, só havia conhecido a invasão dos romanos no ano 19 a.C. Depois, sofreu varias invasões (pelos alanos - bárbaros que invadiram a Gália em 406, pelos suevos - povos germânicos que se fixaram na Suábia no III séc., e pelos Vândalos no séc. V ) até que Roma aliou-se aos visigodos para finalmente reconquistar o país em 476 d.C.
A Espanha, agora um Estado Visigótico que atingira seu apogeu após a conversão ao catolicismo do rei ariano Recaredo, em 587 d.C., foi mais uma vez invadida e conquistada pela espada dos Árabes em 711.
Quase 200 anos depois, portanto por volta do fim do século VIII, os Emires Omíadas de Córdoba proclamaram-se independentes em relação ao governo Árabe central. Foi quando Abd al-Rahman III, em 929, assumiu o titulo de Califa e instituiu o Califado de Córdoba. Entretanto, 102 anos depois, exatamente em 1031, o território da Espanha foi dividido em reinos muçulmanos independentes.
Era a oportunidade que a Espanha cristã aguardava, porque com o desmembramento o poder Árabe perderia parte da sua força. Começou, então, a reorganizar a conquista do país a partir das Astúrias.
As Astúrias é uma região montanhosa ao norte do país onde, depois da queda da monarquia católica visigótica, haviam se refugiado os últimos partidários do rei Rodrigo, e fundado um reino que, como os muçulmanos não haviam conseguido conquistar, se expandiu até formar, no século XI, os reinos de Castela, Leão, Navarra, Aragão, os condados de Portugal e Barcelona.
A reação da Espanha teve inicio em 1085 com a tomada de Toledo por Afonso VI, em 1242 Jaime I de Aragão toma Minorca, e depois disso os cristãos espanhóis, ajudados pelos cruzados europeus, conquistam las Navas de Tolosa e começam a rechaçar os muçulmanos até que, em meados do século XIII, a estes só restava o reino de Granada. Por fim, em 1492, o exercito espanhol celebrou sua vitória definitiva sobre os Árabes expulsando-os definiti-vamente do seu país.
A Espanha, dois anos depois que se viu livre da longa possessão Moura, de 711 a 1492, de oprimida passou a opressora. Em 1494 assinou com Portugal, em Tordesilhas, um tratado (como se não existissem outros países no mundo), fixando o meridiano que separaria as futuras colônias dos dois países a 370 léguas a O da ilhas de Cabo Verde, e, protegida por este tratado, em 1518 enviou Hernán Cortés ao México e este, em 1523, literalmente destruiu o império Asteca.
Exterminados os Incas (a desculpa da Espanha católica foi que as civilizações andinas por serem pagãs deviam ser cristianizadas), e transportado o ouro pilhado para a Espanha, em 1588, agora sob o reinado do orgulhoso Felipe II, “com a benção do papa”, enviou uma frota gigantesca para a Inglaterra com a finalidade de destronar a rainha Isabel I, anglicana, para restabelecer o catolicismo naquele país. O que ocorreu, entretanto, não foi bem aquilo que Felipe II planejara.

As lutas na Europa, em todo o século XVI, longe de colimar um fim, dilatavam-se em guerras tenebrosas, mergulhando os povos do velho mundo num terrível circulo vicioso de reencarnações e resgates dolorosos.
Como se não bastassem as guerras religiosas, que trabalhavam o organismo europeu desde muitos anos, surge a figura de um príncipe fanático e cruel, na poderosa Espanha de então, complicando a existência política das coletividades européias. As lutas de Felipe II, sucessor de Carlos V, prendiam-se, de algum modo, aos problemas da Reforma protestante; mas, acima de tudo, colocava ele a sua ambição e o seu despotismo. Animado com as vitórias sobre os turcos e os muçulmanos, procurou reprimir a liberdade política dos Países Baixos, encontrando a mais heróica resistência. Suas atividades maléficas, mascaradas com a defesa do Catolicismo, espalhavam-se por toda à parte, obrigando o plano espiritual a coibir-lhe os imensuráveis abusos do poder. Foi assim que, havendo organizado a Invencível Armada, no ano de 1588, composta de mais de uma centena de navios equipados com 2000 canhões e 35000 homens, a fim de atacar a Inglaterra sem motivo que justificasse semelhante agressão, viu essa poderosa esquadra destruída totalmente por uma tempestade aniquiladora. De conformidade com as providencias do plano invisível, apenas aportaram às costas inglesas os espíritos pacíficos, compelidos pela força a participarem da armada destruída, e que foram lá recebidos generosamente, encontrando uma nova pátria.
Se Henrique VIII – o rei anterior da Inglaterra - havia errado como homem, o povo inglês estava preparado para o comprimento de uma grande missão, e ao mundo espiritual competia trabalhar pela preservação dos seus patrimônios de liberdade política.
Fonte:Livro “A Caminho da Luz” pelo espírito Emmanuel
e psicografado por Francisco Candido Xavier.

Logo depois da morte de Maomé, tres distintas orientações se delinearam para determinar a linha de sucessão: Os companheiros do profeta desejavam que o califa fosse escolhido entre os primeiros discípulos. Os legitimistas que em um primeiro momento haviam sido contrários à eleição de um sucessor, passaram a recomendar que a escolha recaísse no parente mais próximo, sugerindo ainda que fosse regulamentado um sistema que priorizasse a dinastia e hereditariedade para as futuras sucessões. Por fim os poderosos da cidade da Meca, os “Omayyadi” advogavam para si mesmos o direito a sucessão.
Os primeiros dois Califas (em Árabe sucessor do profeta), foram Abu Bakr e Omar que eram dois dos primeiros discípulos do profeta. Abu Bakr - sogro de Maomé - foi o primeiro, mas teve pouco tempo visto que faleceu em 634. Coube então a Omar liderar as conquistas e consolidar o Estado Islâmico: Atacou a Síria que pertencia à área cultural semítica, e em 636, no rio Yarmuk, destruiu o exercito que o imperador bizantino Heráclio I havia enviado para derrotá-lo.
As forças árabes invadiram em seguida o Iraque, a Pérsia, o Paquistão e a Armênia - chegando às fronteiras com a Índia, e continuaram sua trajetória de sucessivas glorias conquistando o Egito, a Mesopotâmia, a Palestina, chegando a destruir a frota do imperador bizantino Constante II, filho de Constantino I. Omar morreu em 644 d.C.
O terceiro Califa, Uthman ibn Affan – 644 a 656 - membro da família omayyadi da Meca, morreu assassinado e Ali, primo e genro de Maomé, o sucedeu. Entretanto, parte da comunidade muçulmana, convencida que fora Ali o mandatário do assassinado de Uthman, nomeou imediatamente um anti-Califa, iniciando assim uma seqüência de lutas armadas entre os dois grupos. Estes embates continuaram até que, o anti-Califa Muawiya, que pertencia à família omayyadi, conseguiu se fazer eleger Califa. Este foi o primeiro cisma no Islã, entre os sunitas e sciitas - shi´a – em outras palavras o partido de Ali.
A dinastia omayyadi - 661 a 750 – inovou no sentido que o Califa passou a viver cercado de muito luxo, muito mais do que haviam gozado seus antecessores, dando continuidade, entretanto, à política de expansão destes: chegaram á Andaluzia, na Espanha, e foram até a China.
A continua expansão Árabe exigiu que a capital fosse transferida para uma região menos isolada do resto do Império. A escolha recaiu sobre Damasco, cidade onde os omayyadi tinham muitos fieis. Mas foram estes mesmos fieis que se rebelaram acusando aquela dinastia de ser Leiga e mundana. Surgiu assim, em 750, a segunda grande dinastia da história muçulmana, aquela dos abadidas.
Os abadidas transferiram a capital de Damasco para Bagdá, mas mesmo assim, como o território era muito extenso para ser controlado de um único local, o poder foi dividido e delegado a pequenas dinastias - os emirados - que, mesmo dependendo do poder central, possuíam maior independência. Essa decisão foi o inicio do fim de mais um império, porque em 1251, Hulagu, neto de Gengis Khan, conquistou Bagdá, fez estrangular o Califa Mustasim e se tornou o primeiro soberano mongol da Pérsia depois que pos fim, em 1258, aos emirados de Bagdá. Hulagu manteve-se no poder até o ano de 1265, mas os mongóis mantiveram o poder até o século XV.
Em 1502, Ismail (fundador dos sefévidas), instalou-se em Bagdá e fez do xiismo a religião oficial. O principal representante da dinastia foi Abas – 1587 a 1629 – cujos sucessores se esgotaram em lutas estéreis até que em 1787 subiu ao trono a dinastia dos Qadjars. Essa dinastia sofreu por muito tempo a influencia da Rússia, à qual cedeu, em 1813 e 1828, importantes territórios, e mais tarde a da Inglaterra interessada em sua produção petrolífera. No governo dos últimos Qadjars – 1834 a 1925 – entrou na esteira da civilização ocidental. Em 1925, Riza Khan derrubou a dinastia dos Qadjars e ao mesmo tempo o nome Pérsia mudou para Irã
A fé islâmica: a fé islâmica proclama que não existe outra divindade a não ser Deus (Alá) e que Maomé é o seu profeta. Quem não acredita nisso é infiel, termo que é atribuído a todos os não muçulmanos do mundo, ou os que associam outras divindades ao Deus único.
O Alcorão fonte da fé: para o Islã o Alcorão fecha o ciclo temporal das mensagens enviadas por Deus e estas são as etapas de sua redação:
· 612 – 632 Algumas mensagens e uns poucos discursos de Maomé são escritos por seus fieis em materiais rudimentares como pele de camelo.
· 632 – 634 O Califa “Abu-Bakr”, sucessor de Maomé, ordena à coleta de todos os fragmentos que haviam sido escritos pelos fieis.
· 644 – 656 O segundo Califa, Omar, ordena um censo sistemático do todos os fragmentos que existiam conferindo-lhe um valor religioso. Depois disso, todos os textos encontrados passam a ser transcritos em um livro único chamado “vulgata Omanica” .
· 656 – 661 Sob o reinado do Califa Ali – genro e primo de Maomé - passam a circular versões diferentes do Alcorão que correspondiam as tendências Sciitas, particularmente aquela de “Ibn Maasud” , que continuaram por tres séculos.
· 685 – 705 O Califa “Abd-al-Malik” decide unificar a ortografia do Alcorão porque até aquele momento os textos ainda eram os que haviam sido transcritos dos dialetos originariamente utilizados.
· VIII, IX e X século: Sete textos diferentes são aceitos como cânones e portanto tolerados, até que no X século o cânone do Alcorão é definitivamente completado.
O conteúdo do Alcorão è extremamente variado, e nele, a grandeza, a unicidade e a misericórdia de Deus são amplamente tratados, ao lado de elaboradas explicações a respeito das maravilhas do paraíso e dos horrores do inferno.
Contém inúmeras passagens análogas ás lendas hebraicas e cristãs, devido, provavelmente, a uma assimilação oral de Maomé, uma vez que ele era analfabeto.
O Alcorão é composto por 114 “suras”, dispostas em ordem decrescente, sendo que esta ordem é determinada pelo numero de palavras contida em cada capitulo. Os capítulos por sua vez dividem-se em 6226 versículos.
O alcorão diz de si mesmo:
O Alcorão existe no céu onde se encontra a escritura mãe. Esta matriz desceu sobre alguns profetas que se encontravam na Terra no curso dos séculos: A Torá de Moises, Os Salmos de David, o Evangelho de Jesus e o Alcorão de Maomé.
O Alcorão de Maomé é a última decisiva revelação da Escritura eterna.
O Alcorão é “uma palavra eficaz e o critério entre o verdadeiro e o falso para os crentes e não crentes”.
Ninguém jamais poderá escrever alguma coisa igual ou melhor do Alcorão, porque ele è inimitável.
Os dogmas:
· Unicidade absoluta em Deus: criador, onipotente, misericordioso, inacessível, mas mesmo assim perto do homem que a ele ora, e juiz supremo. Deus possue 99 nomes que são recitados em um rosário chamado “Sabha”.
· Missão profética de Maomé: Os tres grandes profetas da história da salvação humana são Moises, Jesus e Maomé, e este é o último e o maior profeta, portador da ultima palavra de Deus ao homem.
· Existência dos anjos: criaturas de luz, mensageiros das ordens de Deus, que podem ajudar os homens. Seres intermediários são os “Ginn”, criaturas de fogo submetidos à lei de Deus; alguns bons e outros provocadores.
· Ultima hora: É o momento no qual todo ser será julgado por Deus e conhecerá as delicias do paraíso ou os eternos tormentos do inferno.
· Decreto determinante de Deus: o bem e o mal fazem parte do homem. No entanto, não todas as escolas religiosas admitem isso, uma vez que os testos do Alcorão reconhecem a responsabilidade humana no ato de fazer o bem ou o mal.
A moral muçulmana:
· O crente è chamado por Deus para fazer o bem e evitar o mal. É chamado a prece, a respeitar os genitores, as boas relações com os vizinhos, a cumprir as tarefas do culto, a curar a hospitalidade, a proteger o órfão e o fraco, a respeitar a vida humana e a família, e a viver longe do dissolutismo. Compreende cinco obrigações peremptórias:
o Recitar o “Shahada” (testemunho), nas circunstancias importantes e solenes da vida, sobretudo no momento da morte.
o Recitar o “Salat” (prece), cinco vezes ao dia: ao amanhecer, ao meio dia, à tarde, ao por do sol e à noite, em direção a Meca, como ato de adoração a Deus.
o Pratica do “Saum” (jejum), prescrito para todo o mês de ramadan, que corresponde ao nono mês do ano lunar. O crente deve abster-se, do amanhecer até o por do Sol, de qualquer alimento, bebida, fumo e sexo.
o Peregrinação a Meca: Obrigatória pelo menos uma vez na vida.
o Pratica do “Zakat”: (caridade legal), tributo obrigatório para prover as necessidades da comunidade.
A guerra Santa (Jihad), é uma luta intima que deve conduzir o crente a vencer suas paixões e instintos pagãos, e ao mesmo tempo é uma luta externa - até de caráter militar - contra os pagãos, politeístas e idolatras. Esta definição da Jihad, originalmente, não se aplicava aos judeus e aos cristãos, mas, aparentemente, a partir de 1914, parte dos muçulmanos não mais respeitam isso.
As proibições alimentares são numerosas, entre elas as bebidas alcoólicas, a carne de porco, a carne de animais mortos naturalmente, ou, de acordo com os rituais específicos, os Muçulmanos somente podem comer a carne dos animais que foram abatidos em nome de Deus, e isso corresponde a requerimentos dietéticos estritos. Tal carne é chamada pura, ou “halal”.
A lei islâmica proíbe aos muçulmanos comer carne de porco, macaco, cão, gato, e quaisquer outros animais, porque são haram (proibidos).
Para uma carne de animal ser considerada halal (permitida), tem que ser de um animal halal, abatido por um muçulmano por métodos não cruéis ou prolongados. Em outras palavras, o animal deve ser morto por meio do corte da artéria jugular, porque desta forma perde a consciência imediatamente e não sofre. Alguns teólogos muçulmanos esclarecem que o animal também pode ser abatido por um judeu, desde que este respeite as regras que são impostas. Assim sendo, a maioria dos muçulmanos aceitam a carne “kosher”, ou seja, aquela que é preparada de acordo com as leis judaicas porque são similares ao halal.
A Angiologia e mitologia muçulmana. - Os Arcanjos sentam ao redor do trono de Allah: Gabriel, o mensageiro divino que inspirou Maomé; Miguel, o amigo dos hebreus; Azrael, o anjo da morte que separa a alma do corpo e que executa as temíveis ordenações de Deus, e finalmente Uriel, aquele que é encarregado de soar a trompa para anunciar a ressurreição e o juízo universal.
Um grupo de anjos menores sustenta o trono de Allah, luta contra seus inimigos e serve de mediador entre Deus e os homens enquanto eles estão sobre a terra. Os “gênios errantes” (dijnn) bons e maus, têm como chefe “Iblis” (equivalente a satanás) que percorre o mundo procurando almas para devorar.
A Angiologia é limitada porque o Islamismo é uma religião rígida que nasceu de uma reação contra o paganismo. Conseqüentemente, proíbe configurações da divindade em ídolos. Contudo, na seita Shiita há uma particular veneração a Ali, o primo e genro do Profeta, e dos seus onze descendentes (os doze Imam). Nesta, as crenças astrológicas são muito difusas e os seres sobrenaturais, mais ou menos maus, preenchem muitos cultos populares: os ”ghul”, afastam os viajantes das caravanas assumindo as feições de um amigo ou parente, e, depois de tê-los afastados, os devoram. Os “palis” chupam o sangue de suas vitimas lambendo-lhe os pés. Os “nasnas” assumem a forma de um enfermo que pede para ser carregado sobre os ombros para atravessar um curso d´água. Atendido, aperta suas pernas e o afoga. Finalmente existe “All”, um demônio que ataca as mulheres grávidas para lhe comer o fígado.
Segundo as lendas, a maioria destes demônios vive no vale do anjo da morte que se localiza entre Teheran e Isfahan.
A vida futura segundo os muçulmanos. - As crenças muçulmanas relativas ao destino da alma provem de ré-elaborações populares e de alguns passos do Alcorão. A alma é imortal e é destinada ao inferno ou paraíso; um anjo, chamado o da morte, tem a responsabilidade de separar a alma do corpo. O cadáver, sem vida, sepultado sem o caixão, recebe de Deus os sentidos da audição e da palavra, para poder responder as perguntas que lhe são formuladas pelos anjos Munkar e Nakir. Consome-se assim a prova de fé que, se negativa, levará o individuo a morte eterna.
Os profetas e os mártires vão diretamente ao paraíso onde gozam plenamente suas benesses. Para um nível intermediário (Al-Barzak), irão àqueles que, na balança do juízo muçulmano, serão julgados nem muito bons e nem muito maus. As demais almas aguardarão o momento do juízo universal que será anunciado pelo anjo Uriel.
Numerosas “suras” descrevem como será o fim do mundo, a apocalipse, o que mais uma vez indica que Maomé retirou estas idéias do pensamento judeu-cristão:
Um cataclismo cósmico será acompanhado por um gigantesco terremoto e o fogo descerá do céu; então os mortos ressuscitarão, as almas alcançarão os corpos que deixaram no momento da morte - incluindo as almas dos animais atormentados pelos homens e aquela de “Mawuda” à jovem sepultada viva que simboliza as inocentes vitima da barbárie humana – e finalmente os mortos ressuscitados desfilarão diante de Allah para que ele julgue cada alma de acordo com suas ações.
Enquanto isso os infiéis - perversos e ímpios - irão para o inferno com o anjo decaído Iblis. Estes vestirão roupas de fogo e sobre sua cabeça será versada água fervente que lhe devorará a pele e as entranhas. Serão golpeados com bastões armados com ferro e, todas as vezes que a dor os afugentar das chamas, serão devolvidos a elas e lhe será dito: experimentai a pena do fogo (XXII /20-22).
As calamidades que aguardam os maus são amplamente descritas no Alcorão, assim como os prazeres do paraíso: um lugar maravilhoso onde a água fresca escorre entre as palmeiras e as pradarias. As benesses do paraíso são descritas como um eterno banquete onde os crentes se deitam sobre suaves estrados revestidos de brocado de seda; sorvem uma bebida celestial que não é inebriante servida por “efebi” e se divertem com jovens mulheres virgens.
O calendário muçulmano (baseado no ano lunar de 354 dias - 355 dias nos anos abundantes) tem 12 meses de 29 ou 30 dias intercalados. O mês começa quando o quarto crescente lunar aparece pela primeira vez apôs o por do sol. Como o calendário lunar tem cerca de 11 dias a menos que o calendário solar, para ajustar a diferença, num ciclo de 30 anos, 11 anos tem 355 dias e os outros 354. O calendário muçulmano começa na data da “Hegira”, ou seja, a fuga de Maomé da Meca para Medina que aconteceu em 16 de julho de 622. O dia santo é a sexta feira.
Entretanto....
Milhares de manifestantes libaneses invadiram neste domingo a sede do consulado dinamarquês em Beirute e o incendiaram em protesto pelas charges sobre o profeta Muhammad.Propriedades e lojas do bairro cristão de Achrafieh também foram atacadas. Segundo testemunhas, diversas pessoas ficaram feridas em enfrentamentos com as forças antidistúrbios
Do Líbano.
Ontem, a mobilização dos muçulmanos resultou numa escalada de violência, depois que os prédios das embaixadas da Dinamarca, Noruega, Chile e Suécia em Damasco (Síria) foram incendiados por manifestantes revoltados.
Na capital Síria, um grupo de manifestantes invadiu a embaixada da Dinamarca, situada em um prédio de três andares, onde também se encontram as representações diplomáticas da Suécia e do Chile. Os manifestantes depredaram o lugar e jogaram móveis pelas janelas antes de atear fogo ao edifício. Os bombeiros chegaram a tempo de conter as chamas.
As forças de segurança lançaram gases lacrimogêneos contra os manifestantes, o que levou vários deles a serem hospitalizados. A polícia Síria conseguiu, por outro lado, reprimir os manifestantes que tentavam se aproximar da embaixada da França em Damasco.
A Noruega, como a Dinamarca, pediu a seus cidadãos que abandonem imediatamente a Síria em função do clima de insegurança que reina no país.
O presidente iraniano, o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, ordenou a ruptura de contratos financeiros entre a república islâmica e os países onde foram publicadas as caricaturas contra Muhammad, informou a agencia iraniana Isna.
Ahmadinejad justificou esta decisão pelo "insulto de alguns meios de comunicação ocidentais ao profeta, o que demonstra o ódio que os sionistas que governam estes países têm contra o Islã e os muçulmanos.”
Por sua parte, o chanceler polonês, Stefan Meller, pediu desculpas pela publicação das caricaturas no jornal de direita liberal "Rzeczpospolita". Apesar dos pedidos de calma e reconciliação, particularmente do Vaticano, as manifestações de cólera se multiplicaram durante todo o dia.
No Oriente Médio foram feitas ameaças contra a Dinamarca, queimadas bandeiras do país escandinavo, e está sendo realizada uma campanha de boicote aos produtos dinamarqueses.Dezenas de comerciantes palestinos da rua Saladino, de Jerusalém Oriental, colocaram na entrada de suas lojas bandeiras dinamarquesas para serem usadas como capachos para limpar os pés em protesto contra a publicação das caricaturas do profeta Muhammad.Além disso, dezenas de jovens palestinos jogaram pedras neste sábado contra a sede da União Européia, em Gaza, ferindo policiais palestinos. Em Nazaré, norte de Israel, milhares de muçulmanos protestaram pelas ruas da cidade contra a publicação das caricaturas na Europa.Em Londres, cerca de 400 pessoas protestaram ante a embaixada da Dinamarca contra a publicação das charges, pedindo que a totalidade dos países europeus pressione seus meios de comunicação.Em Amã, o chefe de redação da revista jordaniana "Shihan", que publicou as controvertidas caricaturas de Muhammad, foi preso neste sábado, e o promotor-geral abriu uma investigação sobre outra revista que as publicou. A "Shihan" havia reproduzido na quinta-feira três das caricaturas que chamavam os muçulmanos do mundo "à razão" em seu editorial.
Fonte: Folha On-line 05-02-2006