quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

(13)- OS GREGOS

A Tessália e Creta foram ocupadas no V milênio a.C., por populações de origem setentrional. No II milênio, idade do bronze antigo e médio, a Anatólia -Tróia - e, sobretudo Creta - civilização Minoana – atingiram um alto grau de civilização.
Na epoca do bronze recente - 1600 a 1100 a.C.- desenvolveu-se na Grécia continental a civilização Miceniana que se estendeu até Creta. Mas, após a queda de Tróia em 1290 a.C.- o mundo miceniano desapareceu sob as invasões dos Dórios – século XII a.C. Enquanto os fugitivos se instalavam na Arcádia, na Ática ou na Jônia, os Dórios progrediam pela Grécia continental e pelo Peloponeso, instaurando o regime de cidades – polis - em substituição ao de clã – genos – elaborando, depois disso, uma mitologia de deuses e heróis.
Nesse cenário, pouco a pouco, duas cidades Gregas foram se impondo às demais: Esparta – cidade militar – conseguiu, depois das guerras da Messênia, estabelecer sua preponderância sobre todo o Peloponeso; e Atenas, que se orientava no sentido do comercio marítimo e das reformas políticas, deixou o regime tirânico até então vigente e adotou a democracia.
Foi na Ilha de Samos, no ano de 570 a.C., que nasceu Pitágoras, aproximadamente no mesmo período em que surgiram inúmeros outros condutores de povos e criadores de religiões, como Zaratustra, Buda, Confúcio e Lao Tse.

Ao influxo do coração misericordioso do Cristo, toda a Grécia se povoa de Artistas e pensadores eminentes, no quadro das filosofias e das ciências. É la que vamos encontrar as escolas Itálicas e Eleáticas, à frente do fervoroso idealismo de Pitágoras e Xenófanes, sem esquecermos, igualmente, as escolas Jônica e Atomística com Tales e Demócrito, nas expressões do mais avançado materialismo.
O século de Péricles, chegando a um apogeu de beleza e de cultura com os elevados princípios recebidos da civilização egípcia, espalha os mais soberbos clarões espirituais nos horizontes da Terra. Poucas fases da evolução européia se aproximaram desse século maravilhoso.
O Salvador contempla, das Alturas, essa época de elevadas conquistas morais, cheio de amor e de esperança. O planeta terrestre aproximava-se da sua maioridade espiritual quando, então, poderia Ele nutrir o coração com a sementeira bendita da sua palavra. Envia, então, às sociedades do globo o esforço de auxiliares valorosos, nas figuras de Ésquilo, Eurípides, Heródoto e Tucídides, e por fim a extraordinária personalidade de Sócrates, no intuito de realizar o coroamento do esforço decidido de tantos mensageiros.
Sócrates, superior a Anaxágoras seu mestre, como também imperfeitamente interpretado pelos seus três discípulos mais famosos, o grande filosofo está aureolado pelas mais divinas claridades espirituais, no curso de todos os séculos planetários. Sua existência, em algumas circunstancias, aproxima-se da exemplificação do próprio Cristo. Sua palavra confunde todos os espíritos mesquinhos da sua época e faz desabrochar florações novas de sentimento e cultura na alma sedenta da mocidade. Nas praças públicas, ensina à infância e à juventude o formoso ideal da fraternidade e da pratica do bem, lançando as sementes generosas da solidariedade dos pósteros.
Mas Atenas, como cérebro do mundo de então, apesar do seu vasto progresso, não consegue suportar a lição avançada do grande mensageiro de Jesus. Sócrates é acusado de perverter os jovens atenienses, instilando-lhes o veneno da liberdade em seus corações.
Fonte: livro “A Caminho da Luz” pelo espírito Emmanuel
e psicografado por Francisco Candido Xavier.

Relata a história que Pitágoras - cujo nome significa anunciador político, Pythios - era filho de Menesarco e de Partêmis, tendo esta, certa vez, levado o filho á Pítia de Delfos, uma sacerdotisa que lhe vaticinou um grande sucesso. Em vista disso, a mãe devotou-se com grande carinho a sua educação.
Afirma-se que Pitágoras, desde criança revelou-se um prodígio e por isso teve como primeiros mestres Hermodamas de Samos - até os dezoito anos - e depois Ferecides de Siros e Tales de Mileto, um dos maiores sábios da época - eventualmente o primeiro grego a se dedicar cientificamente aos números.
Pouco tempo depois, segundo o que é dito, Tales de Mileto, percebendo que já não havia mais nada a ensinar a Pitágoras, passando ele, o mestre, a estudar as descobertas geométricas e matemáticas do aluno.
Nesta época, Pitágoras, além de ser ouvinte das conferências de Anaximandro - também da escola de Mileto - estudava os mistérios dos cultos orficos que se inspiravam nas religiões orientais.
Adulto, Pitágoras resolveu ampliar seus conhecimentos e começou a somar, além de números, idéias sobre as ciências e religiões de outros povos.
Com este objetivo foi à Síria, depois á Arábia e seq uencialmente a Caldeia, Pérsia, Índia e, como ultima escala, ao Egito, aonde foi discípulo de Sonchi di Sal, um velho sacerdote. Vinte anos de estudo depois, por sua vez também se tornou sacerdote.
O Egito, sempre havia sido visto pelos antigos gregos como um país depositário de grandes e antigos conhecimentos, desse modo, muitos sábios gregos, além de Pitágoras, como Sólon, Platão e outros, lá iam em busca dos conhecimentos que nenhum outro povo possuía.
Os anos passam e Pitágoras, agora com mais de cinqüenta anos, voltou a Samos com a idéia de abrir uma escola. La chegando, entretanto, percebeu que tudo havia mudado, a ponto do ditador Polícrates, que governava a ilha, não querer saber de escolas e muito menos de templos.
Proibido de permanecer, Pitágoras decidiu migrar para a Magna Grécia, ou seja, Crotona, no sul da Itália, onde fundou uma escola inspirada nos seus cânones doutrinários, mesmo se muitos os consideravam esotéricos.
Em verdade, no entanto, em vista de seus pressupostos, era uma filosofia ético-religiosa, porque reconhecia a vida espiritual depois da morte, à necessidade de purificar a alma, a comunhão de vida e bens, além do regime de virgindade respeito ao próximo. Alem disso, ainda exigia o silencio do aluno em relação aos segredos que lhe eram ensinados e a obrigação de respeitar o regime vegetariano.
Falar de Pitágoras, significa falar do corpo doutrinário do primeiro Pitagorismo. Isso, até ao IV século a.C. quando a doutrina, evoluindo, começou a se diferenciar e a assumir configurações diferentes.
Até aquela data a escola Pitagorica apresentava-se, antes de qualquer coisa, como uma seita religiosa. O Pitagorismo tinha quase tudo em comum com o Orfismo (uma religiosidade até hoje considerada mística de origens orientais), cuja finalidade era ter acesso a uma verdade que era limitada a poucos - conseqüentemente incompreensível para a grande maioria - porque no seu cerne sintetizava a crença que a vida continuava mesmo depois do túmulo.
Orfeu, célebre “aedo” (poeta grego que recitava ou cantava tocando a lira) da era pré-homérica, filho de Eagro rei da Tracia e da musa Calíope, segundo a lenda cantava e tocava a lira com tal perfeição que até as feras, depois de se aquietarem, deitavam-se aos seus pés. A ele é atribuída a invenção da lira e dos rituais mágicos e divinatórios que deram origem ao orfismo.
Os primeiros documentos relativos ao Orfismo datam do VI século a.C., e no V encontraram um terreno fértil no Egito aonde se reforçaram com o culto de Osíris e os mistérios Dionisíacos. Neles é idêntico o conceito de iniciação ao conhecimento, e através deste, a uma vida que tem por objetivo levar o individuo a perfeição.
A alma, essência divina, porém presa, amarrada ou sepultada no corpo físico para espiar seus pecados, só podia se libertar com a morte, portanto, esta não representava algo que devesse ser temido, ao contrário, como era o momento da libertação, devia ser motivo de júbilo porque através dela conseguia-se o gozo da “luz do sol” mesmo nas noites mais escuras e ao longo de dias sempre iguais.
Destarte, todos aqueles que conseguissem viver três vezes, neste ou no outro mundo, purificando ao longo deste período a sua alma de todos os atos injustos cometidos, eram levados a percorrer até o fim a estrada de Zeus que levava a torre de Crono aonde as suaves brisas oceânicas refrescavam a ilha dos beatos. – Pindaro, Olímpicas, 2,56-72.
Pindaro, segundo os dicionários enciclopédicos, foi um poeta lírico grego - Cinocéfalos, perto de Tebas, 518- 438 a.C. - aluno do tocador de flauta Escopelinos e das poetizas Corina e Mirtes. Hóspede de vários tiranos da Sicília, morreu cumulado de honras. Suas poesias pertencem a todos os gêneros do lirismo que se manifesta por meio de hinos, ditirambos e odes. De suas obras só chegaram até nossos dias na integra os Epinícios, ou Odes triunfais, que são a expressão máxima do lirismo grego.
Talvez na primeira fase houve um pressuposto diferente entre o Pitagorismo e o Orfismo, porque, enquanto o primeiro estava voltado a um feitio intelectual, o segundo visava, através de seus cultos, a aspectos misteriosos. No entanto, com a evolução natural, tornou-se quase impossível diferenciar as duas doutrinas.
Essa conjunção idealística que no tempo se materializou entre elas, foi interpretada o produto gerado pela necessidade de destruir a barreira que no homem separa a realidade humana da realidade divina. Esta percepção dualística da relação entre a alma e o corpo, é explicitamente referida por Platão na sua obra “Críton”.
Platão- Atenas 428-348 a.C.- que como sabemos foi um filósofo grego discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles, autor dos diálogos: Críton, Fédon, Fedro e Górgias, o banquete, a republica, e as leis que elevam Sócrates, adotava como método filosófico a dialética para coroar a teoria das idéias. Em verdade, dizia ele, o objeto da ciência não se encontra nos fenômenos particulares e passageiros, mas nas idéias puras de cada grupo de seres quando coroadas pela idéia suprema do bem.
Na Grécia, o corpo físico era chamado “sema” - o sepulcro da alma na vida presente, e a alma “inei”. Logo, a alma encarnada era chamada “semáinei”. Acredita-se que estes nomes foram utilizados pelos seguidores de Orfeu para dizer que a alma, devido aos débitos que tinha que pagar, era mantida dentro de um invólucro corpóreo, uma cadeia chamada “sema” para preservá-la e lhe dar o tempo indispensável para pagar todas as dividas.
Seja no Orfismo como no Pitagorismo, como acontecera na doutrina de Zaratrusta, em um determinado momento, abolindo-se os ritos sacrificais, não houve mais matança de touros.
Não havendo mais a disponibilidade dessa carne - durante os rituais era servida a todos os presentes - passou a ser proibido o seu consumo e a dieta alimentar, por conseguinte, tornou-se exclusivamente vegetariana.
A pátria de Orfeu era a Tracia - região da Europa oriental entre a Grécia, Turquia e a Bulgária - e por essa razão foi chamado o pai das doutrinas Tracias. A ele pessoalmente são atribuídas às profissões de poeta - porque compunha versos e cantava tocando a harpa; de mago - porque como os lendários xamãs siberianos atraia aves e animais com a sua música, a de curador – visto que curava enfermos e afastava os maus espíritos, e a de mestre religioso.
Com a pratica destas doutrinas, no inicio, o povo passou a atribuir a si mesmo um sentimento de culpa pelas experiências esquecidas do passado, independentemente de terem sido vivenciadas na vida em curso ou nas encarnações anteriores. Devido a isso, alguns adeptos passam a ter horror do respectivo corpo e repulsão pela vida ligada à matéria.
Estes pensamentos eram totalmente novos na Grécia, portanto, tornavam-se necessárias boas explicações. Uma delas dizia que a atividade psíquica e a corpórea eram inversamente proporcionais: a psique é mais ativa quando o corpo dorme, ou, segundo Aristóteles, quando o corpo morre, mas, em regime de vigília, é o corpo físico, a matéria, que sucumbe diante das suas próprias sensações, sugerindo ações que, se efetivadas, poderiam levar ao arrependimento.
Esta doutrina, por ser parte da herança ariana, tem no do Apolo hiperbóreo dos gregos a mesma divindade nórdica de Abari, ambas associadas a um pássaro, “o cisne musico do antigo jardim” que fica atrás do vento do norte.
O grego Aristeu se teria deslocado até aquela região – no texto não é claro se como espírito ou não - atendendo a uma ordem do próprio Apolo, dito seu pai, e posteriormente teria contado suas experiências em um poema moldando-o nas forças psíquicas dos xamãs daquela região - que ele mesmo possuía - entre as quais a condição de abandonar o corpo físico conscientemente quando o desejasse.
Na Grécia, seja no Pitagorismo como no Orfismo, a metempsicose era aceita unanimemente, bem como a crença que existia um espírito protetor - o espírito de um morto - que entrava no corpo de um vivo para acompanhá-lo e lhe enriquecer o saber.
Presume-se que Pitágoras faleceu por volta de 500 a.C., mas a sociedade pitagorica continuou após sua morte, desaparecendo, no entanto, por ocasião do famoso massacre de Metaponto, ou seja, depois da derrota da liga dos crotoniatas. Dessa catástrofe a historia aponta exclusivamente dois sobreviventes: Lysis, tido como o autor dos versos de ouro, e Filolão, um dos maiores pitagoricos de todos os tempos. Os dois teriam levado adiante os preceitos do fundador.
À Grécia pós Pitágoras pode ser mais bem apreciada por meio de Platão -427 a 347 a.C. - seja quando fala de seu mestre Sócrates, na sua obra “Apologia”, bem como quando fala das almas no seu livro “Fedro”.
Platão estava desiludido com o violento e despótico domínio do governo, e mais desiludido ainda com a restauração da democracia que em 399 a.C. condenara a morte Sócrates, porque o verdadeiro motivo, para ele, era indiscutivelmente político.
Seus seguidores, enquanto Sócrates permanecia encarcerado aguardando a execução (havia sido condenado a ingerir cicuta, um forte veneno), planejaram sua fuga, um projeto que não se realizou porque ele, mesmo condenado, continuava afirmando que transgredir a lei era um erro imperdoável. Tinha um respeito tão grande pela lei que ao mesmo tempo em que asseverava que podia ser discutida e criticada, garantia que jamais devia ser desobedecida. Garantia que o cidadão tinha a responsabilidade de cooperar, de trabalhar para que ela fosse alterada ou modificada, mas jamais transgredida. Acusava a si mesmo de não ter conseguido seguir esse conceito.
O tema da condenação de Sócrates é enfrentado por Platão também em “Críton”, dialogo que assume este nome devido a um agitador ateniense, conterrâneo de Sócrates, que como diz Xenofonte, seu devoto discípulo, teve origem quando este, visitando Sócrates no cárcere, inúmeras vezes tentou convencê-lo a fugir. Ele argumentava que ele, Xenofonte, e outros amigos, viriam a serem criticados pelo povo se não assumissem a postura de ajudá-lo a fugir. Por este motivo, alem da amizade, haviam planejado e vencido todos os obstáculos existentes no caminho de fuga. Afirmavam ainda a Sócrates que se não fugisse estaria prejudicando não só a si mesmo, mas também à sua família e os amigos que apoiavam a sua conduta. Ao responder, Sócrates, justificando a sua permanência na prisão, disse: a vida de um homem deve ser coerente com a sua doutrina, e assim sendo, não pode e não deve violar a lei em hipótese alguma. Como sempre a respeitara, igualmente não desejava violá-la naquela hora, mesmo porque, considerando-se de certa forma já velho, transgredi-la, para poder sobreviver alguns anos mais, depois de ter vivido corretamente toda a sua vida, seria um absurdo, uma incoerência mesmo.
Em verdade o cerne da questão não era esse, mas residia no julgamento que fazia a respeito do que é justo ou injusto. Para ele, a injustiça era mais danosa para aquele que com ela agredia, do que para o agredido. Uma de suas frases célebres dizia: não se deve ter em máxima conta o viver por viver, mas o viver bem, e o viver bem é sinônimo de viver com virtude e justiça.
Contudo, o que não é reportado nos livros é a máxima que exterioriza quando sua esposa, entregando-lhe o veneno, lhe implora para não bebê-lo. Não o beba, jogue-o fora, exigia ela. Mas Sócrates lhe respondeu: Eles me condenaram à morte, mas o que isso realmente significa! Eles também já foram condenados a morrer pelas leis da natureza!
Platão – fazia parte de seus ensinamentos - acreditava que a argumentação racional era o melhor caminho para uma explicação, mas reconhecia que o mito, a fabula, e a metáfora também garantiam ótimos efeitos porque, por estimularem a fantasia, facilitavam o entendimento e a memorização do que era dito. Utiliza estes recursos para falar da preexistência alma e da reencarnação.
Comparava à alma a uma Biga puxada por dois cavalos alados, portanto, composta por três elementos. Na existência anterior ao último nascimento, dizia, as almas dos homens estavam com as dos deuses, no céu, com a possibilidade de progredir para níveis superiores, uma realidade além do mundo físico que segundo ele subdividia-se em dois níveis reais: o nosso mundo e o das idéias. Desse modo, por acreditar que a alma era composta por elementos racionais e irracionais, a biga personificava o racional e os cavalos o irracional.
Um dos cavalos era branco, um puro-sangue de espírito competitivo que sabia correr e obedecer- representando as paixões espirituais mais elevadas e sublimes - e o outro preto, tosco, recalcitrante e incapaz.
A tarefa da biga era dominar os cavalos servindo-se da habilidade do condutor e da colaboração do cavalo branco, porque o preto, não aceitando a biga, simbolizava as paixões mais ínfimas e baixas ligadas ao corpo físico.
Explicava por este meio que nem todos os aspectos irracionais são negativos, e que por isso não podem ser eliminados. Só existe a faculdade de controlá-los e isso acontece quando as paixões são dominadas.
Este enfoque se transforma em uma metáfora muito eficaz porque se de um lado a biga é a razão, sem os cavalos ela não pode se movimentar - o que significa que as paixões são fundamentais para a vida - expressando do mesmo modo que o elemento racional, mesmo dotado de saber, necessitava da gestão da alma.
Destarte, pelo fato das bigas das almas dos deuses estarem atrelados a cavalos brancos, eles podem subir ou descer sem dificuldades, o que não é possível para as bigas das almas dos homens porque enquanto o cavalo branco se esforça para subir, o preto quer descer.
Quando isso acontece, e são inúmeras às vezes, as asas dos dois cavalos se quebram e a biga cai ao solo. Estas são as reencarnações. Uma vez retornado à matéria o homem conscientemente não pode mais se lembrar da outra dimensão, mas no seu interior, sem saber explicar o que é, alguma coisa lhe falta e, assim sendo, independentemente da sua condição social, vive tristonho e insatisfeito a não ser que assuma alguma tarefa destinada exclusivamente ao bem estar do seu próximo.
A vida, em sua síntese, resume-se a contínuas tentativas de retornar ao estado primordial, mas os únicos caminhos possíveis são: a filosofia - que permite entrever os contornos daquele mundo esplendido do qual o terreno é uma mera imitação, e a beleza - um caminho mais simples que permite o nascer do amor.
Se o cavalo branco leva a melhor o amor assume conotações sublimes, mas se inversamente é o preto a vencer, o amor é tão somente uma atração física. A beleza é uma das portas para o mundo das sensações, e é através desta que se chega ao mundo maior.
Segundo Platão, os olhos daqueles que verdadeiramente se amam segregam um fluido peculiar que escorre até o local onde se encontram as asas estraçalhadas dos cavalos, e uma vez lá, as reconstitui. É assim que o caminho para a dimensão superior pode ser retomado, seja ao lado da pessoa amada, ou amando e trabalhando em benefício do próximo, porque o fluído dos olhos, por ser um balsamo curativo, retira a dor da alma, elimina a infelicidade e fortalece o desejo de viver.
O conceito de amor platônico hoje existente é uma herança da idade média e não é cem por cento correto. Enquanto eles acreditavam que o amor físico impedia o crescimento espiritual da alma, Platão afirmava que existe uma espécie de escada hierárquica do amor: nos degraus inicias encontra-se o amor físico, mas para chegar aos últimos degraus da escada é forçoso passar por eles.
A principal diferença entre a concepção do amor moderno e o da época de Platão, é que nos dias atuais as pessoas acreditam que o amor deve ser um sentimento balanceado e recíproco, enquanto que nos tempos de Platão, um amava o outro porque o outro se fazia amar. No mundo grego, o amor, por ser uma afeição pura e acima de qualquer outro sentimento, não tinha limite. Sendo assim, o homem tanto podia amar uma mulher ou outro homem porque a bissexualidade, não sendo vergonhosa, era muito difundida.
Segundo Platão, o espírito e o corpo possuem características opostas, porque enquanto o primeiro sendo espiritual se mantem interligado à dimensão maior, o outro, por ser basicamente matéria, mantem suas afinidades voltadas para as sensações que esta mesma matéria nele desperta. Desse modo, enquanto o corpo físico impele o homem a procurar prazeres que satisfaçam seus sentidos corpóreos – quase sempre de baixo nível, a alma, ou espírito, tenta induzi-lo a procurar satisfações espirituais.
Esquecidos Orfeu, Pitágoras, Platão etc, a religião Grega se unificou e criou os grandes santuários pan-helenicos e cidades como Corinto, Corcira, Cálcis e outras. Fundaram colônias nas costas do Mediterrâneo e deste modo o mundo Grego se expandiu pelo litoral asiático do mar Egeu e do Helesponto, fazendo florescer grandes cidades como Mileto, Sardes e outras. Como a Pérsia ameaçava os gregos da Europa, depois de ter submetido os da Ásia, Atenas reagiu e expulsou o invasor – guerras Medos Persas, século V.
A partir de 479 a.C., depois da ultima derrota Persa em Platéia e do levante da Jônia, Atenas conseguiu estender sua hegemonia sobre todo o mundo grego – Confederação de Delos, 478 d.C. Péricles estratego, general superior entre os gregos de 443 a 437, cobriu de monumentos à cidade de Atenas desde Aristides e Címon, criando um império que se estendia por todo o mar Egeu e pela propôntide – mar de Mármara - ao mesmo tempo em que a cidade de Atenas, típica cidade democrática, atingiu seu apogeu.
A guerra do Peloponeso – 431 a 404 – entretanto, nascida da rivalidade entre Esparta e Atenas, teve como resultado a ruína desta ultima e a efêmera hegemonia da primeira – 404 a 377. Em seguida Epaminondas e Pelópidas de Tebas, disputaram a hegemonia a Esparta – 337 a 359, lutas estas que sucessivas enfraqueceram as cidades permitindo que Felipe II impusesse, apesar dos esforços de Demóstenes, em 338 a supremacia da Macedônia à Grécia extenuada. Foi quando seu filho Alexandre – 336 a 332 – destruiu o império dos Persas que era o inimigo comum dos helenos. As conquistas de Alexandre modificaram radicalmente as dimensões do mundo grego, enquanto à Grécia propriamente dita entrava em declínio. Com a morte desse conquistador, seus generais dividiram entre si o império Seléucidas.
Esse foi o momento em que, para manter o poder, a Grécia e a Etólia recorreram a ajuda dos romanos. Estes intervieram progressivamente na Grécia, fazendo da Macedônia, em 148 a.C., uma província romana e dois anos depois a Grécia foi anexada a essa província.
Com a tomada de Atenas e do Pireu por Silas – 86 a.C., desfizeram-se as ultimas esperanças gregas, mas com Augusto a Grécia tornou-se a província da Acaia. Seus filósofos, artistas e gramáticos então, transferindo-se para Roma, levaram para essa cidade o gênio grego.
O cristianismo adentrou na Grécia no I século d.C. Em 267 Atena foi pilhada pelos Godos e em 330 d.C., quando Constantinopla foi fundada, a influencia de Atenas chegou ao fim.
Com a morte de Teodosio, em 395, a Grécia passou a integrar o império do oriente, e a igreja grega, em 1054, seguiu Constantinopla em seu rompimento com Roma.
Neste ínterim, os Muçulmanos se apossavam dos territórios gregos: Rodes em 654, Chipre em 746, e Creta em 961, enquanto os búlgaros, os normandos e os venezianos se apoderaram de outros. Mais tarde, no período das Cruzadas, entre os séculos XI e XIV, chegaram os latinos. Os bizantinos estavam quase eliminando estes últimos quando teve inicio a conquista Turca. Tomaram Galípoli entre 1354 e 1461, e enquanto ocupavam o despotado do Epiro mantiveram o país sob jugo de ferro. Mesmo assim a Grécia tentou sublevar-se um sem numero de vezes, no entanto, só pôde recuperar a liberdade no século XIX depois de vários anos de guerra cruel: tomada de Missolonghi em 1826, e graças à intervenção da França, da Inglaterra e da Rússia, conseguiu a vitória de Navarino em 1827.
Essas potencias em 1829 impuseram ao Sultão o tratado de Andrinopla e declararam a plena autonomia da Grécia. Esta, cuja independência foi reconhecida pela Turquia só 1832, compreende desde então a Moréia, as Ciclades, a Eubéia e se estende até os golfos de Volo e de Arta. O novo Estado teve como soberano um príncipe da Baviera, Óton I de 1833 a 1862 e depois outro da Dinamarca, Jorge I de 1863 a 1913.
A guerra Russa Turca trouxe-lhe benefícios, uma vez que o tratado de Berlin cedeu-lhe os territórios que vão até o Epiro e a Tessália, e as guerras balcânicas, entre 1912 a 1913, deram-lhe ainda Creta, as Espórades do Norte e a maior parte da Macedônia e do Epiro.
Em 1917, Venizelos, contrariando Constantino I – 1913 a 1917 - fez a Grécia figurar entre os países aliados contra a Alemanha, mas Constantino foi obrigado a abdicar em favor do seu segundo filho Alexandre I cujo mandato se estendeu desde 1917 a 1920. Após a vitória, o país obteve a Tracia - tratados de Neuilly em 1919 e de Sévres em 1920. Mas a Grécia, tendo atacado os Turcos que eram contrários a esses tratados, em 1920 foi vencida e através do tratado de Lausanne, em 1923, perdeu parte se suas posses na Ásia Menor.
Constantino I, reconduzido ao trono em 1920 após a morte de Alexandre I, teve que abdicar novamente em favor de Jorge II em 1922. Em 1924 foi proclamada a republica, e sob este regime político a Grécia se manteve entregue à instabilidade ministerial até que em 1935 Jorge II foi novamente convocado.
Invadida pelos Italianos em 1940, a Grécia resistiu vitoriosamente, mas, no ano seguinte, foram os Alemães que a ocuparam. Sua libertação em 1944 abriu o caminho para o retorno do rei Jorge II que aconteceu em 1946, sucedido um ano depois pelo irmão Paulo I. Mesmo assim, houve conflitos internos que só foram reprimidos em 1949 pelas tropas governamentais.
O tratado de Paris - assinado com a Itália em 1947 - deu à Grécia as ilhas de Rodes e do Dodecaneso, mas não modificou o estatuto de Chipre cujas agitações perturbaram as relações Grego-Turcas. Desde então à Grécia vem dando ênfase à sua política de entendimento com o ocidente.

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